Dia 7 — Tecendo o futuro

Túlio Ornelas
Viagem ao Japão
Published in
6 min readOct 3, 2013

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Aqui em Nagoya existem dois museus de ciência e tecnologia muito bons: o Toyota Commemorative Museum of Industry and Technology e oNagoya City Science Museum. O primeiro fica bem mais longe do nosso hotel — cerca de 35 minutos — enquanto o segundo está a uma caminhada de 10 minutos. No entanto, mesmo assim, escolhemos ir ao museu da Toyota, já que os reviews conseguem ser ainda melhores que o museu de Nagoya e suas atrações estão quase completamente traduzidas pro inglês. Para vocês entenderem melhor, no outro museu a descrição era a seguinte: museum — moderate english; planetarium — no english.

O museu da Toyota é sensacional. Ele fica na antiga fábrica de tear da empresa, sendo que as estruturas externas estão completamente preservadas. Aliás, descobrir que a empresa começou fabricando máquinas de tear foi realmente curioso. Lembramos logo da história da Nintendo que começou fazendo cartas de baralho, passou pelo ramo de motéis e hoje em dia produz jogos e consoles de video-game.

Vamos logo avisando que a área a ser visitada é enorme, com diversos pavilhões e atrações. Começamos pelo Textile Machinery Pavilion,ondeaprendemos a criar linha a partir do algodão bruto no tutorial de uma japonesa que falava muito bem inglês, o que é bem mais difícil em Nagoya do que em Tokyo. Vimos a história da tecelagem, os diversos tipos de matéria prima que dão origem aos mais diversos tipos de tecido e a evolução das máquinas do setor — diga-se de passagem, estas parecem uma mega gambiarra.

Vale dizer que cada máquina possui uma explicação escrita, citando sua origem, criador e etc.Várias delas possuem um vídeo mostrando a máquina em ação e, algumas, você realmente pode botar para funcionar.

Depois de virarmos mestres tecelões, nos dirigimos para aMetalworking Area. Neste pavilhão você encontra diversas peças internas de motores, máquinas de tear, HDs e mais em exposição. Existe uma máquina com 3 vídeos explicando como aconteceram as descobertas que levaram ao processo atual do molde de metais. Por mais incrível que pareça, as máquinas modernas ainda utilizam o mesmo princípio das antigas: deixar o ferro fervendo, passá-lo de forma em forma até chegar-se ao formato final desejado. O que muda é que antigamente as formas eram de barro, hoje são de metal.

Após os vídeos, assistimos a uma apresentação ao vivo do processo todo! Incrível como o bloco inicial de ferro chegou a 1200˚C em apenas 30 segundos! Mas cuidado: o senhor que fez a apresentação tinha um dedo pela metade. Provavelmente ou deve ter encostado em um bloco fervente ou deve ter esquecido o dedo na prensa de molde. Logo, não tentem isso em casa.

Assim que saímos dessa apresentação, fomos correndo assistir uma demonstração de uma máquina de tear a vapor: a bichinha ocupava uma sala inteira e ia até o teto. Não ficamos até o final, pois já dominávamos a arte de tear. Pausa para o almoço.

O almoço de hoje merece um parágrafo só para ele. O lugar se chamava Brick Age e ficava dentro do complexo. Foi a primeira vez desde que chegamos ao Japão que conseguimos comer mais do que 100 gramas de carne de vaca, em uma única refeição, e pedir uma bebida diferente de água e chá verde. A sopa de tomate dava um banho no molho a bolonhesa do Spoleto (tá vai, isso é fácil) e a sobremesa era bem legal também.

De barriga forrada, nos dirigimos para o último e maior pavilhão: oAutomobile Pavilion.

Essa área do museu é gigantesca. Tudo começa com a história de como o filho do fundador da Toyota perseguiu o sonho do pai de criar automóveis completamente produzidos no Japão. É incrível ver tudo o que o cara teve que estudar e todos os processos que ele teve que trazer para o país para alcançar tal objetivo. Por exemplo, como as siderúrgicas japonesas não conseguiam produzir as peças com as qualidades necessárias, a Toyota resolveu fazer tudo por conta própria. Tudo com o dinheiro dos teares.

Após a contextualização, caímos num galpão com cada peça de carro, bateria, pastilha de freio, disco de embreagem já produzido pela Toyota. Também existem mecanismos separados para você entender como funciona cada processo de um carro: aceleração, troca de marcha, frenagem, direção… Ah! E tudo com direito a ano de fabricação, o que trouxe de inovação, textos e vídeos explicativos, simuladores e etc.

Existe uma parte sobre crash tests, uma parte que exibe robôs montando carros (de verdade!), uma ala exibindo os primeiros carros produzidos pela Toyota, uma ala dedicada aos motores elétricos e suas baterias, uma seção sobre a tecnologia de pneus, fábricas virtuais, enfim, é impossível visitar tudo.

Realmente nos divertimos com a possibilidade de interagir com tudo, de ser possível ligar um motor e acompanhar os pistões funcionando ou freiar e ver todo o sistema ABS em ação. Para os aficcionados por carros (ou tecidos), este museu é parada obrigatória.

Saímos às 16:00, ainda com esperança de visitar o museu dos trens, o SCMAGLEV Railway Park, também muito bem falado, principalmente por causa de seus diversos simuladores. O problema é que os museus fecham cedo, geralmente às 17:00 horas. Então, quando íamos pegar o último metrô, bateu o horário limite e tivemos que abortar a missão. A dica que fica é: acorde cedo e pegue o primeiro museu abrindo ou não inclua dois museus no mesmo dia. Até porque há muita informação para ser digerida. Como alternativa, decidimos ir a um dos templos mais importantes do budismo japonês.

Atsuta Jingu Shrine

A viagem até aqui serviu apenas para outra lição: templos não abertos à visitação do público não valem à pena. O lugar é bonito, mas gastar tempo para tirar apenas umas duas fotos e voltar para o hotel é decepcionante. Decidimos voltar para o hotel mais cedo para planejar melhor nossa estadia em Kyoto. Partimos amanhã bem cedo.

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