Chelsea busca estabilização e melhora sob comando de Frank Lampard

Ídolo em Londres, Lampard volta ao Chelsea para colocar o clube no eixo

Rafael Bizarelo
Venzo Media
6 min readOct 29, 2019

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Frank Lampard sendo anunciado oficialmente como treinador do Chelsea (Foto: Reuters)

A temporada 2018–2019 foi de altos e baixos para o Chelsea. O time comandado pelo italiano Maurizio Sarri não conseguiu sucesso no cenário nacional, terminando na 3ª colocação da Premier League, mas com 25 pontos a menos que o Liverpool, 2º colocado da competição. Além disso, no final do campeonato, a briga para não se classificar para Champions League foi incrível. Além dos azuis, Tottenham, Arsenal e Manchester United perdiam e empatavam jogos considerados fáceis, dando cada vez mais espaço um para o outro.

Sarri enfrentou problemas em um ataque que ainda contava com Hazard, que foi um dos poucos do Chelsea que teve uma grande temporada. Jogadores como Morata, que saiu para o Atlético de Madrid, Willian e Pedro não renderam o suficiente sob comando do italiano. Nem mesmo Higuaín, que assinou por empréstimo, fez o time melhorar muito. Até Kanté, campeão do mundo com a França, não fez uma grande temporada.

No final da temporada, o derby contra o Arsenal na final da Europa League serviu para presentear Sarri com uma taça antes de deixar a Inglaterra. A goleada por 4–1 contra um perdido Arsenal do técnico Unai Emery, que ainda não se encontrou em Londres, não alimentou as esperanças do torcedor dos Blues para a temporada seguinte, que começaria sem Eden Hazard, que acertava a sua saída para o Real Madrid, sem Maurizio Sarri, praticamente acertado com a Juventus e sem poder fazer novas contratações, já que o clube foi punido pela FIFA até janeiro de 2020.

Chelsea campeão da Europa League (Foto: Lee Smith/Reuters)

Na temporada 18–19, o Derby County terminou a Championship, segunda divisão inglesa, na 6ª colocação, conseguindo a classificação para os playoffs. Em 46 jogos, a equipe somou 74 pontos, sendo a última dos classificados para a fase seguinte. Era Frank Lampard levando os Rams para frente.

Os playoffs da Championship consistem em um mata-mata de 4 equipes, consagrando o vencedor com o acesso. Os duelos nas semifinais eram entre West Brom x Aston Villa e Leeds United x Derby County. O Aston Villa, com dois gols marcados fora de casa, passou para a final no agregado de 3–3.

O Leeds, do icônico Marcelo Bielsa, havia terminado o campeonato na 3ª colocação, com 83 pontos. No primeiro jogo, em Derby, 1–0 para os visitantes. A confiança era tão grande por parte dos vencedores que os torcedores fizeram uma paródia da música “Stop Crying Your Heart Out”, do Oasis, mas com os dizeres “Stop Crying Frank Lampard”, que em tradução literal seria algo próximo de “Pare de Chorar, Frank Lampard”. O jogo de volta, em Leeds, foi surpreendente. Com a derrota no primeiro jogo, o 3–2 não classificava o Derby, até que Jack Marriott, que havia entrado no lugar de Duane Holmes para marcar um gol aos 45 minutos, decidiu marcar mais uma vez, mas agora aos 85 minutos, colocando o Derby na final contra o Aston Villa. Assim, a música que antes era zombação dos torcedores do Leeds, viraram festa do elenco do Derby e do próprio Frank Lampard.

A festa não duraria tanto, já que Anwar El Ghazi e John McGinn marcariam os dois gols do Aston Villa na final, deixando o Derby na Championship por mais uma temporada.

Comemoração de jogadores e comissão do Derby County após a classificação contra o Leeds United (Vídeo: The Guardian)

O trabalho de Frank Lampard no Derby com jovens jogadores para diminuir gradualmente, sem dispensar todos os jogadores mais velhos instantaneamente, mas ainda os mantendo para ter jogadores experientes em seu elenco. Lampard levou jogadores de grandes clubes da Premier League para o clube por empréstimo, como Harry Wilson, do Liverpool, e Mason Mount e Fikayo Tomori, ambos do Chelsea. Suas outras contratações foram importantes para o clube, principalmente a de Jack Marriott, autor do gol da classificação para a final dos playoffs da Championship.

Necessitando de um técnico, o Chelsea viu Lampard como o treinador ideal para a equipe naquele momento. A liderança do treinador era um dos aspectos que eram mais bem vistos pelo clube, além do seu passado histórico pelo clube em que é ídolo. E sem poder contratar, Frank Lampard teria Mount e Tomori, que haviam melhorado sob seu comando no Derby, para jogar em Londres.

O Chelsea não é um clube conhecido por aproveitar muito bem seus jogadores mais jovens. Muitos deles acabam emprestados para clubes menores, principalmente o Vitesse, da Holanda, que possui uma afiliação com o Chelsea. Por não poder contratar, a temporada 19/20 seria uma boa oportunidade para colocar jogadores como Mount, Tomori, Hudson-Odoi e Abraham para campo.

No Chelsea, Lampard optou por usar a formação mais usada por um de um de seus grandes treinadores: José Mourinho. O 4–2–3–1 foi usado pelo inglês também no Derby County em 57% dos jogos, e sua confiança estava alta para que o esquema funcionasse nos Blues.

Os laterais são bastante ofensivos. Alonso e Azpilicueta avançam bastante, criando jogadas nas laterais e esperando os pontas entrarem na área para marcar. O meio campo de Mateo Kovačić e Jorginho, mas com Kanté jogando no lugar do croata até a 4ª rodada da Premier League, pode oferecer muito espaço quando o time avança bastante, porém, mostra-se evoluído após a mudança de treinador. Jorginho é o meia que volta para oferecer uma oportunidade de passe para os zagueiros no início da jogada, enquanto procura espaço para efetuar passes para o campo ofensivo do Chelsea.

Mason Mount é quem ajuda a manter e a ditar o ritmo ofensivo do Chelsea, jogando muitas vezes como um camisa 10. Os pontas, Willian e Pedro (Pulisic) avançam mais para a parte central do campo ofensivo com o objetivo de tabelar com os laterais avançados. Abraham e Giroud são atacantes que ajudam a Mount avançar para deixar jogadores como Pulisic terminarem a jogada. Na vitória por 4–2 contra o Burnley, essa ideia deu certo, gerando um hat-trick perfeito (esquerda, direita e cabeça) de Pulisic.

Escalação do Chelsea na vitória por 4–2 contra o Burnley

Defensivamente, o Chelsea busca pressionar o adversário para recuperar a bola, gerando até o avanço dos laterais, algo perigoso que pode acabar no contra-ataque rápido e nas costas de Alonso e Azpilicueta. Ainda assim, o Chelsea também pode defender em blocos defensivos, com os quatro defensores e os 4 jogadores de meio campo, incluindo os pontas, na defesa, e com Jorginho entre eles. É dessa forma que esses jogadores de meio de campo podem avançar para pressionar o adversário e recuperar a posse de bola.

Erros e espaços deixados na marcação podem ocasionar em uma goleada como a de 4–0, aplicada pelo Manchester United ainda na 1ª rodada da Premier League. Não foi uma partida horrível do Chelsea, mas sim uma com erros e espaços deixados pela defesa, e que os Red Devills souberam aproveitar.

Jogo após jogo, os jogadores do Chelsea parecem se acostumar com o futebol que Lampard propõe para o clube em que é ídolo, e mesmo que o elenco do Chelsea não seja parelho ao de Manchester City e Liverpool, ele deve terminar entre as cabeças do campeonato, e com Frank Lampard melhorando o seu trabalho.

Lampard comemora vitória do Chelsea por 4–2 sobre o Burney (Foto: BBC)

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