Land Rover é o nome do rei das tapiocas
Sem Land Rover, a rua Campinas é igual a todas as outras ruas de Praia Grande.
Mas, quando ele finaliza os três quilômetros de pedalada as coisas começam a mudar. Primeiro a esquina fica mais colorida, pois a bicicleta de Land é amarela e o banco de plástico que ele coloca ao lado do poste é azul. Em seguida, panelas são posicionadas sobre o pequeno fogão com duas bocas. O cardápio é preso com um imã, para não voar. E os utensílios de cozinha são dispostos na bancada ambulante. Pronto, a rua Campinas já é diferente de qualquer outra no Boqueirão ou na cidade.
Passou a ter um sabor especial. O sabor que só o tempero de Land Rover tem.
Ele é o único do Brasil
O dono de uma simpatia ímpar nasceu Land Rover de Alcântara.
O nome do carro de luxo não é apelido. O rei das tapiocas é o único em todo o Brasil registrado assim, uma curiosidade que ele conta orgulhoso aos clientes. Quem dúvida do fato é convidado a conferir o documento, guardado em uma bolsinha na cesta da bicicleta.
“Meu pai não me deu um nome, colocou uma placa na bunda né?”.
Também não há quem faça tapiocas como as que ele prepara ali na esquina. O cardápio tem tanto opções salgadas quanto doces, mas o que conquista a clientela são as massas. A técnica e a receita para a produção das tapiocas com sabores diversos foram desenvolvidas pelo próprio Land ao longo de 13 anos de trabalho.
Land gosta de ser liberto
Antes de descobrir o talento na cozinha, Land passou anos trabalhando em fábricas de peças de motos. Em sua carteira de trabalho estão registros em cargos de gerência e encarregado de setor. Ele não era feliz. Precisava ser livre e decidiu abrir seu próprio negócio. Foram 14 empresas até ele começar a vender tapiocas. Quando recebe seus clientes, coloca em prática o que aprendeu em cada uma delas.
“Minha trajetória é cheia de tropeços, vitórias e derrotas. Antes de começar a pedalar, eu tive lanchonete, fábrica de sorvete, gráfica, uma loja de produtos de limpeza… é até difícil lembrar tudo que eu tentei”.
Na 14ª tentativa que não deu certo, Land voltou ao trabalho formal. Em uma conversa descobriu que conseguiria basicamente o mesmo que recebia ali se começasse a vender tapiocas. E então acelerou mais uma vez em rumo a liberdade.
O rei das tapiocas
Nos primeiros meses, pedalava uma bicicleta cargueira com um isopor na frente. O produto vendido era tapioca com recheio de leite condensado e coco ralado. Antes de um ano o lado empreendedor levou Land a criar uma versão de bicicleta que permitia que ele preparasse as tapiocas na hora.
O sucesso fez com que ele tentasse criar uma rede de bike food de tapioca. Também chegou a abrir duas lojas com as tapiocas gourmet. Mas assim como carros não são feitos para ficar em garagens, Land não suportou a ideia de entrar para uma rotina. Voltou para as ruas, de onde não pretende sair.
“Eu adoro trabalhar na rua. Gosto da possibilidade de conhecer pessoas novas, não ter rotina, ficar perto da natureza… é muito gostoso. Eu me sinto realizado de fazer o que eu gosto e do jeito que eu gosto”.
O amor que tem pela rua é um ato de coragem. A ausência da licença, negada a Land há 13 anos, faz com que trabalhar seja um risco: ele já perdeu a bicicleta e todo seu material de trabalho quatro vezes. Mas, como vai abandonar os clientes? Impossível. Em todas as vezes ele montou uma nova companheira para suas pedaladas, preparou novas massas artesanalmente e voltou a pedalar.
Um rei nunca abandona seu povo. Land está sempre estacionado dando sabor a rua Campinas e também às rotinas de quem leva suas massas para consumir em casa. Segundo a prefeitura, a licença que atesta sua realeza deve sair em breve.
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Obrigada por ler até o final :)
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