A revolução digital e o impacto na agricultura

Roberto Okumura
Venturus
Published in
7 min readMay 20, 2019

A produção de alimentos tem uma importância enorme sob o futuro da humanidade. Segundo dados da FAO, há estimativas que apontam que atingiremos a marca de 9.6 bilhões de pessoas no planeta pelos anos 2050 e a produção de alimentos terá que crescer cerca de 70% em relação à produção atual. Este crescimento na produção será necessário independentemente da superfície de cultivo e utilização da água destinada à produção, visto que o aumento de áreas cultivadas possui um limite. O Brasil, com a sua área de produção e as tecnologias já empregadas, é hoje um dos principais atores deste cenário, senão o principal.

Dentro deste cenário, um dos principais ativos existentes para atingir a meta de aumentar a produção agrícola mundial além da genética, biotecnologia, produtos químicos e biológicos mais eficientes se refere à utilização das novas tecnologias da revolução digital.

O assunto retratado neste artigo busca entender como as novas tecnologias e conceitos utilizados na área de tecnologia e computação podem auxiliar no processo de melhoria e aumento das informações relevantes aos gestores e administradores da produção agrícola.

A grande característica do momento contemporâneo não é utilizar uma tecnologia específica, ou o tempo entre o desenvolvimento e adoção da tecnologia, mas a integração por meio de plataformas computacionais que conectam o mundo digital e o mundo físico em tempo quase real, tendo como característica a mudança, não somente de como nos relacionamos com o mundo, mas como o interpretamos e o organizamos.[1]

O presente e o futuro da agricultura passa por esse conceito, e isso tem a ver diretamente com produtividade, desempenho e sustentabilidade. A agricultura digital une temas como: agricultura de precisão/sensores, Internet das Coisas(IoT), conectividade com a nuvem, Inteligência Artificial, Big Data, dados de satélites, drones e análises de dados.

A agricultura tradicional sempre se utilizou de dados históricos das atividades de produção para a tomada de decisão dos gestores, entretanto a coleta desses dados sempre apresentou dificuldades tanto na coleta em si, quanto na forma de armazenamento das informações. Além disso, em muitos casos, a informação necessária pelo pessoal de campo, nem sempre estava facilmente disponível. Com a agricultura digital, esses dados históricos podem ser obtidos de uma maneira mais fácil (com a menor necessidade de intervenção humana), rápida e permite o cruzamento de diferentes informações que, a princípio, poderiam parecer ser totalmente desconexas, mas que podem trazer informações muito relevantes à produção agrícola.

“A agricultura digital permitirá o emprego de algoritmos e Big Data no mundo rural e que se obtenha o máximo de produtividade em cada hectare e saco de semente cultivado pelo agricultor, ao mesmo tempo em que contribuirá para reduzir a pressão exercida sobre os recursos naturais e o meio ambiente”, segundo o presidente da Monsanto para a América do Sul, Rodrigo Santos.

Dentro desta perspectiva, tomei a liberdade de listar abaixo algumas das possibilidades de tecnologia a serem empregadas no agronegócio, nas mais diferentes atividades, culturas e fases do processo, a fim de ter uma idéia da variedade de temas que as novas tecnologias podem influenciar e ajudar na produção agrícola:

- Sensores/IoT/Conectividade:

Irrigação:

Monitoramento das condições hídricas da fazenda, onde o administrador pode ter informações em tempo real do nível hídrico do solo, umidade do ar, a necessidade de irrigação, monitoramento de vazão, temperatura monitoramento dos bicos de irrigação.

Pragas e Doenças:

Montar armadilhas das pragas conhecidas de cada cultura e monitorar o nível de frequência de insetos e utilizar esta informação para decisão da aplicação de defensivos agrícolas ou quaisquer outros métodos de controle de pragas.

Estufas/ambientes protegidos:

Aqui o conceito de IoT (Internet das Coisas) é extensamente utilizado. Cada cultura e cada manejo possui as suas diferentes características e necessidades. Um produtor poderia controlar/monitorar grande parte do ciclo de cultivo de maneira instantânea. Controle e acompanhamento da irrigação, acompanhamento da temperatura e umidade relativa do ambiente, níveis de radição, entrada e saída dos ambientes. Ativação e desativação de aberturas, controle de temperatura e outros impactos. Armazenamento de dados para acompanhamento de impactos do ambiente no histórico da produção.

Avicultura/Controle de animais

Monitoramento e controle de aves. No caso das granjas, normalmente utilizam-se de galpões onde informações online de umidade do ar, temperatura, nível de stress dos animais, abastecimento de alimento e muitas outras informações podem ser controladas e informadas online utilizando sensores e mecanismos de ação, além de informações armazenadas de todo o processo, que pode estar disponível online para os admistradores.

- Conectividade:

Comercialização de produtos agrícolas:

Plataforma online de negociação de produtos agrícolas onde o produtor poderia ofertar/vender os seus produtos, cortando a presença de intermediários. Permitiria a venda de produtos direto aos interessados. Favorecimento tanto do produtor como do comprador, diminuindo a necessidade de escoamento dos produtos até os ceasas. Análise de dados coletados para detectar dados de demanda, sazonalidade da produção e outros valores. Exemplo: No caso mais específico de hortícolas, frutícolas, poderia haver negociação direta entre produtor e potenciais compradores (varejões, supermercados, restaurantes).

- Inteligência Artificial/Machine Learning/BigData:

Controle e monitoramento de máquinas agrícolas:

Sensores e informações online das máquinas de uma propriedade. Manejo e otimização das rotas, utilizando algoritmos de logística. Informações online sobre manutenção e problemas das máquinas. Monitoramento da posição geográfica, rotas executadas e eficiência do serviço.

Plantas:

Descobrir padrões das doenças das plantas em cada cultura e conseguir definir medir o impacto nas plantações. Apoio na tomada de decisão nos métodos a serem empregados de acordo com as informações coletadas.

Evitar desperdício de pulverizações, diminuir o impacto ambiental, redução de custos (desde o custo do produto, mão de obra, custo de máquina).

Veterinária:

Identificação de doenças através de imagens. Determinar e checar as condições de alimentação, distribuição de água, nívies de stress, temperatura e outros dados. Acompanhamento da produção, e detecção de fatores que possam estar influenciando a produção dos animais .Antecipar tratamentos profiláticos e atuação na prevenção de problemas alimentares.

Cálculo da melhor fórmula de ração, com otimização de custos.

Drones/Imagens de Satélites:

Utilização de imagens de satélite, tanto para previsão, monitoramento, estimativas. O administrador tem a possibilidade de antecipar previsões, estimativas e dados da cultura.

Imagens de satélites, permitem ter uma previsão mais acurada de safra total tanto no geral, como especificamente da própria propriedade. Isso facilita muito a tomada de decisões no que tange a armazenamento, venda e colheita de produtos, especificamente dos produtos não perecíveis.

Utilização de drones no meio agrícola permitem uma série de outros serviços para facilitar e melhorar o processo produtivo. Agrupar fotos e imagens e com isso criar mecanismos de IA/Machine Learning, afim de obter dados e detectar padrões que possam auxiliar no processo de decisão do administrador rural. Verificar a necessidade de pulverizações (controle de doenças e pragas), necessidade de irrigação, adubação ou até mesmo, informações de ações que poderiam ser detectadas antecipadamente. (ação no caso de ladrões, animais da fauna que estejam atuando na lavoura).

Realidade Aumentada:

- Paisagismo:

Utilização de técnicas de realidade virtual a fim de simular situações e detalhes. Utilização de técnicas de machine learning afim de identificar plantas e espécies.

Ou seja, existem milhares de outras situações em que a utilização da tecnologia possa ser utilizada no campo com o intuito de facilitar e prover informações na tomada de decisão do agronegócio, mas o objetivo não foi de indicar alguma técnica detalhada das atividades que possam ser implementadas no campo nem indicar uma novidade exclusiva. Mas, salientar a quantidade de diferentes pontos da cadeia produtiva que possam ser beneficiados com o uso da tecnologia da informação (desde planejamento, preparo, produção, comercialização, mão-de-obra), gerando produtos de apoio à agricultura de precisão. Podemos notar que muitas das tecnologias que podem favorecer o gerenciamento e controle das atividades agrícolas são muito semelhantes entre si. Exemplo: irrigação afetaria desde grandes culturas, produtos de hortifrúti ou frutas. O que varia entre as diferentes tecnologias são detalhes de cada tipo de cultura, a escala de produção (se hortícolas ou culturas como soja, milho) e também as especificidades de adubação, irrigação e doenças. Mas em termos de tecnologia, boa parte do processo é bastante semelhante.

Diz o velho ditado popular : “ O olho do dono é que engorda o gado”. O empreendedor precisa ter informações diretas e precisas sobre o negócio a fim de tomar as decisões corretas para a sua atividade fim. Sem dúvida alguma, a revolução digital no campo já está ocorrendo e ela veio para ficar. “ O olho do dono nunca teve a oportunidade de ter uma gama tão grande de informações disponíveis, de maneira tão rápida, para engordar ainda mais o seu “gado”, de maneira eficiente e com menores impactos sobre a natureza”

O Brasil possui uma agricultura de ponta, buscando a eficiência na produção, ao mesmo tempo que possui desenvolvedores e conhecimento da tecnologia para alavancar a revolução tecnológica da agricultura. A revolução digital no campo chegou para ficar e está de fato mudando e ajudando a fazer o agronegócio alavancar em um ritmo nunca visto antes.

[1]CEREDA JUNIOR, A. Agricultura Digital 4.0: Ação na Tomada de Decisão. Revista Canavieiros, Ano XII, n. 152, ISSN 1982–1530, fev. 2019.

[2] https://www.redeagroservices.com.br/noticias/riscos-hortifruti — 6 riscos que prejudicam o negócio de hortifrúti

[3] https://www.nsiserv.com/blog/how-technology-in-agriculture-is-shaping-the-future-of-the-industry

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Roberto Okumura
Venturus
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Analista de Desenvolvimento no Venturus Centro de Inovações Tecnológicas. Também formado em Engenharia Agronômica.