RESENHAS VIL METAL — Explicando as notas com estrelas (e a bola preta)

Igor Natusch
VIL METAL
Published in
4 min readAug 31, 2015

Resenhar um álbum é uma tarefa fascinante, mas que envolve algumas dificuldades. A principal delas, óbvio, é evitar escorregar demais na subjetividade. Todo mundo é meio subjetivo sobre gostar ou não de algo, mas uma resenha que leve em conta exclusivamente o meu gostar será, via de regra, uma crítica deficiente e com pouco potencial de esclarecimento para quem não ouviu ou não se aprofundou em um disco — o que é, no fim das contas, o objetivo de qualquer resenha. E em nenhum ponto se é tão desgraçadamente subjetivo quanto na hora de dar nota a um álbum.

Pessoalmente, eu não gosto da escala numérica, que avalia discos de 1 a 10 — às vezes acrescentando decimais, ou então permitindo números de 1 a 100. Isso porque acho que ela acrescenta à subjetividade um outro problema: o comparativo entre bandas. Suponhamos que eu resenhe o novo disco do Iron Maiden e dê nota 7 (ou 7,5 ou 75 ou qualquer coisa parecida) e tenha resenhado antes um disco de uma banda novata para quem dei nota 8. Isso significa que eu gostei mais do álbum do grupo iniciante? E mais, que eu de fato comparei ambos e acho esses recém-chegados melhores que o Iron Maiden atual?

Bom, a verdade é que nem sempre. Um disco não existe no vácuo: ele pertence a uma discografia, que está inserida em um de muitos cenários musicais com diferentes exigências e graus de importância. Ele surge em determinado ano, onde o subgênero da banda em questão (e a própria cena heavy metal como um todo) pode estar em alta ou em baixa, onde o material pode ter maior ou menor influência, onde seu impacto geral pode ser maior ou menor — impacto que nem sempre tem relação direta com a qualidade objetiva de um álbum, seja lá o que isso possa significar. Uma banda tem uma proposta para seu disco, outra tem outro propósito completamente distinto — que grandeza posso usar para um comparativo válido nesse caso? Qual a vantagem concreta que se tira desse tipo de comparação entre bandas distintas, momentos distintos, realidades totalmente diferentes em tudo que se possa imaginar?

Eu não vejo vantagem alguma. Por isso, ao menos nas resenhas que farei para o projeto VIL METAL, usarei a grandeza de estrelas. De uma a cinco, com mais estrelas obviamente indicando mais qualidade — e reservando uma bola preta para situações raríssimas, talvez até inexistentes, onde o material em questão realmente seja abominável além dos padrões. Será algo assim:

• = inacreditavelmente ruim
* = fraco
** = insuficiente
*** = bom
**** = muito bom
***** = espetacular, indispensável

Obviamente não é uma escala livre de subjetivismos, uma vez que nenhuma é. Mas ela neutraliza os comparativos que, creio eu, não levam a nada: discos bons vão todos cair nas três estrelas, sem que haja muito o que comparar entre eles. É um referencial útil para o leitor e que facilita muito para mim também, me livrando da tarefa obviamente impossível de ficar comparando cada álbum resenhado com todos os outros que escutei na vida. A comparação interna das bandas faz mais sentido nessa escala também, mesmo porque abre espaço para o subjetivismo do próprio leitor. Se dois discos do Black Sabbath (digamos “Black Sabbath” de 1970 e “Volume 4” de 1972) caem na mesma categoria, estou informando ao leitor o principal (ambos são semelhantes em termos de qualidade) e deixando a decisão subjetiva (qual deles é o melhor) a cargo de quem lê, sem querer impor minha leitura subjetiva além da conta.

Evidentemente, a escala de estrelas leva em conta uma dificuldade crescente — é mais restritivo estar entre as cinco estrelas do que entre as quatro, por ex. Mas também não é fácil “conquistar” a bola preta (na verdade, é quase impossível), senão também perde sentido. Se a falta de uma nota numérica incomoda, talvez você possa levar em conta a seguinte escala:

• = de 0 a 0,5
* = de 0,5 a 4
** = de 4 a 7
*** = de 7 a 8,5
**** = de 8,5 a 9,5
***** = de 9,5 a 10

A coisa certamente embola ali no meio de campo — haverá quem pense (não sem motivos) que um álbum nota 6,5 já é três estrelas, ou que um disco nota 4,5 é mais que insuficiente, é fraco mesmo. Aí é a margem do meu subjetivismo, confesso e sem pedido de desculpas, se manifestando. Sou um cara que tende a ver o copo meio cheio, como quem acompanhar os posts logo verá, então muitas notas poderão parecer meio generosas, mesmo dentro desse sistema. Mas aí é o caráter falível inerente ao ser humano, do qual nenhum de nós se escapa. São apenas referências, no fim das contas — de vez em quando escute um disco de uma ou duas estrelas e quem sabe você vai gostar muito mais do que eu? Música bate de forma diferente em diferentes pessoas, e é sempre bom encarar esse terreno da forma mais leve e menos restritiva (e/ou preconceituosa) possível.

--

--

Igor Natusch
VIL METAL

Jornalista. Ser humano. Testemunha ocular do fim do mundo.