Cultura de Massa

João Paulo Maciel
Wiki FAC
5 min readNov 21, 2015

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Resumo

Este verbete apresenta a descrição do termo “Cultura de Massa” por meio da conceituação, do histórico e dialogando com os autores como Adorno, Horkheimer, Lazarsfeld, Benjamim, Morin, Lima, Rabaça e Gadini. O objetivo dele é aprofundar na discussão sobre o conceito, questionar sua atualidade e relacioná-lo com a comunicação organizacional por meio de entrevistas com professores da área. Iremos percorrer desde os primeiros da Escola de Frankfurt até os principais autores do tema no Brasil.

Conceituação

Cultura de massa é um termo criado para denominar um fenômeno comunicacional observado na sociedade no contexto da Revolução Industrial. Trata-se de toda cultura produzida para as massas e veiculada pelos meios de comunicação de massa. Ela é a submissão das mais variadas expressões culturais a algo comum e padronizado, transformando-os em produtos pré-definidos para o consumo imediato. Consequência da indústria cultural, o conceito de cultura de massa aplica-se na homogenização cultural advinda de um aspecto dominador. Está ligada à manipulação e controle exercido pelos meios de comunicação. Neste ponto, existe uma super valorização do emissor (meios de comunicação) em relação ao receptor (público).

Vale ressaltar que a cultura de massa é diferente de “cultura erudita” e de “cultura popular”, mas engloba algumas de suas características, é um conjunto das mais variadas expressões culturais, como símbolos, mitos e imagens, esvaziando-as de seu conteúdo original, focando no que possui potencial para lucro, de forma a oprimir outras expressões culturais, desvalorizar e quase que apagá-las, dificultando a sua manifestação.

Os diferentes dicionários de comunicação quando se referem à cultura de massa, concordam quando tratam-a como mensagem dirigida a um grande público, anônimo e heterogêneo, por meio de diferentes veículos de comunicação.

Edgar Morin diz em Cultura de Massas no Século XX (1962), que cultura de massa é uma terceira cultura, oriunda dos grandes meios de comunicação com o rádio, cinema, televisão, sendo assim produzidas de forma padrão ao modo de atingir grandes públicos.

Cultura de Massa, isto é, produzida segundo normas maciças da fabricação industrial; propaganda pelas técnicas de difusão maciça(…)destinando-se a uma massa social, isto é, um aglomerado gigantesco de indivíduos compreendidos aquém e além das estruturas internas da sociedade (classes, família, etc.) (Morin, 1962)

Em seu dicionário, Carlos Alberto Rabaça, traz diversas características da produção da cultura de massa, como a utilização de clichês com ingredientes de maior audiência e de maior aceitação do públicos como os happy ends das telenovelas, a estereotipização das montagens e as repetições de velhos argumentos no cinema, a existência de organizações complexas nos sistema de mercado, a utilização de variados dispositivos tecnológicos, grandes audiências e ausência de dialogo entre o emissor e o receptor.

Histórico

No início do século XX, a Revolução Industrial promoveu um grande êxodo rural, com isso foi criada uma necessidade de mediação nas relações sociais, as quais se davam de modo direto anteriormente. A ampliação da população urbana, a necessidade de uma comunicação eficiente e os movimentos sociais trouxeram aos estudiosos um novo fenômeno denominado cultura de massa que seria a cultura produzida para grandes multidões. Esse termo foi criado na Escola de Frankfurt, onde os filósofos desenvolveram a Teoria Crítica, que busca analisar as condições sociopolíticas e econômicas nos fenômenos comunicacionais.

A partir da década de 1940, nos Estados Unidos, questão pouco freqüente entre ensaístas, pensadores e pesquisadores sociais tornou-se assídua entre suas publicações. Tratava-se da importância e conseqüências socioculturais das mensagens transmitidas por canais, dotados de alto poder de alcance e/ou reprodução (jornais, histórias em quadrinho, revistas de atualidades, rádio, cinema, disco, em breve, a fita magnetofônica e a TV). (Lima, Teorias da Cultura de Massa, 2000)

Este conceito foi questionado por Adorno e Horkheimer, que argumentavam que o fenômeno era produção cultural massificada e estandardizada realizada pela Indústria cultural, integrada pelos meios de comunicação de massa, com o foco no lucro e que guiava o gosto das massas com produtos de baixa qualidade, reduzindo a arte em bem de consumo. Walter Benjamin, em “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”, descreve este processo de produção massificada como uma perda da “aura”, que com o processo de produção se dilui nas cópias produzidas e, assim, corrompe a qualidade de objeto único e individual da qual a obra artística podia se revestir.

Anos depois, Edgar Morin diz que cultura de massa estava vinculada às sociedades tecnológicas e não só as capitalistas como Adorno e Hokheimer haviam afirmado. Morin falava em um terceira cultura, que seria produzida seguindo normas rígidas de produção, sendo propagada por técnicas de difusão em massa e destinada ao todo, não aos indivíduos, sendo assim uma cultura específica, de produção despersonalizada, mas com o consumo individualizado. Não se tratando também de um fenômeno a parte, mas de um que se integra e interage com outras culturas.

A cultura de massa integra e se integra ao mesmo tempo numa realidade policultural; faz-se conter, controlar, censurar (pelo Estado, pela Igreja) e, simultaneamete, tende a corroer e desagregar as outras culturas. (Morin, 1962)

Morin destaca três etapas da evolução da Cultura de Massa: a) de 1900 a 1930 — divertimento e evasão onírica; b) de 1930 a 1955 — criação de mitos de felicidade e de aventura; c) de lá até o momento. a problematização da vida privada.

Atualmente, o conceito de cultura de massa é contraposto com novos estudos, Fátima Régis (2007) diz que “além de oferecer experiências de valor estético e sensorial relevantes, os produtos da cultura de massa vêm, ao longo dos anos, estimulando nossas habilidades cognitivas”, a cultura de massa não é vista como algo ruim, e sim como uma cultura necessária. Hoje, a discussão está em torno da cultura cyber, pois as tecnologias alteraram a dinâmica da mídia, comunicação e entretenimento.

Em entrevista, o Professor João Curvello disse que o termo, apesar de ser datado, continua atual, principalmente em organizações que fazem parte do mercado de produção cultural e que, neste caso, é importante para comunicação organizacional entender o contexto da organização, principalmente em seu viés antropológico.

Entender o conceito de cultura de massa é importante para comunicação organizacional, pois a partir deste o profissional consegue interpretar e identificar comportamentos do consumidor que vão se moldando a atualidade.

Saiba mais

Artigo sobre atualidade do termo na biblioteca do “Intercom”

http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R1269-1.pdf

Trecho definindo cultura de massa do livro “Iniciação à Sociologia”

http://jornalismo.ufma.br/lu/files/2011/07/Cultura-de-massa.pdf

Referências

ADORNO, Theodor e HORKHEIMER, Max. (1985). A Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro, Jorge Zahar.

Comunicação de Massa, Gosto Popular e A Organização da Ação Social — Paul F. Lazarsfeld, Robert K. Merton

RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo Guimarães. Dicionário de comunicação. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica: In: ADORNO et al. Teoria de cultura de massa. Trad. de Carlos Nelson Coutinho.

MORIN. Edgar. Cultura de massas no século XX. Companhia Editora Forense, 1967, 208 p.

GADINI, Sérgio Luiz; WOITOWICZ, Karina Janz (org.). Noções básicas de Folkcomunicação: uma introdução aos principais termos, conceitos e expressões. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2007.

LIMA, Luiz Costa. Teoria da cultura de Massa. 5. ed. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2000.

ADORNO, Theodor W. e HORKFFERMER, Max. A indústria Cultural: o esclarecimento como mistificação dasmassas. In: Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. p. 99–138.

CURVELLO, João, Cultura de massa Comunicação Organizacional. Universidade de Brasília, 16 de novembro de 2015. Entrevista concedida a João Paulo Maciel e Vanessa Jardim.

Autores: João Paulo Maciel e Vanessa Freitas

Este verbete foi produzido na matéria Teorias da Comunicação Organizacional do curso de Comunicação Organizacional da FAC/UnB

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