O Tal Atacante

Victor Arantes
Victor Arantes
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4 min readJun 10, 2020

Comecei a entender o futebol de verdade na Libertadores de 2008. A marcante equipe do Fluminense me encantou e me fez mergulhar nesse ambiente. Estudava durante o dia e chegava em casa correndo para entrar no computador, atualizar a página do Flu nos sites esportivos e, assim, ficar a par das novidades do meu clube. Foi dessa forma que, no início do ano seguinte, tive acesso à notícia da contratação de um famoso atacante por parte do Tricolor das Laranjeiras.

Por mais que meu pai tenha me dito que esse atacante era um jogador de Copa do Mundo e que era um reforço de peso para o nosso time, não compreendi bem a dimensão daquela contratação. Estava bem chateado com a saída de alguns dos meus grandes ídolos — Washington e os Thiagos — e, sinceramente, desacreditado com a temporada do Fluminense. Esse desânimo só se intensificou com a péssima campanha do Fluminense nas primeiras 30 rodadas do Brasileirão de 2009.

Um jogo mudou a história. A minha e, também, a do Fluminense. No dia 01 de novembro de 2009, estava assistindo ao confronto contra o Cruzeiro pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro. Éramos lanternas e perdíamos o jogo facilmente por 2–0 no 1º tempo. Aquela provável derrota praticamente sacramentava nosso rebaixamento. Já tinha desistido. Foi aí que ele apareceu e mostrou que, de fato, nunca foi um jogador comum. De forma heroica, o Tricolor virou o jogo com 2 gols desse atacante e um do nosso grande zagueiro Gum e, com isso, ganhou fôlego, alma e confiança para engatar a maior reação da história do futebol mundial.

Muitos falam de 10 e 12, mas nada disso aconteceria sem o 09. No ano e nas costas da camisa. As últimas rodadas daquele Brasileirão devem ser reconhecidas como os jogos mais importantes da história do Fluminense. Esse tal atacante deve ser reconhecido como o jogador mais importante da história do Fluminense. Naquele ponto, um rebaixamento deixaria o clube em situação de calamidade financeira e esportiva, e não teríamos conquistado nenhum dos dois brasileiros da década.

O final épico em 2009 devolveu minha confiança e meu ânimo para a temporada seguinte. Contratamos alguns nomes interessantes e um tricampeão brasileiro como treinador. Não iniciamos o campeonato como favoritos, mas, com o tempo e com um desempenho surreal de Dario Conca — outro nome importantíssimo da história do Flu — triunfamos no principal torneio brasileiro após 26 anos da última conquista. O tal atacante não foi um dos principais nomes da conquista, mas marcou gols importantes e exerceu um papel de liderança fundamental dentro do elenco. Já estava com seu nome marcado em minha vida e na de muitos outros tricolores.

E marcou mais. Muito mais. Após um bom desempenho individual na temporada de 2011, que rendeu ao Flu um 3º lugar no Brasileirão, o tal atacante começou e terminou o ano de 2012 a mil por hora. Gol na épica vitória contra o Boca Jrs em La Bombonera, bicicleta na final do estadual e um Campeonato Brasileiro perfeito. O dono do gol, o dono da bola, o dono do campeonato. Capitão do time, artilheiro e craque do ano. Dava orgulho de torcer para o Flu e muito disso se devia a ele.

Após essa conquista, alguns altos e baixos e um doloroso processo de “fritura” para interromper essa história. Se utilizando de um discurso de austeridade financeira, uma das piores diretorias da história do clube negociou o nosso grande ídolo. A torcida não compreendeu e tratou o jogador como o vilão da história. Admito, também não levei a situação numa boa e o pintei como mercenário. Provavelmente por conta do grande vínculo afetivo com o nosso time, nunca jogou nada contra nós. Com o tempo, as mágoas foram se aliviando e um sentimento de saudade nitidamente atingiu as duas partes.

Agora, ele está de volta. Voltou mais velho, mais lento e, talvez, mais cansado. Voltou como herói enquanto aqueles que o fritaram agonizam na insignificância. Voltou pra reparar a história e encerrar a carreira como o grande jogador que sempre foi e como o grande ídolo que se tornou. Voltou pra resgatar parte do orgulho de ser tricolor. Voltou pra marcar, ainda mais, seu nome nas páginas da história do Fluminense. Voltou pra ficar. Voltou pra não sair nunca mais.

Voltou de bicicleta!

Obrigado pelo jogo contra o Cruzeiro e pela incrível reação em 2009. Obrigado pelos títulos de 10 e 12. Obrigado pelos 172 gritos de gol proporcionados até então. Obrigado por me fazer ser mais tricolor ainda. Obrigado por toda a história que foi e que está sendo escrita.

Você sabe o nome do tal atacante.

Vamos por mais.

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