A Melhor Música de Todos os Tempos

Ao menos para meia dúzia de três.

Marco Aurélio Corrêa
Viagem Ao Fim Da Noite
3 min readAug 22, 2018

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Sister Ray é minha música favorita de todos os tempos. Dezessete minutos de completa intensidade sonora com improvisos. Tudo foi gravado em um único e moralizante take onde qualquer coisa que acontecesse seria a versão “oficial” da obra. A letra é uma daquelas boas histórias do Reed: numa suruba gay regada a heroína aparece um marinheiro que é morto por um dos participantes, ninguém liga para o acontecido tirando o fato de o sangue estar sujando o tapete e assim a suruba continua enquanto os participantes alucinam sobre a chegada da polícia. Ao mesmo tempo, todo pessoal flower power estava na moda, porém enquanto eles tomavam ácido e falavam de unicórnios; Velvet era regado a anfetamina e heroína cantando devassidão e decadência. A instrumentação é a mesma de sempre (sim, Mo Tucker irá fazer novamente a bateria mais mínima e eficiente do rock junto das duas guitarras), porém o John Cale (que era o verdadeiro gênio criativo do Velvet Underground) enfiou um Vox Continental mega distorcido (material que eles conseguiram graças ao padrinho Andy Warhol que queria “ouvir a música sobre boquete”) e tocou com o maior esforço para ser ouvido acima das guitarras; o resultado foi o som mais demencial no rock até então. A música começa numa estrutura bem simples de poucos acordes, porém a partir da metade as coisas evoluem para uma jam que deixaria o Albert Ayler orgulhoso. Lembremos novamente que essa montanha de barulho e microfonia foi lançada em 68, absolutamente ninguém no rock estava fazendo experimentação sonora tão extrema (nem o Zappa), o máximo que existiu entre quem fazia sucesso foi Revolution 9 que é uma obra completamente inocente por alguém que nada entendia de música de vanguarda (coisa na qual Cale era versado). O engenheiro do estúdio durante a gravação simplesmente se recusou a ouvir a obra e foi fazer outra coisa, enfim, um homem comum, um imbecil. Ao vivo a coisa também era de um potencial monstruoso e não era incomum ser alongada para uns trinta minutos. Também criaram uma introdução ao vivo chamada Sweet Sister Ray que, também durava seus trinta minutos, numa das tentativas da banda de conjurar uma introdução para Sister Ray que também teria uma terceira parte, mas essa não foi feita. Não precisa dizer que Sister Ray era a coisa mais importante que a banda tinha feito e eles eram plenamente conscientes disso. Sister Ray é a última faixa do último disco com John Cale (White Light/White Heat), depois Reed decidiu que a banda deveria ser mais comercial e o demitiu, uma das maiores burrices da história da música. Reed só teria sucesso relativo em carreira solo que só existiu por ter feito parte de algo verdadeiramente transgressor como Sister Ray. Essa música abriu portas para diversas coisas que iriam acontecer: do punk ao shoegaze. Eu conheci a música por uma versão ao vivo do Joy Division no Still (muito engraçada, pois perde todo o humor com o Curtis cantando) que, apesar de ter sido feita treze anos depois da original, o som é extremamente careta em comparação, assim como quase todo resto do rock que se seguiu.

https://youtu.be/53F5nY68cBM

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