De olho na “Jurisprudência Lula”

Por que não acharia estranho ver partidos “de oposição” ao PT cantando “Lula lá”?

Viés
Viés
3 min readJan 25, 2018

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Estava nas mãos de três desembargadores. Cristiano Zanin Martins até tentou protagonizar a sessão que confirmou, por 3 x 0, a condenação de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas o julgamento ficou marcado pela dura declaração do procurador do Ministério Público Federal e dos votos contundentes – além de afinados – de Leandro Paulsen, Victor Laus e João Pedro Gebran.

A ratificação da condenação de Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, acirrou os ânimos para a corrida presidencial deste ano e é, sim, decisiva para os rumos do país nos próximos tempos. Quem agradece, porém, é a oposição – não pelos motivos pensados.

Sim, embargar juridicamente a eleição do sujeito que aparece na primeira colocação em todas as pesquisas para voltar ao Planalto faz brilharem os olhos de Jair Bolsonaro, que – comicamente – herdaria votos do petista. A avaliação que o governador de São Paulo Geraldo Alckmin faz é de que seu sorriso sem sal também é fortalecido sem Lula, além dos candidatos de partidos de esquerda que, além de serem os naturais órfãos dos eleitores petistas, ganham um mote para ganhar espaço na mídia e, por consequência, votos.

Mas não é disso que falo.

Antes mesmo da condenação, o PCO virou chacota nas redes por propor, de forma vaga, o fim da lei da ficha limpa na conta de Facebook do partido. “Todos têm direito de ser candidato”, entendem. Até um condenado por corrupção.

Entendendo que, entre os políticos que estampam histórias policialescas nos jornais, Lula é o único que ainda aparece com aprovação em alta – por conta de seu discurso e a carência da esquerda de líderes para chamar de seus –, os arautos da manutenção do poder já começam a movimentar-se. Há os de oposição ferrenha, que aproveitam-se do ocaso da capivara lulista e inflamam o discurso, esperando aglutinar votos dos que não gostam do barbudo. Já os flanadores ideológicos, aqueles que fazem conluios com quem é momentaneamente interessante, esticam os olhinhos sobre Lula.

É o caso de Renan Calheiros, antigo aliado do ex-presidente, que aparece nas redes dando coro ao discurso de perseguição política e coisas que a valham. Desponta em palanques abraçado ao velho petista, louco para não perder o foro privilegiado e cair nas mãos de Moro.

Setores do PMDB e dos pequenos e médios partidos sem viés ideológico, junto aos partidos de esquerda nas casas legislativas, não devem demorar para “discutir” a lei que proíbe condenados em segunda instância de serem candidatos – lei, curiosamente, sancionada por Lula – com as justificativas que o ex-presidente cantarola em comícios por aí. E é do interesse da “oposição”, que pode até ensaiar um discurso contrário, manter-se no poder e longe das varas inferiores.

“Lula tem de ser derrotado nas urnas”, mentem os pré-candidatos que temem enfrentar o sujeito nas eleições, mas não podem assumir. E, com esse discurso, procuram ter os mesmos direitos do condenado que pode presidir a República.

É difícil, mas não impossível que Lula consiga candidatar-se. E tem gente salivando para isso, para que se crie jurisprudência sobre casos semelhantes. Se eleito, aí são outros quinhentos. Até arrancá-lo de lá é possível. Mas isso não interessa agora.

Se não desistir da candidatura, Lula conseguirá enfiar mais ainda o país na draga que o consome desde as eleições de 2014. E o Brasil? Este que se dane!

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