O contraste do VAR na Inglaterra e no Brasil

Árbitro de vídeo é muito bem utilizado na primeira rodada da Premier League e dá aula aos árbitros brasileiros

Rafael Bizarelo
Venzo Media
4 min readAug 13, 2019

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(Foto: Getty Images / Dan Mullan / Staff / WIRED)

O último final de semana marcou a volta da Premier League e a estreia do árbitro de vídeo na competição. O bom uso da ferramenta faz com que comparações sejam inevitáveis.

Se no sábado ao anular um gol de Gabriel Jesus na vitória do Manchester City por 5–0 contra o West Ham, a transmissão da Premier League mostrou ao vivo as imagens que os árbitros assistentes de vídeo estavam vendo, o mesmo não aconteceu na noite do mesmo dia no Maracanã quando o zagueiro Pablo Marí do Flamengo cometeu um pênalti ao puxar a camisa de David Braz, zagueiro do Grêmio. O árbitro Bráulio da Silva Machado foi para o monitor do VAR e acertou ao marcar o pênalti. Tudo estaria certo se acontecesse a mesma coisa no domingo, quando João Paulo puxou a camisa do jogador do Athletico Paranaense.

Na esquerda, o pênalti não marcado no domingo; na direita, o pênalti marcado cometido no sábado (Fotos: Rede Globo)

Com um erro grave tão escancarado, fica claro que o problema não está na tecnologia do VAR, e sim na qualidade dos árbitros que não seguem um critério comum para todos. Seria falta de instrução da CBF ou uma autonomia organizada por todos os árbitros do país?

Outra questão que atrapalha os jogos é a demora. Tornou-se comum ver jogos com cerca de 10 minutos de acréscimo nesse Campeonato Brasileiro, e isso acontece por conta do tempo levado para o árbitro de campo decidir o que fazer com a jogada. Parece até que eles estão assistindo uma gameplay ou o tutorial da CBF explicando o que é o VAR.

É lógico que também existe a natural frustração dos torcedores ao ver um gol anulado, por exemplo. Assim surgem as reclamações com o VAR, e elas são aumentadas por um simples motivo: a falta de confiança do torcedor na tecnologia. Se as milhares de câmeras de milhões de ângulos 2, 3 ou 4D do VAR fossem mostradas na televisão, o problema seria menor?

Não sei.

Sei que eu ficaria satisfeito ao ver uma imagem como essa abaixo, que mostra como Sterling estava impedido por poucos centímetros no gol anulado de Gabriel Jesus. Enquanto isso, as imagens de gols como o de Gilberto do Bahia contra o Flamengo na 13ª rodada foram liberadas dias após a partida ter sido realizada. A diferença é nítida.

Impedimento milimétrico no gol anulado do Manchester City no último sábado (Foto: Premier League/Goal)

Deve ser ressaltado também o fato de que as imagens da Premier League são geradas pela própria competição, enquanto as do Brasileirão são geradas pela Rede Globo e pelo Esporte Interativo, que adquiriu os direitos de transmissão de algumas equipes. Portanto, para as imagens do árbitro de vídeo serem mostradas em tempo real na televisão, deve existir um aval da CBF para as emissoras de TV usá-las.

Na Inglaterra, o VAR foi testado. No Brasil, ele foi jogado. Lá a tecnologia foi usada primeiro na Carabao Cup (Copa da Liga) e na FA Cup, além de ter sido usado na Champions League. O árbitro de vídeo aqui tem até os seus problemas para funcionar literalmente. Na vitória do Vasco contra o Goiás no domingo de dia dos pais, o VAR simplesmente desligou quando o árbitro Jean Pierre Gonçalves Lima foi até o monitor.

O árbitro assistente de vídeo se tornou também uma espécie de escudo para os árbitros de campo. O VAR não está ali para ser o árbitro da partida, e sim para auxiliá-lo nos lances mais difíceis. No Brasil, a arbitragem vem utilizando o VAR para qualquer coisa, o que banaliza a ferramenta. Além disso, ele é utilizado também para confirmar os erros de campo.

Para parecer que não estou batendo só nos brasileiros, também deve ser lembrada a expulsão pífia de Dedé contra o Boca Juniors na Libertadores de 2018. Após se chocar com o goleiro do time argentino, o árbitro paraguaio Eber Aquino foi até o monitor do VAR e deu o cartão vermelho para o zagueiro do Cruzeiro. Sem o jogador, o Cruzeiro foi eliminado pelo Boca.

A expulsão de Dedé na Libertadores 2018 contra o Boca Juniors (Foto: AP)

Erros acontecem, mas agora existe uma tecnologia para corrigi-los, e se esta não for usada corretamente, nada irá ajeitar os buracos do futebol. E não, o árbitro de vídeo não irá tirar a graça do futebol. Aliás, eu nem vou entrar nesse mérito, pois quando o VAR “ajudar” o time daquele que o critica, este ficará com um sorriso na cara.

Tudo ainda pode dar errado na Inglaterra, pois essa foi apenas a primeira rodada, assim como tudo ainda pode dar certo aqui no Brasil. Tudo está nas mãos da CBF, que não pode simplesmente jogar tudo para o alto e esperar um bom resultado no final. Falta treinamento e qualidade na arbitragem. A esperança que fica é a melhora e o bom uso da ferramenta.

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