Utilidade pública
Tem que acabar mesmo com o Ministério da Cultura. Cultura é inútil. E depois, partindo do mesmo princípio, vamos fazer uma reforma na Educação também, já começando na Educação Infantil: escola é lugar de aprender, não de brincar.
Então é português e matemática pra criança já aos três anos. Mais nada. E vai ser só português e matemática no Ensino Fundamental também. Porque essa coisa de história, geografia, literatura, artes e teatro, a gente sabe muito bem, não enche barriga.
E depois vamos acabar com essa coisa de ensinar filosofia e sociologia no Ensino Médio: vamos trocar por workshops de empreendedorismo e autoajuda, essas coisas que fazem a gente se sentir muito bem.
E no lugar de física e química vamos colocar cursos sobre manuseio de enxadas, técnicas de atendimento de portaria, recepção, limpeza de piscina, e como servir café ao patrão. E nada de questionar o patrão. Onde já se viu ficar ensinando a origem da vida, falando de astronomia pra marmanjo no Ensino Médio?
No Ensino Superior, acabou a mamata: além de ficar proibido passar filminho pra ensinar, só vai ter curso de exatas, engenharia e medicina, só coisa útil. E ficam proibidas também as igrejas e os cultos, afinal oração não enche barriga.
Vamos derrubar todos os templos e construir hospitais e olarias, e também os cinemas, teatros e pracinhas, porque a gente vai precisar de muitos tijolos, e telhas, pra construir uns prédios de duzentos andares, onde a gente vai sentar de frente da TV e assistir o único canal que existe, passando 24 horas por dia o Jornal Nacional.
Aos sábados, no lugar das novelas, dos filmes dublados, dos programas de humor, infinitas reprises do Telecurso 2000.
E também ficam proibidos os brincos, a maquiagem, o violão e o truco. Piadas, a cerveja, fotos na praia. Ficam proibidos os enfeites de festa, os panos bordados e casas pintadas de amarelo ou azul.
Parágrafo único: declaramos extinto o domingo.
Nosso último decreto, bem ríspido e claro, é o seguinte: fica proibido questionar, e mais proibido ainda sonhar.