Por Lugares Incríveis (2020) | Crítica

Danilo Monteiro
Viajante Paranoide
Published in
3 min readJun 27, 2020

Alerta de gatilho no conteúdo: suicídio.

Baseado no best-seller homônimo de Jennifer Niven, Por Lugares Incríveis é um drama adolescente que pretende discutir alguns problemas relacionados à saúde mental. No entanto, apesar da mensagem importante, o filme nunca encontra uma forma certa de balancear esses temas e o que nos resta é uma produção bastante superficial.

O filme inicia com Theodore Finch (Justice Smith) encontrando uma adolescente da sua turma, Violet Markey (Elle Fanning) que, deprimida com a morte da irmã, está prestes a pular de uma ponte. Após convencê-la a descer, Finch desenvolve um fascínio por Violet e, aos poucos, vai se inserindo na vida da jovem. A amizade entre os dois rapidamente se transforma em paixão. No entanto, poucos sabem que ele também sofre com um terrível trauma do passado.

Os protagonistas são bem escalados. Enquanto Smith dá vida a um jovem charmoso e carismático, Fanning é eficaz nas partes dramáticas. Os dois têm química juntos e o romance — apesar do desenvolvimento atropelado — é convincente. O mesmo não pode ser dito do elenco secundário, que são apenas estereótipos: os pais amorosos, a irmã compreensiva, o ex-namorado fortão, os amigos “diferentes”… Todos estão lá apenas para, eventualmente, ter uma grande conversa que vai iluminar o caminho dos protagonistas e depois desaparecerem completamente.

Outro problema é que enquanto os protagonistas tentam constantemente nos lembrar que são simples adolescentes apaixonados, o roteiro sabota essa tentativa ao colocar um senso desmedido de importância nas falas. Em vez de evocar isso nas ações, há sempre coisas como “você tem mil capacidades em você”, “você é todas as cores em uma só” junto a uma trilha sonora invasiva. Todos os momentos precisam ser contemplativos, profundos. Na primeira vez, é bonitinho; na quinta, é apenas irritante.

Graças a esses momentos, o filme traz em si um sentimento de que uma tragédia terrível vai acontecer a qualquer momento. Para aumentar essa sensação, a direção vai destacando elementos físicos (a pedra, o lago, o caderno, etc.) para representar a ligação emocional entre os protagonistas. Esses elementos que somem e reaparecem acabam gerando uma espécie de jogo chantagista onde o detetive é o espectador: ele tem que descobrir a importância desses elementos para a trama.

O maior problema da produção, no entanto, começa ao tentar revelar o trauma de Finch para a audiência. Por focar apenas em Violet no início, os problemas de Finch estão sempre em segundo plano. Quando eles começam a emergir de fato, é tudo feito de forma apressada e mal desenvolvida. Pior que isso, o roteiro toma um caminho irresponsável ao tornar um grande acontecimento do terceiro ato em algo que serve para inspiração. A gravidade do momento é totalmente perdida.

Por Lugares Incríveis é uma produção com boas atuações, mas com um enredo que não consegue conectar seus temas de forma eficaz. O resultado traz uma história que beira à irresponsabilidade ao tratar temas delicados de forma surpreendentemente rasa.

Nota: 1 de 5 estrelas.

Título: Por Lugares Incríveis (All The Bright Places, 2020). Disponível na Netflix.

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