Thiago levou os desacreditados ao pódio

Victória Silva
vicctoriasilva
Published in
4 min readJul 28, 2019

Um. Dois. Três.

Respira.

Um. Dois. Três.

Será que falta muito?

Um. Dois. Três.

É, agora está longe para voltar. Vou ter que ir até o final.

Um. Dois. Três.

Há quanto tempo eu estou sem respirar? Preciso parar e andar um pouco.

A contagem dos passos e os pensamentos não estiveram na cabeça de uma ou duas pessoas, mas sim de todos que toparam correr no domingo. Quem organizou a corrida, em pleno dezembro, foi Thiago Paiva, um apaixonado por educação física que garantia: o calor não atrapalharia a experiência.

Time dos desacreditados

Nas primeiras reuniões o grupo tinha tudo, menos pessoas que corriam. Mal tinha experiência com atividades físicas, jamais haviam se imaginado correndo e estavam ali com uma certeza: não iam gostar. As desculpas para tal convicção iam desde o sobrepeso, contusões nos joelhos até cirurgias recém realizadas (uma delas em duas válvulas do coração).

Estavam ofegantes antes mesmo de começar, ainda durante o aquecimento. Não fosse a paixão de Thiago, teriam desistido no primeiro domingo ou até antes de completar os primeiros três quilômetros.

Era IMPOSSÍVEL que aguentassem correr tudo aquilo, eles repetiam. Mas, o professor insistia que era tudo uma questão de persistência. E eles largavam rumo ao impossível.

Um cara apaixonado

O que muitos alunos não sabiam é que nem Thiago tinha uma longa carreira na corrida. Segundo ele, é possível contar nos dedos a quantidade de vezes que tinha praticado a atividade antes de se apaixonar por sua atual esposa.

“Eu sou de Minas Gerais. Minha cidade é muito íngreme e, por isso, é difícil ver pessoas correndo na rua. Meu primeiro contato com a corrida aconteceu apenas quando a Mayra, atualmente minha esposa, voltou a morar em Praia Grande e eu vinha para visita-la”.

Nas primeiras corridas, aliás, estavam apenas Thiago, Mayra e mais uma amiga na ciclovia. O grupo cresceu rapidamente e em pouco mais de dois meses já estavam encarando trajetos mais longos. A contagem de passos de três quilômetros passou para cinco. E então seis, oito e dez quilômetros.

Foto do Thiago andando em direção a equipe. Ele veste a camisa da equipe, na cor laranja.
Imagem: Diego Barbosa

Com a semente do esporte plantada, tomaram desafios maiores. Entre as aventuras estão as trilhas que, eventualmente, entram no calendário. Os tênis ficam sujos, as meias nunca mais voltam a ter a cor habitual e os (agora) atletas não são mais os mesmos a cada desafio cumprido: voltam para casa mais confiantes a cada experiência.

Donos do pódio

Tamanha é a confiança nos dias de hoje, eles aceitaram trocar o habitual encontro de domingo por uma corrida no sábado. Para a primeira competição em que se inscreveram como grupo, alguns encararam o desafio de correr 5km e outros foram ainda mais longe em um trajeto de 10km.

Apesar da brisa gelada, as mãos de Thiago suavam. Aqueceu com o grupo, os ajudou a alongar e então caminhou para o marco dos primeiros 100 metros enquanto o grupo esperava a largada ser dada. Quando viu a primeira pessoa vestida na camisa laranja florescente da equipe se aproximar da chegada, Thiago gritou de alegria.

A cada um a comemoração se repetia. E ele corria até a faixa de chegada os incentivando nos metros finais.

“Vamos, vamos, vamos. Você consegue ir mais rápido, já está chegando!”.

A emoção estava nos gritos do professor e nos olhos de cada um que completava a missão.

Mal sabiam que naquela noite os desacreditados iam ser chamados para subir no pódio. Foram seis troféus. Todos para mulheres. Todos para pessoas que em dezembro não imaginavam ser capazes de correr sequer 1km.

Thiago segue recrutando desacreditados para sua equipe. Faça chuva o sol, as acontecem todos os domingos (dia, horário e local são divulgados no Instagram) na orla de Praia Grande. Não há cobrança alguma, apenas incentivo.

Quem não acredita ser capaz de correr hoje se considera esportista. É unanimidade entre eles, a paixão de Thiago foi essencial para essa mudança de vida.

Obrigada por ler até o final :)

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Victória Silva
vicctoriasilva

Conto histórias na internet e falo sobre as coisas mais legais que acontecem em Santos (SP).