Esfera Pública

Lucas Teixeira
Wiki FAC
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6 min readNov 22, 2015

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Conceito

A esfera pública se constitui enquanto um fenômeno maleável, nada normativo, que se dá através do agir comunicativo que exprima um tema, ou preocupação, publicamente relevante. Seu espaço é semi-etéreo, uma vez que pode ser deslocado e sofrer as intempéries de cada contexto, mas é um espaço um espaço social que se dá através do diálogo de pares que se reconhecem como tais, modificando seus agentes em cada contexto, mas, independentemente do contexto, pode-se dizer que os indivíduos privados capazes de ocupar-se com a racionalização pública são aqueles que estabelecem, em conjunto, o espaço no qual a esfera se dá.

História.

A queda da aristocracia e o alvorecer da burguesia.

A esfera pública se expressa de maneiras diferentes em contextos distintos, pode-se dizer que a partir do momento em que há mobilização social em torno de um tema ou preocupação comum existe a esfera política, ou esfera pública.

No público das pessoas privadas pensantes se desenvolve o que em Kant se chama de “concordância pública”; em Regel, de “opinião pública”; nela encontra a sua expressão “a universalidade empírica dos pontos de vista e dos pensamentos dos muitos”. A primeira vista, Hegel parece definir essa grandeza só em nuances diversamente de Kant: lia liberdade formal, subjetiva, que os indivíduos enquanto tais têm e expressam em seus próprios juizos, opiniões e conselhos, encontra a sua manifestação no contexto do que se chama de opinião pública” . (HABERMAS, 2003.).

No contexto da Comunicação Organizacional a entendemos enquanto:

uma estrutura comunicacional do agir orientado pelo entendimento, a qual tem a ver com o espaço social gerado no agir comunicativo não com as funções e conteúdos da comunicação cotidiana.” (Idem, 1997.).

A publicidade e as intempéries dos contextos.

As mudanças de plataformas assim como o surgimento de novas suportes, agentes, classes e estratos sociais influem na maneira como a esfera política se dá, assim como quem tem direito ao uso desse espaço de diálogo.

espaço comum em que os membros da sociedade se congregam, por meio de uma variedade de meios, sejam eles impressos, eletrônicos ou em encontros diretos, para discutir questões de interesse comum para ai ser capazes de formar uma idéia comum acerca dessas questões. A esfera pública é uma característica moderna. A tal ponto que onde ela é suprimida ou manipulada, ela tem de ser simulada. (TAYLOR, 2000)

A decadência da aristocracia e o surgimento da burguesia enquanto uma classe social distinta, capaz de leitura, confluiram na inclusão de novos agentes públicos capazes de realizar racionalizações públicas expandindo o diálogo para novas camadas nunca antes ouvidas.

A história do conceito de Opinião pública coincide com a formação do Estado moderno que, com o monopólio do poder, privou a sociedade corporativa de todo o caráter político, relegando o indivíduo para a esfera privada da moral, enquanto a esfera pública ou política foi inteiramente ocupada pelo Estado. Mas, após o advento da burguesia, ao constituir-se dentro do Estado uma sociedade civil dinâmica e articulada, foi se formando um público que não quer deixar, sem controle, a gestão dos interesses públicos na mão dos políticos. A Opinião pública foi levada deste modo a combater o conceito de segredo de Estado, a guarda dos arcaria imperii e a censura, para obter o máximo de “publicidade” dos atos do Governo.” (BOBBIO, Norberto; MATTEUCI, Nicola; e PASQUINO, 1998)

Esfera pública e mídia

Desde o nascimento da mídia, desde o nascimento da imprensa burguesa, a Free press, segundo Habermas, esta mudou a esfera pública drasticamente. Antes a esfera pública tinha seu espaço definido em ambientes físicos limitados como fóruns políticos e afins, a mídia a expande para fora dessas paredes e nos dias de hoje, com a internet , a mídia transferiu grande parte da dimensão da esfera pública para um espaço virtual onde as discussões acontecem com velocidade e onde o acesso é facilitado e, em teoria, mais democrático.

Nem todas as mudanças são positivas, várias discussões podem ser levantadas em relação ao poder que a “mass media” tem dentro da esfera pública. Para começar, a mídia pode fabricar públicos por meio da alienação e influência da opinião comum. Isso pode ser altamente nocivo quando se pensa que pouquíssimas pessoas detém o controle desses meios de comunicação de massa, como a tv e o rádio. O próprio Estado percebeu isso muito cedo como diz Habermas: No entanto, a imprensa logo se tornou sistematicamente útil ao poder administrativo (HABERMAS, 2003). A internet traz uma discussão diferente.

Uma outra crítica interessante, é que como para ter acesso aos meios de comunicação a pessoa deve comprar o veículo de comunicação, como a tv, o rádio, o jornal, o celular, o computador e o provedor de internet. Então pode-se concluir que a esfera pública mantém sua tradição burguesa de nascimento. Existe um ingresso, uma taxa que se deve pagar para ter acesso à essa nova forma da esfera pública. No final, portanto, a democratização da esfera pública por meio da mídia é questionável. Pode-se tirar essa interpretação trazendo algumas coisas que o próprio Habermas escreve em Mudança estrutural da esfera pública como o fato dela pertencer somente a burguesia no final do século XVIII (HABERMAS, 1962) e quando Nicholas Garnham critica Habermas dizendo que ele idealiza a esfera pública burguesa, quando na verdade a Free press era composta apenas por capitalistas atrás de lucro ( GARNHAM, 1992).

Os estudos atuais sobre mídia e esfera pública estão focados em como a internet e as mídias sociais transformam a dimensão da mesma. As mídias sociais tem a capacidade singular de transformar o antes apenas receptor em emissor de conteúdo. Dessa forma, investido de voz, o cidadão comum pode alcançar muito mais pessoas e ameaçar, por vezes, o monopólio informativo dos grandes entes midiáticos.

O ponto positivo desta transformação é que tanto o Estado quanto as instituições privadas tem que ser bem mais cautelosos. O acesso à informação tem sido reclamado com força nunca antes vista e atitudes negativas que atinjam o povo dificilmente passam em branco, ou seja, mais discussões estão sendo trazidas para a dimensão da esfera pública. O Estado e as organizações privadas estão sendo forçados a fortalecer suas relações públicas, o que cria grande demanda do o comunicador organizacional.

Interessante lembrar que no Brasil essa pressão já vê bons resultados como a LAI (lei de acesso à informação), que se propõe a cristalizar a relação do governo com os seus diversos públicos.Negativamente porém, a internet e as mídias sociais mantém a situação aqui já discutida da taxa para ingressar na esfera pública.

Saiba mais!

http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/comunicacao?dd1=14685&dd99=view&dd98=pb

http://www.cgi.br/media/docs/publicacoes/1/relatorio-politicas-internet-pt.pdf

http://www.intercom.org.br/papers/regionais/centrooeste2010/resumos/R21-0338-1.pdf

http://www.triple-c.at/index.php/tripleC/article/viewFile/552/529

https://www.youtube.com/watch?v=AfmlYOkOuIo

https://www.youtube.com/watch?v=F-xauJ3R39U

https://www.youtube.com/watch?v=-8VgWTj54Ro

Referências:

BOBBIO, Norberto; MATTEUCI, Nicola; e PASQUINO, Gianfranco; Dicionário de política 1; trad. Carmen C, Varriale et ai.; coord. trad. João Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. — Brasília : Editora Universidade de Brasília, 1 la ed., 1998. Vol. 1: 674 p. Vários Colaboradores. Obra em 2v.

HABERMAS, Jurgen. “Sociedade Civil e a Esfera Publica Política”. In: Direito E Democracia, Entre Facticidade E Validade. Tempo Brasileiro, volume 1, tradução: Flávio Beno Siebeneichler. -. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. pp. 91–121.

HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Tradução: Flávio R. Kothe. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. 398p.

GARNHAM, Nicholas. 1992. The Media and the Public Sphere. In Habermas and the Public Sphere, ed. Craig Calhoun, 359–376. Cambridge, MA: MIT Press.

TAYLOR, C. Argumentos filosóficos. São Paulo: Edições Loyo

Autores: Caio Julius Mamede e Lucas Teixeira

Este verbete foi produzido na matéria Teorias da Comunicação Organizacional do curso de Comunicação Organizacional da FAC/UnB

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