Fonte: https://www.techvshuman.com/2017/08/

A era da tecnologia acabou. Começa a era do ser-humano.

João Henrique Moldenhauer
Viaje com o Joao

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Esse título pode parecer um pouco óbvio a primeira vista, muitos podem pensar “mas não foi sempre a nossa era?”. Não necessariamente.

Como profissional de branding e apaixonado por comportamento e cultura sempre achei de uma complexidade incrível trabalhar para o ser-humano como grandes grupos. É cômodo botar as pessoas em caixinhas, estereotipá-las e trabalhar em cima de personas que materializam esses estereótipos. Ignorando as subjetividades das nossas emoções, as experiências individuais de cada um, a variação de humor ou até mudança de gostos conforme o tempo.

Botar pessoas em bolhas foi a solução encontrada pelas empresas de tecnologia para conseguir com que seus algoritmos tivessem uma mínima acurácia em ler padrões de comportamento e direcionar serviços e anúncios para elas. Isso faz mais de 20 anos e ainda não conheço um método automatizado e efetivo que tenha sido criado, em meio a várias tentativas.

Enquanto isso nas feiras que aparecem e desaparecem pelas ruas do país o seu João e a Dona Maria continuam vendendo todo seu peixe para os mesmo clientes que toda a semana param em frente a suas barraquinhas. Aqueles dos quais conhecem a história, as preferências (ou as mudanças de), dos quais perguntam como foi a semana, como tá se sentindo, como anda a sogra, o marido, a namorada, o cachorro ou o papagaio.

Esse tipo de abordagem sempre foi efetiva ao longo da história. Somos seres sociais, isso é verdade. Mas também é verídico que tendemos a viver em pequenas comunidades e temos mais facilidade de empatia quando estamos de frente com quem nos conhece, ou que se importa em nos conhecer.

Não somos um estereótipo de classe. Eu não sou homem, heterosexual, branco, brasileiro, que gosta de viajar, cultura, comunicação e sexo. Eu sou muito mais que isso. Daqui a pouco posso não ser mais hetero, parar de gostar de viajar ou até nem mais ser homem. Com 60 anos posso querer parecer mais jovem do que agora com 35. Eu simplesmente sou o João. E aposto que sou ao mesmo tempo muito parecido e muito diferente do que todos os Joões que existem nesse mundo. Assim como você e seus amigos, seus parceiros, seus familiares ou colegas de trabalho.

Na verdade somos seres únicos com algumas camadas em comum sobrepostas. Não existe caixa para nós pois somos fluidos. E o tom de complexidade que pensar assim causa é proporcional ao da beleza que tem ao admitir e trabalhar nisso.

Agora voltando a comunicação, ao mundo atual. Como trabalhar nisso em escala global? Como fazer com que os algoritmos alcancem tal grau de subjetividade que só a mente humana consegue chegar? Como automatizar o alcance de maneira efetiva como indivíduos?

A séculos o homem tenta achar lógicas e padrões na paixão, na atração física, na emoção que um torcedor de time de futebol tem, nas variações de humor, depressão, ansiedade…será que teria uma lógica padrão? Ou a lógica única a cada um? Quem sabe nem precise ter lógica!

Não sei, também não tenho resposta para tal. Talvez aprender com o feirante da sua esquina. Às vezes para evoluirmos temos que voltar a nossas origens, resgatar coisas que sempre deram certo e foram descartadas em algum momento por pensarmos que não serviria mais.

E algo a se pensar, algo que começa a dar sinais para uma disrupção. A cada dia vemos Facebooks da vida ruindo a nossa frente simplesmente por querer quantificar o que (hoje) só se é possível qualificar. Usar a lógica no que talvez não a tenha (e nem precise ter).

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