Sério, cérebro, que você permitiu o burnout entrar?

Roberta Romão
casasbahiatech
Published in
4 min readNov 17, 2022

Esta é uma história sem fim, com um caminho mais feliz do que parece e um objetivo em curso.

Era a segunda ou terceira semana no emprego novo, em uma cadeira sênior, com uma responsabilidade enorme. E o que aconteceu mudou drasticamente a minha maneira de observar a vida, como um todo.

Eu acordei com uma sensação estranha, um desequilíbrio físico bizarro — não tem outra palavra. “Labirintite”, pensei. Fui à médica, fiz exames físicos e zero sinal de que o meu labirinto estivesse inflamado. Uma semana de medicamentos e desequilíbrios e, de repente, passou. Os exames não apontaram qualquer sinal de labirintite.

Um mês de equipe nova e boom, outra surpresa. Enquanto eu analisava uma jornada no Figma, a minha visão ficou turva e eu via como se fossem glitters caindo. Há 5 anos na terapia e cursando o segundo ano de Psicologia, eu sabia o que aquilo significava. O Burnout já havia arrombado a porta da minha mente e estava derrubando as janelas do meu corpo.

Com uma depressão leve a tiracolo, eu voltei pra casa com o coração acelerado e a decisão de que não poderia permanecer em um novo emprego, ocupando uma cadeira que deveria ser de alguém com plenas capacidades.

Pense aqui comigo: como que tu diz pra pessoa que é teu chefe há um — repito, UM — mês, que está com burnout?

Sério, cérebro, que você permitiu o burnout entrar? Esta é uma história sem fim, com um caminho mais feliz do que parece e um objetivo em curso.

Vulnerabilidade, coragem, medo e empatia

Eu sempre fui uma pessoa comunicativa e transparente. Mas a confiança é uma construção pra mim, desenvolvida por duas pessoas. Não tinha jeito, eu precisava dizer a verdade. Então fui com toda a minha vulnerabilidade e coragem falar sobre algo que, na época, eu não aceitava, mas vivia.

O que eu não imaginava era que eu teria o maior apoio que eu precisava, de onde eu menos esperava. O meu líder não apenas entendia o que eu estava sentindo. Ele apoiou o meu momento, se colocou à disposição e não deixou, em um momento sequer, de acreditar em mim.

Além dele, eu estava totalmente amparada por um time composto por pessoas incríveis. Foram diversos os momentos em que eu não acreditava em mim, mas essa equipe toda seguia acreditando e confiando.

Um passo, uma queda, várias mãos e um novo momento

Pra mim, foi profundamente difícil aceitar que eu estava com burnout e, pior, uma “leve depressão”. Eu não chorava, não me sentia triste nem angustiada. Só que eu não levava em consideração a minha apatia com a vida, não queria sair da cama, não conseguia me concentrar e focar, saía de casa com uma sensação de obrigação enorme.

Mas algumas coisas precisaram ficar pelo caminho pra que eu conseguisse seguir em frente com alguma tranquilidade. Eu sabia bem que, se parasse tudo, seria muito pior pra mim, por conhecer bem essa Robertinha que tenho aqui dentro.

Pois então, o trabalho seguiu. Nem sempre foi fácil, não estou aqui pra mentir pra você. Tive dias em que eu chorava com quem, hoje, são amigas e amigos, mas que, na época, eram colegas de trabalho e chefe.

Foram essas pessoas e esse trabalho que me ajudaram a sair do limbo — uma pausa aqui pra eu te explicar: era um vazio, uma sensação de incapacidade, inutilidade, de injustiça pra com quem precisava de um emprego. Sim, eu sentia isso profissionalmente falando, todo dia.

Autoconhecimento, psicologia, UX e limite

Como eu disse antes, são alguns anos de psicoterapia, então não foi difícil analisar e entender as causas que me levaram ao burnout. Agora, era — e ainda é — preciso ter atenção pra que as coisas não se repitam.

Eu quis tanto uma transição de carreira, que fiz mil e um cursos, atividades, assisti palestras e workshops. Lia artigos, livros, aplicava pra mil e uma vagas. Sou bastante objetiva quando sei o que quero, mas não soube respeitar os meus limites físicos e mentais.

Hoje, com um pouco mais de um ano de Viahub, como parte do time de UX do Marketplace, eu tenho plena consciência de que soube aproveitar a oportunidade que eu tive. A minha liderança e toda a equipe permaneceu na torcida, na esperança, com olhos e ouvidos atentos a qualquer expressão diferente que eu pudesse ter — eu sou muito expressiva, risos nervosos!

Então, o que eu quero deixar pra você como mensagem final é que, sempre que possível, observe e analise bem não apenas a empresa, mas com quem você vai trabalhar. Desde a entrevista eu sabia que a minha gestão seria feita por um líder, não um gestor. Você sabe bem que existe uma grande diferença entre essas duas palavras.

A nossa área é de extrema colaboração e empatia. Se você não sentir isso na sua próxima entrevista, talvez não seja o melhor lugar pra estar a maior parte do seu tempo.

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