Matheus Bahia é exemplo de jogador e de função das divisões de base

A base não é só pra formar craque. O jogador comum também tem seu espaço, que é valioso

Vinícius Nascimento
Vinícius Nascimento
4 min readJul 10, 2021

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O defensor que mais desarmou (8) e interceptou (15) para o Bahia também foi o responsável por colocar mais três pontos na tabela do clube na Série A em um jogo contra o Juventude que teve cara e roteiro de 0x0. Esse mesmo defensor é o que tem mais participações em gols do Bahia neste Campeonato Brasileiro, com três. Ao chutar forte e rasteiro com a perna esquerda, Matheus Bahia não apenas contribuiu para melhorar seus registros individuais, mas também ajudou o Bahia a conquistar a melhor pontuação e colocação após as 10 primeiras rodadas do campeonato desde que voltou à primeira divisão.

Os números trazidos com a contribuição valiosa do perfil Scouts Bahia ajudam a trazer uma discussão importante: para que serve a base? Só vale se revelar craques e gerar vendas milionárias? E qual o papel do jogador que não explode, mas contribui e muito, como é o caso de Matheus Bahia, o injustamente odiado lateral esquerdo titular do tricolor? Para as duas primeiras perguntas, a minha humilde resposta é não. Para a terceira, vamos falar nos próximos parágrafos.

Para mim, a resposta é simples: divisão de base não serve apenas para revelar craques. Primeiro porque é um em um milhão quem consegue segurar joias valiosas até a hora de revelar. Ou garimpar cedo o suficiente para mantê-la em suas categorias até o profissional. Com o modelo de formação que funcionava no Bahia até bem pouco tempo, então, era impossível. Antes, a base do Bahia começava basicamente no sub-15. Nessa idade, os grandes talentos já estão garimpados em outros centros — onde chegam desde os 9 anos ou até antes para jogar futsal e etc.

Matheus Bahia desabafa após gol marcado contra o Juventude. Os coroas ficaram orgulhoso. (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia)

Com o projeto de iniciação trabalhando garotos de 9 a 13 anos, essa realidade pode mudar. Mas base não é coisa que mude em 2, 3 anos. É um processo bem demorado, que pode demorar até 8 anos, pelo menos, para começar a dar frutos. Ou pelo menos os frutos gigantescos, maduros, como se espera.

No entanto, a base do Bahia já forma jogadores que são interessantes para compor elenco. Formar a estrutura do time. Matheus Bahia é um caso bem explícito: está pronto? Não. É craque? Também não. Deveria ser titular absoluto? Talvez não. Mas o fato é que foi ele quem estancou a sangria do lado esquerdo que Juninho Capixaba não conseguiu dar conta e agora, a 4 jogos da sua partida de número 50 como profissional, mostra sinais de evolução que só não vê quem não quer — ou só está afim de apontar dedo.

Emoção em plena posição de cagar. Quem já botou pra fora algo que estava entupido sabe o que o garoto sentiu quando botou a bola pra dentro. Um desabafo que vem lá de dentro (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia)

O gol que ele marcou contra o Juventude foi mais do que o primeiro de Série A e o terceiro como profissional. Foi um merecido prêmio para um jogador que leva o Bahia a sério. Muito mais a sério do que outros jogadores, tão comuns quanto ele, mas sem o mesmo potencial e comprometimento.

Matheus Bahia é um batalhador e tem Bahia no seu DNA, literalmente, como ele mesmo comentou no último vídeo de bastidores ao falar da paixão de seu pai e avô. Já imaginou o moleque chegar em casa e ver suas referências tristes pelo clube do coração ter perdido e saber que seu filho estava lá e não deu tudo de melhor que podia? Matheus sabe. Por isso briga muito, inclusive contra as próprias limitações -que, sim, existem. Mesmo com elas, foram raros os momentos comprometeu negativamente.

Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

Eu defendo que a divisão de base também é pra formar jogador comum, o de compor elenco. Prefiro mil vezes o jogador básico formado na base a ter que buscar um lá longe, que vem mais caro e sem a mesma identificação. Na real, eu defendo que a base seja essencialmente pra formar o básico, o de compor o elenco. O craque vem de caju em caju, mas se a formação garantir o esqueleto de um elenco imagina aí quanto dinheiro sobra para ir ao mercado buscar os craques, os que resolvem?

Matheus Bahia é um verdadeiro exemplo. De jogador e da função das divisões de base enquanto entidade de formação de atletas para times profissionais.

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