Nine Inch Nails — A espiral ascendente de Trent Reznor

Marco Aurélio Corrêa
Viagem Ao Fim Da Noite
7 min readAug 18, 2018

Nine Inch Nails é quando o industrial finalmente encontra o pop. Apesar de existirem movimentos anteriores nessa direção (Ministry, Skinny Puppy e até The Young Gods), nenhum foi direcionado (e de fato conseguiu) tanto público quanto o NIN (nem o próprio protégée do Trent Reznor, Marilyn Manson). O primeiro disco (Pretty Hate Machine) é considerado um marco nesse sentido, apesar de ser muito interessante e acessível, eu não considero, muito da sonoridade ainda pertence ao universo do synth pop (ele odiava que falassem isso do som, mas é a verdade). Reznor ainda não tinha encontrado o seu próprio caminho, um som completamente identificável com ele, afinal, nada mais justo para um cara que mudava o próprio significado de uma banda, sendo ele a própria banda (com minions para completar seus projetos). O próximo passo começou quando ele comprou a casa onde a Sharon Tate e mais quatro pessoas foram assassinadas pela Família Manson (ao contrário do que muita gente pensa, Manson nunca matou ninguém). Lá ele montou um estúdio chamado Le Pig (Pig era uma das coisas que foram escritas com sangue na parede da casa e a palavra se tornaria de uso comum nas letras de Reznor), provavelmente a liberdade de ter um estúdio em casa (que aparece no clipe de Gave Up) e a atmosfera carregada do lugar ajudaram a dar os próximos passos. Assim ele lança Broken que é um EP. Geralmente EPs são irrelevantes, mas esse não. Broken abandona completamente as letras “dor de corno” do Pretty Hate Machine e abraça a temática BDSM, inclusive promovendo o disco com um vídeo imitando um filme snuff (o que fez que ele fosse investigado pelo FBI) e o clipe de Happiness In Slavery que além de ser baseado no Jardim dos Suplícios, possuí a performance do “masoquista profissional” Bob Flanagan (tem um documentário muito interessante sobre ele), na qual ele é torturado até a morte (grande parte da tortura, obviamente excluindo a morte, é real). O som também dá um salto, é o início do Reznor se estabelecendo como produtor, todos os instrumentos passam por diversas alterações e soam de um modo bastante particular (incluindo um mellotron que pertencia ao John Lennon). Apesar de tudo isso, o disco mostrou ter uma sensibilidade ao que a Geração X iria ouvir e vendeu muito bem para um EP. Porém, ainda não era o bastante, o próximo passo era conceber o Dark Side of the Moon dele (ele preferiria dizer que era o The Wall do industrial). Mas qual seria o conceito? Algo muito simples, o declínio progressivo de um homem até a sua morte, assim o álbum veio a se chamar The Downward Spiral (A Espiral Descendente). As músicas saem da temática puramente BDSM e de angústia adolescente para abordar o que finalmente vai levar o personagem ao suicídio. A loucura, o vício, amor, o sexo, a religião, a sociedade, a violência, o medo, a culpa, a AIDS… Enfim, uma pletora de temas que desgraçam a vida de qualquer um. E talvez esse tenha sido um dos grandes apelos do disco, nenhuma temática surreal, fantástica ou histórica. Mas puro niilismo existencial, algo que é um tema universal. O som é ainda mais trabalhado que no disco anterior, tudo de melhor da tecnologia eletrônica foi utilizado: múltiplos sintetizadores, baterias eletrônicas, gravadores, Pro Tools… De fato acho que é o primeiro disco a usar ostensivamente Pro Tools, afinal o álbum todo funciona na base da manipulação de samples. Sendo ou não isso, o instrumento principal do álbum continua sendo o estúdio. O disco foi basicamente feito pelo Reznor, vários bateristas e o Adrian Belew que toca guitarra em duas faixas. Porém isso é manipulado de tal maneira, que parece que tem uma infinidade de músicos na banda. A manipulação visa a deixar tudo se não irreconhecível (as vezes reduzido a mero ruído), pelo menos um tanto estranho e pouco familiar. Várias músicas são notáveis, algumas como March of the Pigs que é um exercício em fazer as pessoas confusas com um ritmo (apesar de a música ser grudenta) e outras pela letra, como Eraser e seu concretismo de “Hate me/Smash Me/ Erase Me/ Kill Me”. Mas no fim duas músicas ficaram mais populares: Hurt que depois do cover do Johnny Cash ficou insuportável do quanto já foi repetida e Closer, a música que tem toda consciência pop do álbum, conhecida por sua batida sampleada de Nightclubbing do Iggy Pop e seu refrão que resume a ideia de vários adolescentes luxuriosos (“I wanna fuck you like an animal”). Reznor em seguida faria um álbum duplo (seu The Wall?) que é muito bom, porém sua carreira nunca mais iria ascender tanto quanto na sua espiral descendente.Nine Inch Nails é quando o industrial finalmente encontra o pop. Apesar de existirem movimentos anteriores nessa direção (Ministry, Skinny Puppy e até The Young Gods), nenhum foi direcionado (e de fato conseguiu) tanto público quanto o NIN (nem o próprio protégée do Trent Reznor, Marilyn Manson). O primeiro disco (Pretty Hate Machine) é considerado um marco nesse sentido, apesar de ser muito interessante e acessível, eu não considero, muito da sonoridade ainda pertence ao universo do synth pop (ele odiava que falassem isso do som, mas é a verdade). Reznor ainda não tinha encontrado o seu próprio caminho, um som completamente identificável com ele, afinal, nada mais justo para um cara que mudava o próprio significado de uma banda, sendo ele a própria banda (com minions para completar seus projetos). O próximo passo começou quando ele comprou a casa onde a Sharon Tate e mais quatro pessoas foram assassinadas pela Família Manson (ao contrário do que muita gente pensa, Manson nunca matou ninguém). Lá ele montou um estúdio chamado Le Pig (Pig era uma das coisas que foram escritas com sangue na parede da casa e a palavra se tornaria de uso comum nas letras de Reznor), provavelmente a liberdade de ter um estúdio em casa (que aparece no clipe de Gave Up) e a atmosfera carregada do lugar ajudaram a dar os próximos passos. Assim ele lança Broken que é um EP. Geralmente EPs são irrelevantes, mas esse não. Broken abandona completamente as letras “dor de corno” do Pretty Hate Machine e abraça a temática BDSM, inclusive promovendo o disco com um vídeo imitando um filme snuff (o que fez que ele fosse investigado pelo FBI) e o clipe de Happiness In Slavery que além de ser baseado no Jardim dos Suplícios, possuí a performance do “masoquista profissional” Bob Flanagan (tem um documentário muito interessante sobre ele), na qual ele é torturado até a morte (grande parte da tortura, obviamente excluindo a morte, é real). O som também dá um salto, é o início do Reznor se estabelecendo como produtor, todos os instrumentos passam por diversas alterações e soam de um modo bastante particular (incluindo um mellotron que pertencia ao John Lennon). Apesar de tudo isso, o disco mostrou ter uma sensibilidade ao que a Geração X iria ouvir e vendeu muito bem para um EP. Porém, ainda não era o bastante, o próximo passo era conceber o Dark Side of the Moon dele (ele preferiria dizer que era o The Wall do industrial). Mas qual seria o conceito? Algo muito simples, o declínio progressivo de um homem até a sua morte, assim o álbum veio a se chamar The Downward Spiral (A Espiral Descendente). As músicas saem da temática puramente BDSM e de angústia adolescente para abordar o que finalmente vai levar o personagem ao suicídio. A loucura, o vício, amor, o sexo, a religião, a sociedade, a violência, o medo, a culpa, a AIDS… Enfim, uma pletora de temas que desgraçam a vida de qualquer um. E talvez esse tenha sido um dos grandes apelos do disco, nenhuma temática surreal, fantástica ou histórica. Mas puro niilismo existencial, algo que é um tema universal. O som é ainda mais trabalhado que no disco anterior, tudo de melhor da tecnologia eletrônica foi utilizado: múltiplos sintetizadores, baterias eletrônicas, gravadores, Pro Tools… De fato penso que é o primeiro disco a usar ostensivamente Pro Tools, afinal o álbum todo funciona na base da manipulação de samples. Sendo ou não isso, o instrumento principal do álbum continua sendo o estúdio. O disco foi basicamente feito pelo Reznor, vários bateristas e o Adrian Belew que toca guitarra em duas faixas. Porém, isso é manipulado de tal maneira, que parece que tem uma infinidade de músicos na banda. A manipulação visa a deixar tudo se não irreconhecível (às vezes reduzido a mero ruído), pelo menos um tanto estranho e pouco familiar. Várias músicas são notáveis, algumas como March of the Pigs que é um exercício em fazer as pessoas confusas com um ritmo (apesar de a música ser grudenta) e outras pela letra, como Eraser e seu concretismo de “Hate me/Smash Me/ Erase Me/ Kill Me”. Mas no fim duas músicas ficaram mais populares: Hurt que depois do cover do Johnny Cash ficou insuportável do quanto já foi repetida e Closer, a música que tem toda consciência pop do álbum, conhecida por sua batida sampleada de Nightclubbing do Iggy Pop e seu refrão que resume a ideia de vários adolescentes luxuriosos (“I wanna fuck you like an animal”). Reznor em seguida faria um álbum duplo (seu The Wall?) que é muito bom, porém sua carreira nunca mais iria ascender tanto quanto na sua espiral descendente.

https://youtu.be/x71q_cU0g4o

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