Um treinador de respeito

Jorge Jesus, além de fazer a sua equipe vencer, faz também com que seus jogadores atingiam níveis ótimos de qualidade

Rafael Bizarelo
Venzo Media
7 min readSep 18, 2019

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Jorge Jesus, treinador em alta no Flamengo (Foto: Antonio Scorza / Agencia O Globo)

Jorge Jesus é um grande treinador. Quando o Flamengo anunciou a sua contratação, eu achei bastante inusitado, mas esperei algo interessante. Confesso que eu não esperava um resultado imediato, muito menos a situação atual do rubro-negro. O Flamengo é o atual líder do Brasileirão e se encontra nas semifinais da Libertadores, e mesmo sem levantar uma taça com o treinador português, tem sim um futebol que merece ser elogiado.

Além de ser um dos clubes mais estáveis financeiramente, o Flamengo soube usar muito bem o seu dinheiro. No início de 2019, Gabigol e Arrascaeta chegaram no Rio de Janeiro como duas grandes estrelas. O técnico do Flamengo era Abel Braga, que pediu para a diretoria do clube contratar Bruno Henrique, do Santos. Fazendo um marketing pessoal, eu falei sobre como as coisas não sairiam como planejado com Abel Braga ainda no dia 24 de janeiro, logo após o empate do Flamengo com o Resende na Taça Guanabara.

Após a saída de Abel, o Flamengo fechou com Jorge Jesus, e daí veio o foguete. Deve ser lembrado também que o time melhorou consideravelmente com as contratações de Pablo Marí, Rafinha e Filipe Luís, sendo esse último o lateral esquerdo titular da Seleção Brasileira na última Copa América. No Brasileirão, o Flamengo conquistou 25 pontos de 30 possíveis após o fim da Copa América. Nas quartas de final da Copa do Brasil, veio a eliminação nos pênaltis contra o Athletico Paranaense em pleno Maracanã. Já na Libertadores, o time de Jorge Jesus passou pelo Emelec nos pênaltis e venceu o Internacional por 3–1 no agregado, e agora só espera a partida contra o Grêmio nas semifinais.

O trabalho de Jorge Jesus, porém, não está restrito apenas aos bons resultados, mas também aparece na performance de seus jogadores. Os exemplos serão Willian Arão, Gérson e Gabigol, três jogadores que eu gosto de observar melhor quando assisto algum jogo do Flamengo.

Willian Arão

Destaque com Jorge Jesus, Arão mudou de função para se tornar um jogador fundamental para o Flamengo (Foto: Marcos Limonti/AM Press/Lancepress!)

A evolução de Arão nas mãos de Jorge Jesus é incrível. Antes da saída de Cuéllar, sua função ainda era de segundo volante, mas com a venda do colombiano para o Al Hilal, Arão se tornou primeiro volante, ou o “cinco” original. Por conta da alta intensidade do Flamengo com e sem a bola, Willian Arão consegue aplicar elementos mais ofensivos de sua função anterior, fazendo com que ele seja líder de interceptações, desarmes e passes certos no Flamengo, além de ter 94% de aproveitamento nos lançamentos.

“ O Arão eu sempre achei que tinha condições de jogar nessa posição que jogou contra o Santos. Durante 90 minutos, tem uma intensidade alta. Futebol não é só quando tem a bola. Jogador com mais tempo de bola no mundo é o Messi, quatro minutos. Arão é muito forte.”

Jorge Jesus

É curioso colocar nos destaques um jogador que já chegou a entrar na lista de odiados dos torcedores há alguns anos, mas o futebol que Willian Arão joga hoje é excelente. A tendência é que o rendimento de Arão só melhore, assim como o seu entrosamento com o segundo volante do Flamengo, que é o meu próximo destaque.

Gérson

Gérson comemorando gol no clássico contra o Botafogo (Foto: André Durão)

Gérson é um jogador versátil, ou seja, pode jogar em várias posições e fazer diferentes funções. No Fluminense, por exemplo, Gérson teve melhor desempenho como ponta pelo lado direito. No Flamengo, o Curinga faz hoje a função de um segundo volante, mas já jogou como o meia mais ofensiva na vitória por 3–2 contra o Botafogo, partida essa em que ele marcou um gol.

O próprio Jorge Jesus já falou que não entende como os italianos liberaram Gérson tão fácil. O sucesso de Gérson não chegou na Itália, mas deve vir no Brasil. A facilidade que ele teve para assumir a titularidade no Flamengo é incrível, e Jorge Jesus agora pode contar com dois volantes de qualidade que não ficam presos sem saber sair, que é como sua equipe joga.

Como disse Mozer, ídolo do Flamengo, esse Gérson que joga no rubro-negro é um jogador que o público brasileiro desconhecia. No Fluminense, ele ainda era novo, não tinha a força atual, mas tinha seu talento. Já na Itália, poucos o viram jogar, já que além de não ter muitas chances, seu futebol não prevaleceu por lá. Agora é outra história. Esse Gérson é outro jogador: mais forte, mais inteligente e mais versátil. Com só 22 anos, o Flamengo ainda pode aproveitar muito dele. Jorge Jesus descobriu esse Gérson.

Gabigol

Gabigol comemora gol levantando cartaz de torcedores (Foto: Gilvan de Souza)

É impossível escrever sobre o Flamengo de Jorge Jesus sem mencionar o nome de Gabriel Barbosa. Nos últimos 19 jogos, foram 20 gols. Os números de Gabigol explicam o motivo dele ser o maior destaque do Flamengo em 2019. Lógico que muito disso se deve a criação de jogadas por parte de jogadores como Arracaeta, Bruno Henrique, Everton Ribeiro e outros, mas o faro de gol do artilheiro é algo incrível. No Brasileirão, Gabigol participou de 15 jogos, marcando 16 gols e fazendo com que ele tenha uma média de 1 gol a cada 82 minutos (1.1 por partida).

Originalmente, Jorge Jesus não pretendia usar Gabigol como seu principal atacante, e sim como um ponta. O Flamengo foi atrás de Mario Balotelli, mas o italiano fechou com o Brescia, fazendo com que Jorge Jesus ficasse com Gabriel em seu ataque.

Mas ao contrário do que se pensa pela enorme quantidade de gols, Gabigol não joga como um camisa 9 efetivo e tradicional. O time de Jorge Jesus entra muitas vezes com Gabriel e Bruno Henrique formando uma dupla no ataque, tendo Arrascaeta e Éverton Ribeiro chegando para auxiliá-los. Assim, o Flamengo forma uma blitz que ainda conta com Gérson e os laterais Rafinha e Filipe Luís, que são dois dos melhores do Brasil.

A temporada do futebol brasileiro ainda está longe de acabar, e eu não estou confirmando que o Flamengo irá vencer algo, apenas mostrando o quão bom vem sendo o trabalho de Jorge Jesus. Até porque, o “Mister” mostra um trabalho de primeiro nível. E partindo um pouco para o gosto pessoal agora, ver um time que tem uma média alta de posse de bola no topo da tabela do Brasileirão é interessante. Jorge Jesus está vencendo sem jogar um futebol cabrunco.

Nomes como Filipe Luís e Rafinha não foram tão mencionados quanto mereciam, mas a importância de ter laterais do alto escalão europeu para jogar o Brasileirão é absurda. A experiência e as características aprendidas na Europa por ambos os colocam acima de laterais que ficam presos aos antigos pensamentos de como um lateral deve jogar no futebol brasileiro: atacando até a morte, deixando espaço para o contra-ataque, e voltando perdido apenas pensando em subir o campo mais uma vez, como uma bola de pinball.

Os zagueiros também são muito importantes para a solidez do sistema ofensivo e intensivo do Flamengo. Rodrigo Caio sempre foi subestimado em seus tempos de São Paulo. Sua contratação para a temporada atual foi um dos grandes acertos do início do ano. Sua dupla, Pablo Marí, tem sido uma grande arma de Jorge Jesus. O poder defensivo do espanhol é algo surpreendente, fazendo com que o treinador português seja mais exaltado por seu achado.

Já mencionados no tópico de Gabigol, as estrelas Bruno Henrique, Arrascaeta e Éverton Ribeiro são essenciais para o ataque rubro-negro, afinal, apesar do artilheiro ser outro, a jogada passa antes pelos pés deles. Bruno Henrique foi o artilheiro do Campeonato Carioca, Arrascaeta é o líder de assistências do Brasileirão, e Éverton Ribeiro é um excelente criador. É um forte sistema ofensivo.

Jorge Jesus tira o melhor do Flamengo pois ele fez o melhor do Flamengo.

Foto: Alexandre Vidal

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