O que rola em um bootcamp de UX Design?

Um resumão sobre minha experiência e aprendizados em um bootcamp de User Experience Design

Vinícius Pires
Vinícius Santos
6 min readMar 11, 2020

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Atualmente, dois fatores me inspiram a trabalhar criando melhores experiências para as pessoas:

O primeiro é relacionado ao comportamento humano. Durante anos trabalhando com pessoas, era curioso observar como se comportavam dependendo do contexto a que eram expostas e do tipo de tratamento que recebiam. Na hotelaria, por exemplo, se um hóspede não fosse atendido de forma atenciosa, o papo dificilmente iria além dos procedimentos de check-in. Ao contrário, após uma interação minimamente amigável, surgia abertura para um papo mais descontraído e a oportunidade de criar uma conexão real.

O segundo ponto, é sobre o privilégio de ser a pessoa responsável por proporcionar essas reações. Ser o agente que determina como se darão as experiências e quais memórias as pessoas irão guardar.

Esses fatores me levaram a, no ano passado, decidir estudar User Experience Design (UX). Essa disciplina, baseada no Design Thinking, utiliza ferramentas do design centrado no ser humano para desenvolver e aperfeiçoar produtos, e proporcionar melhores experiências às pessoas.

Os três pilares do Design Thinking: empatia, colaboração e experimentação
Os três pilares do Design Thinking: empatia, colaboração e experimentação

Na época, pesquisei as principais escolas de São Paulo, e decidi pela Tera. A metodologia deles me ganhou por ser bastante prática: os projetos vão sendo construídos à medida em que o conteúdo é assimilado. Além disso, a escola é formada por um time altamente competente e acessível, com professores experts do mercado, que trazem conteúdos sempre atuais.

Minha experiência ao longo de oito semanas

Um dos pilares do Design Thinking é a Colaboração. Logo, é essencial que o projeto seja realizado em equipe e nunca sozinho. Além disso, quanto mais diversos forem os perfis de seus integrantes, mais ricas serão as ideias geradas, resultando num projeto de melhor qualidade.

Para dividir a turma em equipes, foram expostos três temas, e cada aluno escolheu aquele com que tinha mais afinidade. Para que os grupos ficassem equilibrados, também fizemos a divisão de acordo com nossas aptidões em Negócios, Design e Pesquisa. Assim, formaram-se equipes de 4 a 6 pessoas e o tema da minha equipe foi:

Como Consultas Remotas podem ajudar pais de primeira viagem?

A primeira atividade foi definir quem seriam nossos stakeholders, pois eles são o ponto de partida na descoberta e aprofundamento sobre o tema.

Optamos inicialmente pelos “avós”, para nos diferenciarmos das demais equipes de mesmo tema. Após uma breve pesquisa com amigos e familiares, percebemos que este não era o melhor caminho, e tomamos a decisão de mudar o stakeholder para “mães e pais”.

Essa mudança, apesar de nos causar um pequeno atraso, serviu como um aprendizado sobre a importância do stakeholder na fase de descoberta do problema e no direcionamento durante todo o projeto.

Utilizando a matriz CSD (Certezas, Suposições e Dúvidas), identificamos nossos principais pontos de incertezas. Com isso, criamos um novo roteiro de pesquisa, mais simplificado e focado em ambos os pais.

Nossa Matriz CSD

Com o formulário de pesquisa criado, entramos em grupos de Whatsapp de pais de primeira viagem e, em dois dias, coletamos 129 respostas. Após análise dos resultados, validamos os insights por meio de entrevistas em profundidade, conversando pessoalmente e por telefone com 8 pais e mães.

Nessa etapa do processo, é comum já pensarmos numa solução para o problema, pois é dessa forma que estamos acostumados a agir. Queremos resolver! O Design Thinking surge para quebrar esse modelo mental e propor uma nova forma de olhar para o desafio: inicialmente, é preciso focar em descobrir o máximo possível sobre o assunto para entender as dores e desejos dos principais envolvidos (stakeholders).

A fase inicial do processo de design é o Entendimento/Descoberta

Lá no início, nossa ideia era projetar algo com foco nos bebês e como ajudar os pais a criá-los. Estávamos bastante focados nessa solução antes mesmo de ouvirmos os pais. Após as pesquisas, no entanto, ficou claro que o real problema não era esse. Se optássemos em seguir por esse caminho, estaríamos criando uma solução para poucas pessoas, e portanto, nosso produto teria pouca adesão.

Nossas pesquisas quantitativas revelaram que 72% dos pais tiveram problemas emocionais durante e após a gravidez, e somente 5% procurou algum tipo de ajuda. Antes da chegada do filho, 86% consideravam o relacionamento com o parceiro ótimo ou bom. Após o nascimento, esse número caiu para 63%.

As pesquisas qualitativas, feitas por meio das entrevistas em profundidade, não só confirmaram as nossas descobertas anteriores, como também revelaram uma alta taxa de depressão pós parto e baby blues, questões que antes sequer tínhamos pensado em investigar.

Dessa forma, chegamos a conclusão que o principal problema era a falta de apoio psicológico e emocional ao casal, durante e após a gravidez, e redefinimos nosso desafio:

Como melhorar a saúde emocional de pais de primeira viagem?

Após o processo de ideação, decidimos que nossa solução seria uma plataforma que conectasse os pais à psicólogos, para que fizessem consultas rápidas, no momento e local em que precisassem, estimulando-os a buscarem ajuda sempre que necessário.

Criamos nossa persona para darmos voz aos feedbacks recebidos, e também como uma forma de guiar nossas decisões durante a construção da solução.

Ana e Pedro, nossa persona

Projetamos uma primeira versão do fluxo de navegação, que nos ajudou a entender como o aplicativo se comportaria e quais seriam as principais telas. A partir daí, seguimos para o desenho, à mão mesmo, das principais telas e, finalmente, os primeiros wireframes no computador.

Primeiros wireframes

Desenhar as telas no quadro nos ajudou a economizar tempo, uma vez que conseguíamos visualizar e debater mais facilmente o que iria ou não para o app. Mudamos muita coisa e deixamos a interface bastante simples, o suficiente para que conseguíssemos montar um protótipo e testá-lo.

Finalmente, chegamos ao Appoio:

Appoio: videochamadas com profissionais psicólogos para pais de primeira viagem

O bootcamp termina com as apresentações das equipes, que expõem seus projetos em até 10 minutos e recebem os feedbacks de três jurados convidados.

Frio na barriga durante nossa apresentação

Alguns aprendizados

Colaboração e Comunicação

Nada de querer fazer tudo sozinho. Todos no time precisam caminhar e evoluir juntos. Isso significa garantir que todos estejam por dentro das descobertas feitas e decisões que são tomadas. A boa comunicação envolve também estar aberto a ouvir pontos de vistas diferentes e disposto a mudar suas convicções a todo momento.

Documentação

Ideias surgem o tempo todo no processo de design. Para que nada se perca, é preciso aprender a documentá-las de forma inteligente e colaborativa. No nosso projeto, utilizamos uma ótima ferramenta chamada Miro.

Desapegar é preciso

É comum ficarmos empolgados com alguma solução que ideamos. Nos agarramos a uma ideia e o nosso desejo é que ela evolua, seja revolucionária e que sejamos reconhecidos pelo nosso excelente trabalho. Errado! Precisamos deixar o ego de lado e focarmos no problema, nos atermos às pesquisas e ao que é melhor para o usuário.

Saber a hora de avançar

Todo esse processo é muito rápido e os prazos costumam ser bastante apertados. Não há espaço para perfeccionismo e o foco nos detalhes deve existir somente na finalização do projeto. Conforme avançamos, é preciso saber enxergar quando já temos o suficiente para evoluir, e então seguir para a próxima etapa.

Obrigado, turma! :)

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Vinícius Pires
Vinícius Santos

Design and innovation consultant, passionate about human behavior and great conversation.