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Internet das Coisas na Indústria

Sylvio Alves
Venturus

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Desde o surgimento da internet, a ideia de ter uma rede de dispositivos como ar condicionado e TVs conectadas já era real. E a internet das coisas representa isso: a inteconexão de diferentes dispositivos numa infraestrutura de internet. A internet das coisas tornou-se uma realidade não somente com a alta disponibilidade da rede, mas também com o surgimento de sensores pequenos e da computação na nuvem.

E a área de manufatura também se beneficia disso: A disponibilidade de mais dados do processo resulta em maior monitoramento e consequente melhoria das operações. A IIoT, do inglês Industrial Internet of Things, é a versão industrial da internet das coisas e consiste em ter um ecossistema onde máquinas conectadas enviam dados para uma plataforma de análise de dados. Isso permite otimizar o uso de energia, melhorar o sistema de segurança com notificações mais efetivas, redução de gastos com infraestrutura e automação de processos. A possibilidade de monitorar o processo produtivo remotamente e em tempo real também abre uma nova janela para as fábricas inteligentes do ponto de vista de negócios. Oferecer serviços remotos e suportar customização de produtos estão entre elas.

No Brasil, uma pesquisa realizada pela ABII (Associação Brasileira da Internet Industrial) envolvendo 84 empresas, mostra que apenas 29% conhecem a tecnologia e que 65% não tem nenhum programa de IIoT em andamento. Ainda, 52% responderam que tem intenção de implementar projetos que usam a tecnologia somente nos próximos anos. A pesquisa mostra também que os grandes impulsionadores da internet industrial são os executivos de operação e líderes da TI. O segmento automotivo e de manufatura são os mais relevantes nesse contexto.

A inserção da internet das coisas em ambiente industrial possibilita que diversas áreas operacionais passem por uma transformação digital positiva. No chão de fábrica, a IIoT permite contornar pontos falhos existentes entre o ERP e o MES, evitando a inserção de dados manuais e falta de detalhamento do processo. De acordo com relatórios da IBM, extrair informações analíticas do processo produtivo podem aumentar em até 20% a capacidade produtiva de uma linha.

Equipamentos Monitorados

É possível aumentar a produtividade de uma máquina entre 10 a 25% aquisitando dados relevantes como velocidade de operação, tempo de ciclo, quantidade produzida, etc., através de sensores, SCADA ou DCS. Os dados são enviados e processados por um servidor que é capaz de gerar resultados e análises dos equipamentos. Esses são então disponibilizados para os usuários via web ou app através de métricas como eficiência (OEE), tempo de setup, paradas, etc. Além de contribuir com ganhos na eficiência dos equipamentos, a IIoT também permite colher informações sobre a utilização de recursos industriais que resultam em menos manutenção, maior confiabilidade e menor taxa de erro. Uma análise feita pela Deloitte mostra que é possível reduzir a manutenção de máquinas em até 40% a partir de dados em tempo real. A análise dessas informações juntamente com algoritmos de machine learning tornam possível prever comportamento anormal do equipamento. Cientistas de dados usam padrões como referência para criar modelos preditivos e assim detectar falhas antes mesmo de ocorrerem.

Logística e Rastreabilidade

A IIoT permite que empresas tornem o gerenciamento da cadeia de suprimentos mais inteligente através do rastreamento em tempo real de qualquer objeto, seja ele um recurso fabril, produto sendo fabricado ou até mesmo um caminhão de entrega. Além rastrear as propriedades de cada item, é possível monitorar as condições atuais de objeto antes mesmo de chegarem ao seu destino final. Considere o caso de uma empresa farmacêutica que precisa despachar um produto que precisa ter a temperatura controlada. Um sensor anexado no interior do container permite que o fabricante receba informação de qualquer desvio de temperatura, permitindo que a transportadora tome uma ação para resolver o problema.

O desafio de enfrentar a transformação digital frente ao uso de IoT nas indústrias inclui alguns obstáculos que ainda são muito questionados por empresas. Questões como segurança de dados e privacidade são delicados. A dificuldade em comprovar o ROI e a necessidade de integração com máquinas antigas também existem. Vejamos alguns pontos em detalhes:

Segurança da informação

As oportunidades apresentadas pela IoT tem um grande desafio pela frente em relação à segurança e privacidade. Manter dispositivos conectados constantemente significa que constantemente eles podem estar sendo monitorados. Um exemplo disso são smartwatches e wearables que acompanham o dia-a-dia de usuários e que fornecem informações sobre seu estilo de vida mas que não há interesse em ser compartilhado. O fato é que ter dados expostos sem permissão é uma vulnerabilidade. E com o elevado crescimento da IoT, o número de ataques cibernéticos tende a crescer. Dados do Gartner mostram que 20% das empresas já sofreram ataques durante os últimos 3 anos e ainda projetam aumento para 25% no número de ataques que involvem dispositivos conectados no próximo ano.

Investimento e ROI

O esforço em tornar uma indústria inteligente requer investimentos em várias categorias que vão desde a compra de hardware (scanners, sensores e gateways), armazenamento de dados e conectividade até a qualificação de pessoas em caráter técnico e administrativo. As empresas também precisam considerar o tempo para implementar a solução e quanto tempo será necessário para ter retorno do investimento. De acordo com a ABII, a dificuldade em comprovador o ROI é o maior obstáculo para investimento na tecnologia. A cultura conservadora de diretores é o segundo item nessa lista.

Falta de profissionais qualificados

Uma pesquisa levantanda pela Inmarsat revelou que 72% das empresas ao redor do mundo tem carência em pessoas qualificadas com experiência em IoT. O estudo também aponta que 80% dos profissionais empregados não tem habilidades com a tecnologia. A demanda são nas áreas de segurança da informação, big data, eletrônica e software embarcado, inteligência artificial e analytics. Estes dados mostram que o mercado não tem capacidade de absorver todo o potencial que a IIoT pode oferecer.

Integração com sistemas legados

Uma das grandes dificuldades em inserir soluções IoT no chão de fábrica é adaptar a nova tecnologia com sistemas antigos. No passado, a infraestrutura da rede gerenciada pelo TI tinha outro objetivo em relação ao ecossistema da fábrica atual. A adoção da internet das coisas industrial requer integração entre TI e OT (operational technology) de forma segura e transparente. Garantir que essa convergência resulte em uma operação segura e consistente é o desafio.

A IoT industrial ajuda empresas de manufatura a maximizar a produtividade através da redução de custos e eliminação de disperdícios. Através da análise dos dados extraídos da produção, fabricantes passam a compreender em detalhes o ecossistema do processo, possibilitando melhorar estimativas de produção, tempo para comercialização e até a experiência do consumidor. No entanto, considerando-se a escala e complexidade das iniciativas da IIoT, o sucesso da adoção da tecnologia requer planejamento de implantação e execução bem definidos.

Fontes:
Associação Brasileira de Internet Industrial: https://www.abii.com.br
Gartner: https://www.gartner.com/en/information-technology/insights/internet-of-things
Inmarsat Research Programme: http://research.inmarsat.com/download/
Every Angle: http://everyangle.com/downloads/v2/five-painful-supply-chain-issues.pdf
Deloitte: https://www2.deloitte.com
Harbor: https://www.harbor.com.br

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Sylvio Alves
Venturus

engenheiro de automação e sistemas embarcados