A chance de mudarmos isso tudo que está ai

Fabio Seixas
Fabio Seixas, versão txt
6 min readAug 21, 2017

Está circulando nas redes sociais um texto anônimo que, além de reproduzir aqui, extrapolo-o logo em seguida:

O que você faria com R$ 500 Mil Reais ?

Suponha comigo que você tem 35 anos, R$ 500.000,00 no banco e um Q.I. acima da média. O que fazer?

Você pode abrir uma empresa. É o que jovens com esse perfil e boas ideias costumam fazer em países mais civilizados, por exemplo. Na verdade, esse é o objetivo de vida mais cobiçado em lugares como EUA, Inglaterra e Austrália: abrir uma empresa, ganhar MUITO dinheiro e, no processo de ficar podre de rico, empregar dezenas ou centenas de pessoas e gerar bens e serviços que vão elevar a qualidade de vida de todos.

Mas vamos supor que você viva no Brasil. A média de lucro (a mais valia clássica, o retorno sobre o investimento do capitalista) vai de 3% a 5% (varejo), 6% (farmácias e drogarias), 10% (postos de gasolina) 11% a 13% (alimentação e serviços), pra citar alguns exemplos. Isso quando o empresário não opera no vermelho, pagando do próprio bolso pra manter o negócio e, com ele, os empregos de seus funcionários.

Claro que não é só. Você vai gastar em média 2.600 horas/ano não fazendo o que você se propôs a fazer (produzindo bens ou prestando serviços) mas pra recolher os impostos, que vão incidir sobre o seu investimento ANTES que você tenha qualquer lucro. Em média, 40% do seu investimento vai pro governo; 24% vai pros trabalhadores; e, descontada a parte do banco (capital de giro, desconto de recebíveis, etc), a você será permitido ficar com apenas 7% do que gerou. Você será tratado como criminoso pela sociedade, será culpabilizado por tudo o que der errado no país, e será constantemente fiscalizado e esporadicamente autuado por conta do descumprimento de alguma obrigação acessória que nem seu advogado sabia que existia, mas que lhe renderá uma multa de 150%, além de juros de 1% ao mês e correção monetária. E claro, ocasionalmente seus funcionários o processarão, ainda que você tenha pago todos os direitos e obrigações, e sabe-se lá o que vai decidir o juiz do trabalho, que está lá na presunção de que você é um contraventor e o seu funcionário é um anjo. Depois de 3 anos, há 80% de chance de você estar falido, e com sua casa, carro e o que quer que tenha sobrado de seu capital inicial ameaçado por execuções fiscais e trabalhistas.

Não parece um prospecto muito bom.

Mas felizmente você vive no Brasil, e tem opções. Você pode emprestar aqueles seus R$ 500.000,00 ao governo, por exemplo. Uma aplicação no Tesouro Direto indexada ao IPCA rende hoje pouco mais de 18% ao ano, com liquidez semestral. Descontados os impostos, ainda sobra uns 14% limpos. Bem melhor do que os 3% a 11% que você obtém empreendendo, e com risco praticamente zero: ao contrário do que se dá com o empreendedor, o governo te tratará como rei, porque o governo é incapaz de gastar menos do que arrecada, e sempre vai precisar de gente como você para financiar o déficit endêmico. Ao final de 3 anos, você terá somado cerca de R$ 200.000,00 ao seu capital de R$ 500.000,00 (ajudado pela mágica dos juros capitalizados).

Bem melhor, não?

Ou então você pode empregar esse seu cérebro privilegiado e estudar para um concurso público. Salários de R$ 30.000,00, que a iniciativa privada só paga a altos executivos que tenham resultados pra apresentar e que estejam acostumados a viver sob intensa pressão, não são incomuns no funcionalismo, com o bônus de que você nunca será demitido, ainda que faça apenas o mínimo exigido, e, dependendo da carreira que escolher, será inclusive obrigatoriamente promovido.

É essa a flora exótica na qual vivemos: tudo a todo momento grita pra que você não crie, não empreenda, não empregue. Se acumulou algum capital, seja rentista. Se tem uma boa educação, seja funcionário público.

Vai dar certo sim, amigos.

Autor desconhecido

O texto é bastante verdadeiro mas cabe uma observação que explica porque ainda existem pessoas empreendendo no Brasil. O motivo é simples.

Um empreendedor que investe R$ 500 Mil em um novo negócio o faz porque acredita que ao aplicar técnicas de gestão ao seu empreendimento tais como inovação, publicidade, marketing, trabalho duro, etc ele estará, em breve, coletando uma renda de 3%, considerando o pior caso do varejo, não sobre R$ 500 Mil, mas sim sobre um montante faturado muito maior. É o famoso ganho de escala. É isso que torna a motivação de empreender desse indivíduo meramente possível.

Dito isso, o texto acerta sobre o papel que cada elemento tem no eco-sistema econômico brasileiro. Salvo a minha pequena observação, não daria certo mesmo. Fica claro que empreender, gerar valor, inovação e emprego é essencial para o desenvolvimento de uma nação.

Mas meu objetivo aqui não é contra argumentar o autor desconhecido, mas sim fazer uma provocação.

O que seria preciso para que esse cenário mudasse? O que seria preciso para que o ambiente e a facilidade de fazer negócios no Brasil melhorasse profundamente?

Imagine um acontecimento utópico em que, de um dia para o outro, toda a população parasse de pagar todos os impostos ao governo. O que aconteceria?

Provavelmente, aqueles que hoje detém o poder, aqueles que controlam o dinheiro e as regras sobre esse dinheiro, ou seja, a união, os governos, os políticos e os órgãos públicos, ficariam a merce da população. Afinal seria uma população de 200 milhões de pessoas contra algumas centenas de milhares.

Possivelmente o governo perderia seu poder e o seguinte dialogo ocorreria:

Governo: O que podemos fazer para resolver essa situação?
População: Entendemos que um governo é importante para manter as coisas organizadas, principalmente numa população tão grande, mas para darmos a vocês parte do resultado do nosso trabalho, queremos que as coisas mudem. Vocês não devem cobrar tantos impostos, nem dificultar as coisas, muito menos meter a mão e roubar esse dinheiro que não é de vocês e precisarão ser muito eficientes nos serviços públicos que irão prestar para nós.
Governo: Ok, concordo. Vamos reescrever as regras juntos?
População: Não, meu caro, junto nada. Quem escreve as regras somos nós. Vocês só vão trabalhar para nós e serão remunerados de forma justa por isso.

Bem, esse é o princípio da democracia representativa. Essa que temos no Brasil mas que sabemos que não funciona mais pois não há representatividade alguma. Estão lá em interesse próprio apenas.

Como já disse, o acontecimento acima é utópico. Não vai rolar. Pelo menos não assim, de um dia para o outro e com um dialogo dessa simplicidade.

Mas há sim uma forma disso acontecer. De forma mais gradativa e certamente não tão amigável, mas possível.

Imagine uma forma de descentralizar o poder sobre o dinheiro, sobre as regras que o comandam, além de descentralizar o dinheiro em si. Imagine que esse sistema fosse implantado não pela casta atualmente detentora do poder, mas pelos usuários desse mesmo dinheiro, de baixo para cima, gradativamente.

Pois é, meus amigos. Essa forma já existe. Chama-se blockchain, a tecnologia de controle, governança e consenso descentralizado que viabiliza um dinheiro supra-nacional sem controle centralizado já muito conhecido chamado Bitcoin e tantas outras cryptomoedas.

Se existe uma chance de mudarmos o que está ai de ruim, no Brasil e no mundo, é o blockchain. Essa é a única ferramenta que a humanidade construiu que permitirá que pequenos grupos muito poderosos percam seu poder.

Que venha a nova era da humanidade.

Explicarei mais sobre blockchain em outros artigos, então não deixe se seguir o versão txt.

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