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A crise política enquanto aprendizado

“A parte mais sensível do corpo humano é o bolso”. O sarcasmo atemporal do economista Antônio Delfim Netto nunca fez tanto sentido.

Marcela Machado
Published in
3 min readAug 4, 2017

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Bertolt Brecht estaria orgulhoso, assim como eu, se tivesse a oportunidade de abrir o Twitter nos últimos dias. As tags relacionadas à votação da denúncia contra o presidente Michel Temer eram quase unanimidade nos trending topics e assim permaneceram por quase 24 horas. Um ótimo indicativo da atenção despendida a este evento pelos brasileiros. O analfabeto político pode até odiar a política, mas passou a se interessar por ela nos últimos anos.

O ser humano é movido por interesses. Muitas vezes, pessoais. É ingênuo acreditar que a decisão do voto do eleitor perpassa pelo bem comum, fato fácil de ser atestado em eleições municipais, onde uma das principais moedas de troca são votos por cargos na prefeitura. Esta, por sua vez, se infla de apoiadores do grupo político do prefeito eleito. Secretarias são delegadas ao comando de quem tem pouco ou nenhum conhecimento técnico sobre a pasta que assumiram. A política é, sim, um jogo, onde muitos apostam com dinheiro.

“A parte mais sensível do corpo humano é o bolso”. O sarcasmo atemporal do economista Antônio Delfim Netto nunca fez tanto sentido. Os eventos de junho de 2013 ainda estão frescos na memória do brasileiro. A indignação começou por conta do aumento de vinte centavos na tarifa do transporte público. De lá pra cá, essa cifra se multiplicou exponencialmente, por conta dos escândalos de corrupção. Com ela, os motivos para sintonizar as atenções na política. O que era da conta de poucos, passou a ser da conta de todos.

Parafraseando Machado de Assis, de médico e de cientista político, todo mundo tem um pouco. A crise fez com que a pauta política se tornasse assunto até mesmo para os mais desinteressados. Aliado a isso, o avanço da mídia, com a ajuda das redes sociais, aproximou o eleitor dos políticos e da atividade política, munindo o cidadão de ferramentas para formar opinião própria sobre os acontecimentos.

Seja para defender ou para atacar, apenas o fato da temática política ter ganhado espaço no cotidiano do brasileiro é um ótimo indicativo. É pena que foram necessários acontecimentos desastrosos para que o eleitor voltasse os olhos para o cenário político. Chega a ser gracioso para nós, habitués dos sítios oficiais do governo, presenciar a euforia de alguém ao ter acesso à tramitação de um projeto de lei da Câmara dos Deputados, ou, até mesmo, ao se espantar com os ritos regimentais, ao assistirem TV Câmara. São veículos que sempre estiveram acessíveis ao eleitor.

É inegável afirmar que a crise política abriu feridas históricas em nosso país. Porém, mesmo dos momentos controversos, devemos tirar algum aprendizado. A indignação do eleitor, portanto, não deve permanecer somente nas redes sociais, mas deve estar presente, principalmente, na hora de escolher o seu representante. Que as eleições de 2018 consigam atestar que o eleitor, de fato, aprendeu a ciência da política, mesmo que em condições adversas.

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