Brasil: Um país sem passado. Um país sem futuro.

João Henrique Moldenhauer
Viaje com o Joao
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4 min readSep 5, 2018
Fonte: Google

Mindfulness é um termo que está em voga hoje em dia. Dizem que te faz mais produtivo, melhora o sexo, o humor, diminui a ansiedade…

Mindfulness nada mais é que a prática de abstrair os pensamentos sobre o passado e também sobre como poderia ser o futuro. Te faz sentir e viver somente o momento presente. Que é o único dos tempos que você realmente tem controle.

Se tivesse um prêmio de “País Mindfulness” com certeza o Brasil seria o campeão. Pelo menos a primeira vista. Porque os efeitos para o país de se viver no presente não parecem tão promissores quanto a prática que ganha novos adeptos a cada dia.

O Brasil tem memória seletiva. Lembra do que lhe convém. E apesar de que é sabido de que somos produtos de nossas experiências e vivências me parece que tentamos botar tudo isso para debaixo do tapete. O incêndio do Museu Nacional do Rio foi e será sempre a materialização do descaso do governo para com a conservação da nossa história. Mas também do nosso descaso para com o mesmo.

O Louvre em 2017 teve o dobro de visitas de brasileiros que o Museu Nacional do Rio no mesmo período. Poucos sabem quem foi a princesa Leopoldina, moradora do palácio que se rendeu as chamas. Mas muitos sabem da história de Napoleão Bonaparte, cujos espólios formam o famoso museu de Paris. Talvez também poucos sabem como nossas histórias se misturam quando a família real fugiu para o Brasil e passou a morar nesse mesmo palácio por causa justamente da guerra iniciada por Napoleão.

E você? Conhece a história da sua cidade natal? Como ela foi criada? Quem foram os protagonistas? Que tipo de diferença fizeram? Já visitou os museus da sua cidade? Ou indicou a seus amigos para que os fizessem?

As tecnologias mudam cada vez mais rápido, o mundo está cada vez mais conectado mas o ser-humano continua precisando de heróis, de referências, de história.

E um país sem história é um país sem identidade, sem referência, um prato cheio para governantes e para o menosprezo e baixa estima já evidente do que é “ser-brasileiro”.

Mas claro que nunca nos colocamos no meio, mesmo com um passaporte que nos condena.

E agora, vamos falar de futuro?

“Brasil, o país do futuro.”

Você já deve ter ouvido essa frase. O futuro que nunca chega. O futuro que está cada vez mais distante. O futuro que não existe.

Assim como o Brasil e os brasileiros tendem a tem memória seletiva e ignoram sua história nós também não conseguimos nos planejar de maneira consistente a longo prazo.

Para ser mais específico acho que como brasileiros temos como limitação mental e social de tempo em que conseguimos nos planejar a 1 período eleitoral, 1 Copa do Mundo, ou seja, 4 anos.

Eu aposto que você leitor nunca fez um planejamento consistente de ações para que você chegasse onde quer estar daqui a 5 anos. Assim como você nunca vai ver um plano de governo com o título “Nosso Brasil daqui a 20 anos”.

O máximo que vai ver é um “50 anos em 5”, isso porque “40 anos em 4” não soaria muito bem para o marketing.

Infelizmente nossa memória não dura tanto, arrisco dizer, quando muito, pode durar ano.

Mas quando falamos de memória voltamos ao tempo passado. Passado tal usado para falar de futuro. Afinal não podia se esperar algo mais de um país em crise eterna de identidade. Que tenta achar uma mãe para lhe dizer o que fazer.

O passado agora volta em anos eleitorais. Um fala sobre os 8 anos dourados de sua presidência. Ignorando o fato de que já se passaram 8 anos e o mundo e o país mudaram. Acho que todo mundo muda muito em 8 anos né? O outro fala dos seus feitos em São Paulo. Pregando discursos contra violência ignorando o fato de que o estopim das manifestações de 2014 foram causados justamente porque ele ordenou mandar bala no movimento Passe Livre e atingiu o olho de uma jornalista.

Bom, como falei o Brasil tem memória seletiva. Não esperaria menos dos nossos candidatos.

A cada 4 anos somos lembrados dos títulos da seleção brasileira e dos “grandes” feitos dos nossos políticos. Mas e o futuro? Não éramos o país dele?

O país do futuro não fala de futuro. O futuro dá medo. O futuro gera expectativa e a expectativa cobra o comprometimento. Se não nos comprometemos nem com nossa história imagina se o faríamos para com o que nem aconteceu ainda?

O país sem passado tenta costurar um passado: “Porque no meu governo eu fiz x, y e z coisas”, “Porque a 10 anos atrás o candidato tal falou X coisas”.

O passado é mais seguro, já aconteceu. Mas e qual sua visão para o futuro? Como deseja fazer para que voltemos a ter uma perspectiva de futuro?

“Não sei. Verei com meus futuros assessores. Se for eleito(…)”

Discursos vazios para o passado. Discursos vazios para o futuro.

E enquanto isso nossa história é queimada. Nosso futuro é ofuscado.

E nos resta o Mindfuness. Aquele dos memes, dos textões do facebook…aquele do carnaval.

Porque afinal, o passado já passou e o futuro a Deus pertence. Não é?

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João Henrique Moldenhauer
Viaje com o Joao

Reflexões, experiências e sentimentos para uma discussão sempre construtiva.