Minutemen — As músicas mais curtas que estão na minha cabeça a mais tempo

Marco Aurélio Corrêa
Viagem Ao Fim Da Noite
3 min readAug 18, 2018

Jackass abria com uma música única e original que grudava na cabeça de quem assistia, enquanto ela pertencia a um universo paralelo da música que tocava na MTV, afinal era uma polca. Depois de alguma pesquisa fui informado que a música se chamava Corona e que era de uma banda californiana chamada Minutemen. Esta banda assim como várias bandas do underground americano dos anos 80 começou no hardcore e progressivamente foi abandonando o estilo. De fato desde o início este power trio já tinha sinais “estranhos” para qualquer coisa que se diga hardcore: a guitarra era limpa demais, o baixo tocava todas as notas possíveis, o vocal não tinha ódio (era simplesmente desafinado) e as músicas acabavam antes que você conseguisse pensar. Uma das principais ideias da banda era “We Jam Econo” (que também é o nome de um documentário sobre eles), basicamente o contrário de toda grande banda da época. O objetivo era ter uma produção fonográfica dinâmica para fazer o maior número de shows possíveis enquanto se economizava em todo resto. Notadamente eles viajavam todos apertados numa van, não tinham roadie, não usavam técnicos, sabiam todas as músicas que iriam gravar para não perder tempo no estúdio, gravavam no menor número de takes, aproveitavam fitas usadas, etc. A grande influência da banda era o Captain Beefheart, então as coisas sempre parecem abruptas e um pouco fora de lugar. A influência de jazz e funk também é enorme, assim como de bandas de pós punk inglês que lidavam com isso, tipo Gang of Four e Pop Group.
Os covers que a banda fazia eram aqueles que quase nenhuma banda originada do punk faria, tem Creedence, Van Halen (o disco mais famoso deles também é uma piada com um disco do Sammy Hagar), Steppenwolf, Steely Dan e Blue Öyster Cult (banda que o baixista Mike Watt era fã, gravando um disco com o Richard Meltzer). Com tudo isso que eu disse o resultado são discos extremamente fragmentados, no que parece um exercício de quiasmos devido ao modo minimalista que eles filtram o enorme número de influências. As letras eram politizadas, existencialistas, absurdistas e tinha uma estranha veia populista que nada parece com o que o Bruce Springsteen faz. A discografia possui inúmeros EPs, dos quais recomendo Paranoid Time, Joy, Bean Spill e Buzz or Howl Under the Influence of Heat, o mais longo tem 15 minutos, então não se tem muita desculpa para não ouvir, e se não gostar, termina antes de dar raiva. Os LPs de estudio são: The Punch Line, What Makes a Man Start Fires?, The Politics of Time, Double Nickles on the Dime e 3-Way Tie (For Last). Punch Line e What Makes a Man Start Fires? São muito bons, porém Double Nickles on the Dime é um disco absoluto. Esse disco é o Trout Mask Replica do punk, mesmo dito isso é extremamente acessível, a produção é maravilhosa para um disco independente e também comparado aos sons de plástico comuns nos anos 80 (eles finalmente chutaram o lixo do Spot que era o produtor da SST que está nos outros discos); por fim tem 43 músicas das quais aproveito mais de 35 (nem é um número tão grande de músicas assim, o Punch Line tem 18 músicas em 16 minutos, Double Nickels on the Dime é ainda um vinil duplo). Não tem um único momento que se destaque como mais representativo nesse disco (ou na discografia inteira), tudo é muito coeso apesar de parecer que eles estão atirando para todo lado. Vou deixar uma música que é uma das duas que conheço que eles fizeram vídeo. Infelizmente o vocalista e guitarrista (D. Boon) foi arremessado para fora de um carro e quebrou o pescoço, morrendo instantaneamente, um final brusco e inesperado, como uma de suas músicas.

https://youtu.be/UDr25zjd4yM
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