Ces Michelin
Vernos
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5 min readApr 25, 2020

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Por um fio

O que está acontecendo no país agora? E o que a gente pode fazer a respeito?

Eu não sou analista político, mas tenho ficado intrigado e bem atento aos últimos acontecimentos. Então segue um resumo para entender o que ainda vem pela frente nessa bagunça de Governo, que está por um fio.

A saída do super ministro da Justiça, Sérgio Moro, desmorona o pilar da moral do Governo Bolsonaro. Moro foi um estandarte durante a campanha eleitoral, representando o sentimento anti-petista no combate à corrupção como juiz na Operação Lava-jato.

Você provavelmente sabe desse capítulo da nossa história, mas se tem dúvidas, há vastos conteúdos disponíveis para entender o que passou e tirar suas conclusões. O importante aqui é lembrar que Bolsonaro só foi eleito graças ao embate direto com o PT (inclusive foi essa a composição do segundo-turno, apesar de todas as pesquisas demonstrarem que ele venceria nesse cenário). Enfim, Moro era a imagem paladina desse Governo.

E ele saiu do Governo atirando, acusando o presidente da república de interferências na Polícia Federal e alegando ter provas dessas atitudes. Saiu com um discurso que atingia o ponto mais relevante da narrativa bolsonarista: a honestidade. E para entender a importância de Moro, basta olhar essa foto:

Pronunciamento em 24/04/2020

Todos os atuais ministros da gestão Bolsonaro, exceto o do meio ambiente que não estava em Brasília, se reuniram como escudo para ouvir o pronunciamento do Presidente sobre as acusações de Moro. O pronunciamento em si, com cerca de uma hora de duração, é uma coletânea de pérolas cômicas e trágicas, memes prontos, histórias pessoais do presidente e de sua família, uma tentativa juvenil de se vitimizar e outras informações desconexas e totalmente fora do contexto. Improviso de quarenta minutos do presidente que pode, dentre outras coisas, ter assumido que realmente interferiu na Polícia Federal em causa própria.

Ter interferido na Polícia Federal, principalmente acessando documentos num caso que lhe envolve, pode levar o presidente ao impeachment. Mas claro, isso depende de provas, avaliação do Superior Tribunal Federal, apreciação do pedido na Câmara que, apesar de ter um desafeto de Bolsonaro na presidência, tem também um enorme número de parlamentares ainda envolvidos em investigações de corrupção (também lhes interessa alguma influência na PF). O cenário é crítico, mas o pronunciamento trouxe a tona uma outra variável, tão preocupante quanto um processo de impeachment: Paulo Guedes, ministro da Economia.

Único usando máscara, sem terno, sem sapatos apenas de meias e com duas palmas para o fim do discurso (ainda virando a cabeça pra passagem do Presidente). Guedes não está com Covid-19, está com vergonha. E isso foi um protesto.

Bolsonaro alinhou o projeto Pró-Brasil excluindo Guedes e coordenando com o Centrão (a velha Política), o investimento pesado em infraestrutura, postura padrão de governos populistas desde os militares até Dilma Rousseff. Essa postura rompe com o projeto liberal que atribuía mais autonomia ao mercado, motivo pelo qual Bolsonaro recebeu apoio de diferente players da Economia e pelo qual tem Paulo Guedes como outro pilar de seu Governo, assim como era Moro.

Uma eventual saída de Guedes desmorona todos os pilares do plano de Governo de Bolsonaro, fazendo com que o plano vencedor em 2018 chegue ao fim. A questão é o que vem depois entre processos de impeachment, bagunça social, autoritarismo e pressão do mercado, tudo em meio a Covid-19. Não há previsão sustentável hoje.

E o que a gente faz? Essa pergunta é complicada quando tudo é tão incerto. Nos sentimos de mãos atadas e bocas caladas. Mas há sim o que fazer e eu listei quatro opções:

  1. Pergunte antes de afirmar

Vivemos tempos de urgência e parece que temos que ser especialistas em tudo. Não é o caso. Os cenários são complexos e não precisamos ter as respostas. Pesquise, siga as pessoas que estão refletindo a respeito desses assuntos, discuta e crie sua própria opinião com base num repertório mais rico. E algo muito importante: não repasse fake news. Cheque as informações que está passando adiante, pois isso diz respeito inclusive à sua credibilidade.

2. Não se apegue ao revanchismo

Querer provar um ponto de vista agora e lançar mão do “eu avisei” só vai servir para acender uma discussão sem sentido. Eu vejo as pessoas resgatando uma rivalidade eleitoral e, particularmente, não me convence nem o Bolsonaro nem o PT. Aliás, eu fiquei bem chateado de ser confrontado a essas duas opções nas Eleições. Por outro lado, essa é a nossa realidade, nos são oferecidas algumas poucas opções para votar e precisamos escolher o que tem, não necessariamente o que gostaríamos de ter para nos representar. Então não queira se vangloriar em estar do lado “menos ruim” agora.

3. Fortaleça as instituições

Democracia não é só votar, mas sim apoiar projetos que fortaleçam as instituições e nos deem dispositivos para lutar: como o ficha-limpa, por exemplo. Esteja por dentro dos projetos e manifeste seu apoio ou repulsa, porque querendo ou não, a opinião pública tem seu papel nesses casos.

4. Empreenda!

A melhor forma de prever o futuro, é criá-lo. Não paralise frente as dúvidas sobre o Governo. Seja a pessoa que conduz sua vida, independente do Estado. Empreenda, seja economicamente, seja socialmente. Apoie causas solidárias e seja uma pessoa solidária. A sociedade é composta das pessoas, e se importar umas com as outras é agir em prol de todos.

Certa vez um amigo mais jovem, frente a um momento político como esse, me fez a mesma pergunta: o que eu faço? Minha sugestão foi que ele se preparasse, mesmo sem saber ao certo pra que, porque quando fosse chamado a agir, estaria mais pronto.

Eu ainda acredito nisso.

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Ces Michelin
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Escrevo textos e ideias soltas, despretensiosas. Quem sabe, podem fazer sentido para ti em algum momento.