Talking Heads — Remain In Light (O ponto mais alto da New Wave)

Marco Aurélio Corrêa
Viagem Ao Fim Da Noite
2 min readAug 20, 2018

Remain in Light é o quarto álbum do Talking Heads e tem pelo menos um dos hits mais famosos da banda (Once In A Lifetime com seu vídeo maravilhoso e seu groove de duas notas). Como os dois últimos álbuns (More Songs About Buildings And Food e Fear of Music) também foi produzido pelo Brian Eno (que também dividiu o crédito pelas faixas), sendo essa a última colaboração com ele. A influência de Eno logo aparece em como as faixas desse álbum são basicamente vários trechos manipulados e repetidos até se tornar uma música. Antes que qualquer coisa parecida com samples e loops fosse moda, esse disco é composto por uma montanha deles. A execução ainda é um dos ápices do uso dessas ideias (o que deixa o disco também nada datado apesar de ter saído em 1980). Assim o foco do álbum é quase completamente nos ritmos e nos timbres. O álbum começa com um funk alienígena eletrônico e felakutiano que se tornaria marca registrada do Talking Heads, mas no lado b as coisas ficam mais etéreas, abstratas e cerebrais. Nada disso parece abrupto, da intensa primeira faixa (Born Under Punches) até a deprimente última faixa (The Overload) existe um contínuo extremamente coerente (por coisas assim Eno se tornou excelência em produção). The Overload é uma faixa curiosa, pois foi feita pensando no Joy Division embora nenhum dos membros conhecesse a banda exceto por artigos na imprensa. Byrne como sempre aparece neurótico e paranóico com seu vocal angustiado (embora um tanto menos que anteriormente). As letras dessa vez são semi-improvisadas sobre “slogans” escolhidos por Byrne. Dessa vez também o disco foi escrito ao contrário dos outros, as letras de Byrne vieram por último (ele também estava tendo problemas para escrever elas). O que deu a possibilidade de a banda fazer várias jams que serviriam de base para as músicas. Existem outras contribuições no disco como do Adrian Belew (que foi fundamental para que o álbum fosse terminado) e do trompetista ambient Jon Hassell (que aparece na ótima Houses in Motion). Todo álbum é muito acessível, afinal, ainda é um disco do Talking Heads. Porém, pelo menos da primeira vez o disco deve ser ouvido inteiro, uma vez que estando dentro do clima hipnótico do disco as faixas vão funcionar melhor. Depois do fracasso inicial do Remain In Light, a banda lançou o Speaking In Tongues e finalmente fez sucesso de verdade com Burning Down The House. Nesta época ainda saiu o ótimo show cinematográfico Stop Making Sense, filmado pelo Jonathan Demme de Silêncio dos Inocentes. Porém, o Remain In Light é o disco mais impressionante deles e um dos mais impressionantes dos anos 80.

https://youtu.be/2KQjy02eqOk

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