Desorganização é a palavra que resume o Fluminense em 2019

Tricolor briga para não cair mais uma vez em ano pavoroso

Rafael Bizarelo
Venzo Media
9 min readOct 23, 2019

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Zagueiro Frazan comemora o primeiro gol da derrota por 1–2 contra o Athletico Paranaense (Foto: Lucas Merçon/Fluminense FC)

Mais um Brasileirão chega em sua reta final com o Fluminense perto da zona de rebaixamento. Virou rotina em todo final de campeonato abrir a minha conta no Medium para falar sobre o péssimo ano do tricolor, mas dessa vez a premissa é um pouco diferente.

O Fluminense anunciou a contratação de Fernando Diniz já em dezembro de 2018, o que pareceu algo promissor, mas que evidenciou a falta de planejamento da gestão de Pedro Abad, que tinha Marcelo Oliveira como treinador. Não é fácil entender o que o ex-presidente pensou quando contratou os dois técnicos, que tem ideias totalmente diferentes de futebol.

Marcelo Oliveira treinou um Fluminense que chegou a ficar mais de 13 horas sem marcar um gol. Seu time não balançava a rede, não vencia, não tocava a bola e talvez nem jogasse futebol. A demissão do treinador após a eliminação contra o Athletico Paranaense na Copa Sul-Americana se mostrou necessária, e talvez foi um dos poucos acertos de Pedro Abad em seus anos como presidente do Fluminense. A missão de salvar o tricolor do rebaixamento ficou para o auxiliar Fábio Moreno, que sentiu calafrios com o pênalti defendido por Júlio César e vibrou após o gol de cabeça salvador do volante Richard.

Partir da falta de futebol para jogar um futebol que tem a posse de bola como maior característica deixa claro que Abad não sabia o que estava fazendo. Talvez ele não sabia que ao propor um futebol como o de Diniz, o clube não pode passar pelas condições financeiras do Fluminense, que vendeu os seus melhores jogadores no meio do ano para pagar suas dívidas.

Além disso, também deve ser notado que o time do Fluminense fica bem abaixo de equipes como o Flamengo e o Palmeiras, que tem condições de manter as ideias de um treinador como Fernando Diniz. Até mesmo o Santos de Jorge Sampaoli, treinador de clube brasileiro com a proposta de jogo mais próxima de Diniz, chega a oscilar, ainda que as financias e o elenco do alvinegro sejam melhores que o do Fluminense.

No Campeonato Carioca, o time surpreendeu mesmo sem título, já que com um elenco de jogadores jovens, desconhecidos ou sem mercado, conseguiu jogar um futebol vistoso. Jogadores como Matheus Ferraz, que era conhecido por ser um zagueiro sem muita habilidade, apareceram no Fluminense jogando muito bem, e isso se deve muito ao que o treinador fez com eles. Diniz mostrou que jogar futebol mesmo que como trabalho pode ser prazeroso. Ele fez com que Caio Henrique, antes meia atacante no Paraná, conhecesse o futebol na lateral-esquerda, posição que o jogador jogou na Seleção Olímpica na vitória por 4–1 contra a Venezuela.

Escalação do Fluminense na vitória por 2–0 contra o Santa Cruz em partida válida pela Copa do Brasil

Antes do início do Brasileirão, o Fluminense enfrentou o Santa Cruz no Maracanã, vencendo-os por 2–0. A partida mostrou dois times de níveis completamente diferentes, visto que o Fluminense dominou a partida. Das 28 finalizações (12 no gol), o Fluminense conseguiu acertar duas na rede do Santa Cruz. A inconsistência e os problemas de Fernando Diniz no Fluminense começaram a ser mostrados na partida de volta, no Arruda, quando o clube carioca ofereceu muito espaço para o Santa Cruz e, mesmo com mais de 60% da posse de bola, perdeu a partida por 2–0, se classificando nos pênaltis.

O início de Campeonato Brasileiro foi um desastre para o Fluminense, que só conseguiu vencer na 3ª rodada, em um 5–4 de uma atuação fraca contra o Grêmio. Antes, uma derrota para o Goiás no Maracanã e outra derrota para o Santos, que destruiu o tricolor na Vila Belmiro. Foi apenas após perder o clássico para o Botafogo por 1–0 na 5ª rodada que o Fluminense pareceu se encaixar, já que fez três ótimas partidas seguidas, com duas goleadas por 4–1 contra Cruzeiro e Atlético Nacional.

Mesmo com as goleadas e com um início fulminante de João Pedro no time profissional, o Fluminense engatou uma série de oito jogos sem vencer, contando com um empate contra o Flamengo e uma derrota contra o Vasco.

O que estava claro em todos esses jogos sem vencer era a ineficiência do ataque do Fluminense. Luciano e Everaldo, que eram jogadores importantes no sistema ofensivo do tricolor foram vendidos para Grêmio e Corinthians, já que a diretoria não tinha dinheiro para atuar. Assim, Diniz se viu obrigado à inovar com jogadores de Xerém, como João Pedro e Marcos Paulo, além de receber a contratação de Lucão (do Break), Brenner e Ewandro, jogadores que não marcaram pelo Fluminense até hoje. Pedro voltava aos poucos de lesão, e Yony seguiu com sem marcar por muito tempo. A criação de jogadas com Caio Henrique, Ganso e Daniel funcionava, mas o ataque não. O time de Diniz não estava perdendo por jogar bonito, mas perdendo pelo nível baixo do clube.

Em junho, o cenário do Fluminense mudou. Uma eleição para presidente foi realizada, e a chapa de Mário Bittencourt, antigo diretor de futebol, e Celso Barros, ex-presidente da Unimed, venceu. A esperança de mudança fez com que o torcedor embarcasse na aventura de Celso Barros, que mostra não estar pronto para o futebol. Nos tempos de Unimed, sua função no Fluminense era fornecer o dinheiro, mas agora, sem Unimed e dinheiro, Celso não se mostra útil para o clube.

Mário disse que, se eleito, iria levar reforços de peso e um patrocínio master. Nada aconteceu. Se aconteceu, os reforços são Wellington Nem, autor de três gols em cinco anos, e Nenê, reserva do São Paulo. Chega a ser engraçado e maldoso com o torcedor. O presidente poderia simplesmente falar: “Se eleito, vai continuar assim, só que pior.” Eu o apoiaria apenas pela sinceridade, mas não foi o que aconteceu. Celso, logo que chegou, já ameaçou o cargo de Diniz, o que pareceu estranho por ser véspera de Fla-Flu e também porque ele deixou claro que, com essa ameaça, não entende de futebol e não ter capacidade de assumir um cargo relacionado ao esporte.

Entre trancos e barrancos, o Fluminense estava próximo da zona de rebaixamento, mas se classificando na Sul-Americana, passando pelo Peñarol com um agregado de 5–2. A pressão de Celso continuou nos bastidores do tricolor e, após a derrota por 1–0 em casa contra o CSA, Diniz foi demitido. O que veio em seguida mostrou a falta de preparo da dupla Mário-Celso. Eles tentaram Abel e Dorival, que rejeitaram o Fluminense. Sem técnico, o primeiro jogo das quartas da Sul-Americana contra o Corinthians terminou no 0–0. Então, Celso levou para o Fluminense a brilhante ideia de contratar Oswaldo de Oliveira.

Em sua estreia, já na partida de volta contra o Corinthians, Oswaldo tentou preservar o estilo de Diniz, mas não obteve sucesso. O Fluminense não botava mais de 50 mil pessoas no Maracanã havia tempo, e o clima era de esperança, mas que foi cortado pela atuação esmagadora do Corinthians, que massacrou o Fluminense, que fez uma das piores partidas do ano até então. Nenê jogou de falso 9, Oswaldo escalou um 4–1–4–1 bizarro que até hoje não faz sentido, além de jogar com Yony González na parte de trás do campo por algum motivo. O empate por 1–1 não refletiu a atuação das duas equipes, mas premiou a que foi melhor, e o Corinthians eliminou o Fluminense.

Os seis jogos que se seguiram foram marcados por atuações melhores dos adversários e por vitórias por 1–0 e sofridas do tricolor. Nessas partidas, Ganso, camisa 10, armador e criador do Fluminense, se tornou um segundo volante. Oswaldo cometeu erros absurdos, incluindo sacar Daniel, um dos melhores jogadores do time no ano, apostando em Gilberto, que passa por uma péssima fase e escalando Ganso de forma errada.

A demissão de Oswaldo veio no empate por 1–1 contra o Santos, e não teria acontecido se não fosse por sua discussão com Paulo Henrique Ganso e pelos xingamentos do treinador dirigidos aos torcedores. Ganso, escalado fora de posição, foi substituído por Daniel, que deveria estar em campo. Saindo de campo, o camisa 10 chamou Oswaldo de burro, e foi chamado de vagabundo pelo treinador. Após a discussão, Ganso se mostrou ativo no banco de reservas, orientando o time mais do que o técnico, que parecia querer largar o time. Na saída para o vestiário, Oswaldo discutiu com torcedores do Fluminense e os xingou. A demissão se justificava não só pelo trabalho de Oswaldo, mas também pela sua péssima gestão e por ele ter xingado o torcedor tricolor.

Oswaldo de Oliveira e Paulo Henrique Ganso discutem após a substituição do meia (Foto: Maga Jr/Ofotografico/Lancepress!)

Com a demissão de Oswaldo, Mário Bittencourt decidiu efetivar Marcão, auxiliar e ex-jogador do Fluminense. O trabalho de Marcão continua com erros. No começo, a empolgação dos torcedores era algo normal, tendo em vista que o atual treinador é uma figura querida, sendo o 11º jogador com mais atuou pelo clube, com 397 jogos.

Três vitórias nos quatro primeiros jogos são dignos de comemoração, mas o desempenho da dupla Nino e Frazan na zaga estava piorando, e a primeira derrota iria chegar rápido. Foi assim que o Fluminense perdeu para o Athletico Paranaense por 2–1 no Maracanã, em uma partida que contou com Ganso de segundo volante mais uma vez, Wellington Nem entrando para ter um péssimo desempenho e João Pedro oscilando, o que é normal para um jovem jogador de 18 anos. Os três citados estiveram nos gritos dos torcedores durante o jogo, sendo Ganso e João Pedro os vaiados e Nem o idolatrado.

A idolatria por Wellington Nem é fácil de ser entendida. O Fluminense passa por um péssimo momento desde 2013, e a saudade que o torcedor tem do time campeão do Brasileirão de 2012 é enorme. Nem é tricolor e jogou muito bem no último título brasileiro do Fluminense, mas hoje não tem capacidade para ser titular do time. Ele não cria, não faz gols, não acerta passes importante e só corre. Ter velocidade no time é importante, mas ela sozinha não adianta de nada. Wellington Nem precisa melhorar urgentemente.

Paulo Henrique Ganso se tornou um dos jogadores odiados por imprensa e torcida, e tudo por análises que nem sempre batem com a realidade. Uma coisa é falar que Ganso não jogou bem no Fla-Flu, já que isso é sim uma verdade. Ele continua fora de posição, e jogando de segundo volante, como visto no mapa de posicionamento do SofaScore abaixo (Ganso é o 10), não irá render o futebol que ele tem para mostrar.

Posicionamento dos jogadores do Fluminense na derrota de 2–0 para o Flamengo

Falar que Ganso não jogou bem até agora é uma mentira. Ainda com Diniz, o Fluminense venceu o Internacional por 2–1 no Maracanã, e o meio de campo composto por Allan, Ganso e Daniel, todos em suas posições e fazendo suas devidas funções, foi muito importante para a vitória do tricolor. Ganso criou como nunca, assim como Daniel. O camisa 10 participou da jogada do segundo gol do Fluminense, que foi creditado como um gol contra.

Vai de cada um querer avaliar as atuações de um jogador como ruins apenas por não gostar dele e por não querer entender a situação em que o clube se encontra.

Na 28ª rodada, o Fluminense se encontra na 16ª posição, estando um ponto à frente do Cruzeiro, primeiro da zona de rebaixamento. A situação do Fluminense não é fácil, mas não era difícil de imaginar isso com a situação implantada tanto por Pedro Abad quanto por Mário Bittencourt e Celso Barros.

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