Uma outra economia é possível?

João Henrique Moldenhauer
Viaje com o Joao
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4 min readAug 28, 2018

Com toda essa turbulência econômica mundial, cotação do dólar, aumento do uso de drogas, solidão e carências em um mundo cada vez mais “conectado”. e taxas de depressão e suicídio aumentando sem motivo aparente me fizeram refletir na última semana sobre a trilha que o capitalismo segue e como isso impacta nossa noção de realidade e inclusive qualidade de vida.

Hoje é muito difícil para nós enxergarmos o tamanho de um país, de uma empresa ou inclusive nosso valor como profissional sem monetizar tudo. Nas últimas semanas a Apple foi a primeira marca a alcançar US$ 1 trilhão de valor de mercado. O Brasil tem hoje a oitava maior economia do mundo com um PIB de U$S 2.080 trilhões. A empresa do Zezinho fatura R$ 50 mil por mês e meu valor estimado é de R$ 100,00 hora de trabalho.

Todos os dias vemos notícias de como a bolsa, o dólar, o PIB, a economia…tudo subiu ou desceu tantos %. Mas sabia que a menos de 200 anos o modus operanti era outro?

A relação do ser-humano com o dinheiro existe a milênios. As moedas cunhadas como representação de dívida em troca de mercadorias estão espalhadas pela história desde a antiga Grécia, a China imperial, a Europa medieval e a América colonial. Porém até meados de 1900 ninguém se preocupava com o crescimento da sua produção em termos monetários. A mensuração do progresso de um negócio era feito, pasmem, pela capacidade de deixar a vida das pessoas e das comunidades melhor. Pela capacidade de investimentos no ambiente, nos funcionários e inclusive nos próprios empresários.

Em 1791 o então secretário do Tesouro dos EUA escreveu a vários fazendeiros e empresários do país para que passassem a capacidade produtiva em dólares de suas propriedades. Ele teve que desistir pois aparentemente a maioria dos donos de terra não faziam a menor ideia de como botar um valor em suas produções.

Até 1850 a forma mais popular de calcular o crescimento de um país (nos EUA e Europa) era quantificar o crescimento ou o decréscimo de fenômenos como prostituição, prisões, crimes, educação, desequilíbrios mentais, expectativa de vida e doenças.

As unidades de medida eram corpos e mentes, e nunca dólares e cents.

A economia baseada na moeda começou a ganhar força com o processo abolicionista dos EUA. Os Americanos do norte e sul do país começaram a brigar entre eles para ver quem tinha melhores “estatísticas morais” para provar que suas comunidades eram mais desenvolvidas. Os jornais abolicionistas apontavam que o norte tinha mais estudantes, escolas, bibliotecas e universidades. O sul, por sua vez, defendia que a liberdade era ruim para os negros. Que livres iriam aumentar as taxas de pobreza, crimes, prisões e etc.

Então para sanar esse impasse os políticos deixaram de lado as estatísticas morais e passaram a medir a produtividade das fazendas com e sem escravos, baseando a “prosperidade” única e exclusivamente em valores monetários. E o capitalismo como conhecemos hoje teve início.

Bancos, bolsas de valores, precificação especulativa, jornadas de trabalho extenuantes, valorização do indivívuo por produtividade, dolarização da economia mundial, ansiedade, depressão, suicídios. O fator monetário rapidamente sobressaiu ao fator humano. Os EUA tem a maior economia do mundo, mas uma sociedade doente. Dependente de opióides e individualista. Até que ponto isso é saudável?

Um pouco depois da adoção da política monetária, já em 1869, um neurologista chamado George Beard já identificou uma doença relacionada aos excessos do crescimento das cidades e industrias. Do qual ele chamou de “neurastenia”, que logo foi apelidade de “Americanitis”. Os sintomas incluíam enxaqueca, dores musculares, disfunção erétil, crises de ansiedade, depressão, irritabilidade e “falta de ambição”.

Semelhanças com a atualidade são meras coincidências.

Hoje problemas sociais só ganham visibilidade se o “prejuízo financeiro” para o Estado se torna alarmante. Todos os dias vemos exemplos como: o combate ao câncer de pulmão causado por cigarros custa X milhões aos cofres públicos, ou o tratamento de viciados a drogas mais Y milhões. Remédios anti-depressivos gastam mais Z milhões.

Estamos tão anestesiados que a discussão só é levada a tona, não só pelo governo, mas pelo indivíduo, quando há um impacto financeiro, e não no ser-humano.

Em 2008 um país pareceu enxergar além (ou voltar ao tempo), o Butão. Foi a primeira nação a deixar de seguir o “Produto Interno Bruto” e criar o “Índice de Felicidade” onde media o sucesso do país por quão satisfeito sua população estava. A iniciativa teve tanto sucesso que a ONU adotou um modelo parecido para medir os índices de felicidade dos países. Mas de que adianta medir de fora se por dentro nenhuma mudança de mentalidade é implementada?

O Brasil hoje é a oitava maior economia do mundo, mas se medíssemos nossa prosperidade pelas métricas de 1800? Em que lugar estaríamos?

Precisamos nos ater aos resultados especulativos financeiros de investimentos/cotação de uma moeda estrangeira ou a necessidade da nossa nação em ser mais empática, igualitária e ter qualidade de vida?

Cursos sobre felicidade estão brotando nas universidades. Pessoas estão buscando mais sobre espiritualidade, tentando conhecer mais a si mesmos e influenciar positivamente ao meio em que vivem. Mudanças virão.

O Capitalismo como conhecemos precisa ser mudado. Nada pode crescer para sempre e ser sustentável ao mesmo tempo. Uma nação onde o dinheiro perde importância também a ganância, a corrupção, o individualismo e a violência perdem espaço. Depende de nós nos perguntarmos o que é mais importante: Ter ou ser?

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João Henrique Moldenhauer
Viaje com o Joao

Reflexões, experiências e sentimentos para uma discussão sempre construtiva.