A participação de uma terceira parte em negociações de jogadores

Investidores costumam aparecer em negociações, mas existem regras para isso

Rafael Bizarelo
Venzo Media
4 min readSep 3, 2019

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Tevez e Mascherano sendo apresentados pelo West Ham (Foto: Actionimages/Reuters)

No último dia de agosto de 2006, o West Ham anunciou a contratação de dois argentinos que ficariam na história do futebol. Javier Mascherano e Carlos Tévez saiam do Corinthians, que havia sido campeão brasileiro, com muita estima, principalmente o atacante, já que este havia sido o melhor jogador do Brasileirão de 2005. Mascherano chegava também em alta, mas não teve muito destaque em Londres e se mudou para o Liverpool no meio da temporada. No entanto, a passagem dos argentinos não foi marcada apenas por suas atuações, mas também por um escândalo que gerou reviravoltas na tabela da Premier League.

O empresário Kia Joorabchian é um dos protagonistas da história. Em 2004, foi criado o Media Sports Investment (MSI), grupo de Kia e de outros sócios. Juntos, eles fecharam um acordo com o Corinthians para investir mais de 50M de libras no clube e em reforços, entre eles, Tévez e Mascherano, que se tornaram atletas com parte de seus direitos vinculados ao empresário iraniano e a oligarcas russos como Boris Berezovsky e Arkady Patarkatsishvili, isso porque as transferências com a ajuda de uma terceira parte eram (e ainda são) algo comum na América do Sul.

Os jogadores assinaram foram para o West Ham com a promessa de que eles poderiam se juntar a outro clube depois de uma data. O problema geral da situação existe quando os oligarcas donos de parte dos direitos dos jogadores deixaram o West Ham como investidor passivo, fazendo deles os investidores majoritários. Assim, eles teriam controle completo na próxima transferência de Tévez, o que não era permitido pela Football Association, pois sua regras não permitem que uma terceira parte possa ter influência nas políticas e performance de equipes.

Na briga pelo rebaixamento, o West Ham foi salvo por Tévez em algumas oportunidades na Premier League. No final de abril de 2006, o clube foi dado como culpado por agir impropriamente nas transferências de Carlos Tévez e Javier Mascherano, e deveriam pagar uma multa de 5,5M de libras para a FA. O Sheffield United, rebaixado naquela temporada, entrou também com uma ação contra o West Ham, e o tribunal da Football Association foi a seu favor com o argumento de que eles não tinham dúvidas que o West Ham não teria conseguido pelo menos três pontos se Carlos Tévez não estivesse em campo. Para ficar na Premier League, o West Ham chegou a um acordo fora da corte com o Sheffield United, em que os londrinos pagariam 20M de euros para o Sheffield manter o resultado de campo. Tévez, então, seguiu o seu rumo para o Manchester United, enquanto a FA baniu as negociações envolvendo uma terceira parte em 2008.

O caso recente

Arrascaeta em sua apresentação pelo Cruzeiro (Foto: Divulgação)

No final de agosto, tornou-se pública a ação judicial promovida pelos Supermercados BH contra o Cruzeiro, em que a empresa cobra 25% do valor da transferência de Arrascaeta para o Flamengo. Esse acordo entre a rede se supermercados e o clube de Minas Gerais foi feito na compra do jogador uruguaio, já que Pedro Lourenço, dono dos Supermercados BH e conselheiro do Cruzeiro, cedeu 6 milhões de reais para o clube comprar Arrascaeta junto ao Defensor em janeiro de 2015, e em troca, ele receberia 25% de uma futura transferência. Porém, acordos como esse já estavam proibidos pela FIFA nessa data, o que fez a CBF pedir explicações ao Cruzeiro.

Cláusula do acordo com os Supermercados BH

Os jornalistas Rodrigo Mattos e Thiago Fernandes divulgaram no UOL imagens do acordo de transferência do jogador e também que o ex-presidente do Cruzeiro, Gilvan Alves Pinho, quando questionado pela reportagem, disse que acreditava que o acordo era permitido pelas regras da FIFA, porém, a entidade proibiu a venda de direitos de jogadores para terceiros em 22 de dezembro de 2014.

Gilvan diz também que Pedro Lourenço sempre ajudou o clube e que esse foi mais um dos casos. O problema não é esse, e sim os 25% que ficaram com a empresa. A presença de um mecenas em uma negociação não é algo proibido, e é algo que é fundamental para alguns clubes brasileiros fazerem uma grande negociação.

Assinatura de Gilvan de Pinho Tavares, então presidente do Cruzeiro e de Pedro Lourenço de Oliveira, dono dos Supermercados BH e a data do acordo

A CBF já cobrou explicações do Cruzeiro e o departamento de registro de jogadores preparou um relatório para a Câmara Nacional de Resoluções de Disputas, que julga as punições aos clubes que desrespeitam as regras da FIFA. Pela regras da entidade, o Cruzeiro deve fornecer todas as informações para esta.

A questão está aberta, e pode resultar em punições severas como multa e perda de pontos ou até em nada, e terminar em feijoada.

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