Werner Herzog — Stroszek (A última viagem de Ian Curtis)

Stroszek é o último filme que o Ian Curtis assistiu antes de se enforcar, isso seria uma curiosidade irrelevante caso o filme não fosse sobre uma viagem trágica para os Estados Unidos e o Joy Division não estivesse às vésperas de fazer sua primeira turnê por lá. O filme é estrelado pelo “não ator” Bruno S, um indivíduo que aparenta óbvia doença mental, mas que o Herzog dizia que não era isso, ele simplesmente tinha apanhado o bastante da vida para se tornar outro homem. Fiquemos com a versão do Herzog, ela é mais interessante e pelo que sei também é mais real. Seu personagem (Bruno Stroszek) é um ex-presidiário com talentos musicais que ao sair da prisão se une a uma prostituta, após apanhar dos cafetões dela, Stroszek resolve seguir o plano de um vizinho e ir com ele para os Estados Unidos com a prostituta, particularmente para o gelado Winsconsin, terra dos Green Bay Packers (um time de futebol americano que gosto) e do serial killer Ed Gein (o qual Herzog era fascinado). Parece banal não? Acredite, não é. Esse é um filme muito estranho. Tudo que incomoda os personagens nos Estados Unidos, incomoda também a quem está assistindo, começando pelo Winsconsin que parece um planeta alienígena. Toda essa parte do filme usou os moradores locais como atores, é palpável o tempo todo a distância comunicativa entre todos nós e a alienação que leva ao desfecho do filme. Os sete minutos finais são os melhores de toda história do cinema (sério), a única fala vem de um policial que diz: “Nós temos um caminhão em chamas, não conseguimos encontrar o interruptor para desligar o elevador de esqui e não conseguimos parar a galinha dançante. Mande um eletricista”. Ao contrário do pobre Ian o filme me alegrou (apesar de não ser nada feliz), talvez por ser uma obra-prima, talvez por ser uma bela crítica social ou talvez, pois eu seja tão estranho quanto o que assisti.
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