Béla Tarr — A Harmonia Werckmeister (Cinema contra TDAH)

Marco Aurélio Corrêa
Viagem Ao Fim Da Noite
2 min readAug 19, 2018

Além dos filmes serem em preto e branco e da temática pessimista. O que realmente marca para as pessoas o cinema de Béla Tarr são que seus filmes são organizados em planos sequência de quase dez minutos (além de um filme como Tango de Satã ter basicamente oito horas.) Num mundo pós ‘videoclipes’ onde o máximo que se observa sem interrupção tem em média cinco segundos e que o espectador parece ter sempre déficit de atenção (se isso realmente é uma doença a causa não seria o entretenimento?), Béla Tarr certamente garante seu lugar entre os cineastas menos assistidos. Assim como Tango de Satã, A Hamonia Werckmeister também é baseada num livro do principal contribuidor de Tarr, László Krasznahorkai. No filme, Janos Valushka é um simplório entregador de jornais com dons astrológicos. Ele observa a chegada de duas atrações de circo na sua cidade que enfrenta dificuldades: a maior baleia do mundo e o misterioso “Príncipe” (uma aberração que é um agitador político mais aberrante ainda). Esse acontecimento traz a mais completa anomia à cidade e a única organização que resta é da plebe levando a cabo a destruição de tudo (porém sem o menor respingo de qualquer emoção, nem ao menos raiva). O título advém de uma ideia do tio de Janos (Gyorgy) na qual a fundação da música ocidental nas ideias de Andreas Werckmeister (inventor do sistema temperado usado de início por Bach) estariam erradas necessitando ser substituídas. Obviamente algo disso tem paralelo com a questão de ordem e caos do filme, mas o exato paralelo não é tão simples de ser achado. De fato parece que Gyorgy está perdendo seu tempo e é um intelectual alienado se masturbando mentalmente. Devo deixar claro também que Tarr insiste que o filme não é uma alegoria, mas é da habilidade do espectador ver o que lhe convém. A trilha como em muitos filmes de Tarr é de Mihály Víg, ela se abstém em grande parte do filme, porém faz parte dos momentos principais e conferem uma atmosfera mais meditativa e melancólica. A maioria das pessoas conseguirá ir até o final do filme se passar pela sequência inicial de onze minutos, onde se explica o funcionamento do sistema solar utilizando os bêbados de um bar para exemplificar o movimento dos astros. Em 2011 Tarr lançou O Cavalo de Turim e disse que iria ser seu último filme. Uma vez questionado sobre onde estaria a esperança em seus filmes, disse que a esperança é que vissem seus filmes. Medindo a resposta de sua aposentadoria à luz do mundo da Disney, garanto que não há esperança.

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