Bolsonaro e a desigualdade brasileira

João Henrique Moldenhauer
Viaje com o Joao
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3 min readJul 31, 2018

Ontem, assim como muitos de vocês, assisti o Roda Viva do pré-candidato a presidência Jair Bolsonaro.

Entre muitos absurdos ditos por ele (que já era esperado vide que minha linha de pensamento vai em um caminho oposto ao dele) o que mais me chamou a atenção foi o comportamento dos jornalista. Algo que ando observando já desde a extrema polarização da nossa sociedade à 4 anos atrás.

E isso expôs ainda mais minha teoria: De que o “fenômeno Bolsonaro” não seja somente reflexo de um descrédito quanto a política, de uma reação a crise global ou reflexo do governo Dilma. Mas sim a materialização da desigualdade cada vez mais abismal do nosso país. Não só econômica mas social.

Calma aí! Irei explicar.

Desde 2014 temos dois lados políticos distintos e bem polarizados no Brasil: A direita e a esquerda. Como se conseguíssemos colocar com extrema facilidade em somente duas caixinhas toda a complexidade do nosso país.

Teoricamente a esquerda defende uma intervenção maior do Estado para que seja possível um maior subsídio social afim de diminuir a desigualdade. A direita defende uma menor intervenção do Estado para que o mercado se auto regule e assim, através da tal “meritocracia” o mercado aqueça, as pessoas empreendam e a desigualdade diminua.

Como não conseguimos obviamente enfiar a nação 100% dentro de uma dessas caixinhas os dois lados ficam se acusando, vomitando suas verdades e terceirizando o problema, se abstendo de ser parte dele. Até porque para grande parte desse povo a água nunca bateu na bunda, independente da política vigente.

No meio de tudo isso temos o real Brasil. Aquele que tem preocupações mais básicas. Aquele que se importa se o feijão está em promoção, se o dinheiro vai dar para até o final do mês ou vai ter que pendurar a conta no mercadinho de novo. Aquele que está pouco se lixando se a Eletrobrás vai ser privatizada ou não, contanto que não falte luz para ver a novela e a conta fique mais barata.

Essa parcela da população também sofre com outra coisa diariamente. O silenciamento, a baixa auto estima, a falta de vontade de reagir a olhares de canto de olho e/ou ataques diários de “você não sabe de nada!”, “Quantos livros vc leu na vida?”, “Fica mandando esses artigos sem nem ler sobre”, “Entende algo de economia?”.

Conseguiram perceber a semelhança com o Roda Viva de ontem? Ou com a tratativa que uma classe média de esquerda tem com o Bolsonaro? E o quanto isso reforça a imagem dele e não denigre?

O que presenciei ontem foram jornalistas fazendo perguntas capciosas (raras sobre o plano de governo) sobre o Golpe de 64, sobre racismo, sobre homofobia, sobre machismo, etc. E vi uma pessoa se justificando perante acusações de cunho pessoal e falando a língua do brasileiro médio.

Vi o “patinho-feio” ser atacado pela “elite intelectual” . Assim como o brasileiro médio o é diariamente através de um preconceito velado, da necessidade de manter o ego inflado perante o mais fraco. E aí mora o perigo, aí nasce uma (às vezes improvável) identificação.

E então começo a ver classes marginalizadas que antes se sentiam enojados pensando apoiá-lo. Ouço de histórias de gays e mulheres que começam a pensar em votar no Bolsonaro. Não pelo discurso, mas por identificação com a situação, com os ataques, com a falta de tempo na televisão. Tudo isso é conluio para denegrir quem não entra no esquema de corrupção, vão dizer.

A ascensão do Bolsonaro explicita um problema enraizado na sociedade brasileira e que muitos nem percebem, porque praticamente todos praticam. A falta de empatia, a briga de egos, o individualismo, a falta de diálogo e falta de tolerância quanto a diversidade que caracteriza nosso país, mas em vez de abraçá-la, todos queremos categorizá-la em caixinhas cada vez menores.

Acho que se, apesar de termos opiniões opostas, começarmos a tratar o Bolsonaro e seus eleitores como pessoas como a gente, não como ignorantes ou “Bolsominions”. Se ouvirmos o que eles tem a dizer, suas experiências de vida. Se tivermos vontade de entender quais motivações os levam a querer tal pessoa em Brasília podemos ter argumentos plausíveis para mudar pontos de vista. Porque quando você acua o cachorro ele volta para te morder, quando você ganha a confiança e o respeito dele vai ganhar um seguidor para a vida inteira.

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João Henrique Moldenhauer
Viaje com o Joao

Reflexões, experiências e sentimentos para uma discussão sempre construtiva.