Sion Sono — Love Exposure (Família, religião, cultos e a arte de tirar fotos por debaixo de saias)

Sion Sono é um poeta que foi membro de um culto religioso e de um grupo terrorista (sim, são entidades distintas e não, não são o Aum Shinrikyo), por fim começou sua carreira filmográfica fazendo pornô gay hardcore (esses detalhes geralmente são irrelevantes, mas no caso dele explica muita coisa). Seus filmes têm como temas comuns a vida familiar, mas não como nos filmes de Ozu (quem ele odeia). Para ele a vida familiar é o início da vida religiosa e essa tem como conclusão lógica a loucura total dos cultos. Família no que mais importa é a base para doutrinação ideológica. Obviamente seus filmes também são preocupados com sexo e morte, afinal essas são as únicas coisas que importam no mundo. Love Exposure é o seu filme mais ambicioso e um resumo de suas ideias, um resumo um tanto longo, pois o filme tem quatro horas de duração (deveria ter seis, mas o estúdio pensou que era um tanto demais). O filme é um pastiche de paródias, as principais são: cristianismo, filmes de artes marciais, filmes do Tarantino, comédia romântica e cultos religiosos. Enfim, a típica obra pós moderna auto-indulgente que tem tudo para dar errado e que também possui uma história gigantesca. Tentando não dar spoilers do filme (apesar dele ter 4 horas e tranquilamente se poder falar de muita coisa) algumas coisas podem ser ditas. O protagonista é obcecado com a Virgem Maria, o pai que é padre, pecado, tirar fotos por baixo das saias de garotas (arte da qual ele é tratado como um profeta) e masoquismo. Seu interesse amoroso é uma menina misândrica, extremamente violenta, que adora Jesus, pois este lhe parece um astro do rock e que só corresponde o amor do protagonista quando ele está vestido de mulher. Outra figura é líder de um culto, traficante de cocaína e filha de um homem devoto o qual ela mesmo castra (falando em castração, ereções são algo muito importante no filme e além de interromper o andamento, irão interromper o raciocínio de muitos espectadores). Assim, esses três sociopatas seguem nas suas desventuras que atualizam as comédias renascentistas, infelizmente é muito difícil fazer justiça a enorme litania do filme. Depois de quatro horas é realmente difícil dizer qual seja a mensagem do filme, talvez algo sobre luxúria, perversão e amor; talvez sobre depressão, sociedade e fé; mas talvez seja muito provável que não importe.
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