A escolha pela estabilidade e o populismo crescente

Reflexões breves sobre as eleições alemãs de 2017

Emanuel Serpa
Vinte&Um
4 min readSep 23, 2017

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Merkel vitoriosa, mas um crescente radicalismo e insatisfação estão à espreita

A Alemanha realiza amanhã suas eleições parlamentares. É o dia de se definir quais partidos terão assento e quantas cadeiras cada um conseguirá no Bundestag, o parlamento alemão.

Uma coisa fica quase certa: Angela Merkel mais uma vez será a vitoriosa.

Nada de novo no front? Nem tanto. Enquanto essas eleições mais uma vez representarão a escolha do povo alemão pelo manutenção do status quo, ao mesmo tempo representarão o crescimento do radicalismo, que será representado por um partido novo, que cresceu de maneira assombrosa nos últimos anos: o Alternative für Deutschland(Alternativa pela Alemanha), o AfD.

O que é o AfD?

O AfD é um partido que surgiu em meados de 2012, como um partido liberal-conservador, de centro-direita e fundado por economistas, que questionava a permanência da Alemanha no Euro e as ajudas financeiras dadas para os países quebrados na Europa (Grécia, por exemplo). O partido quase entrou no parlamento nas eleições de 2013, com Bernd Lucke como seu líder, não conseguindo — no entanto — superar a cláusula de exclusão adotada no país.

Nada de errado até aí, certo?! Calma…

Em 2014 o partido cresceu em membros e conseguiu políticos e gente calejada que estava cansada do CDU, partido de Merkel. Eles defendiam que Merkel transformara o CDU em um partido de “esquerda” e viam no recém-fundado AfD a alternativa que eles esperavam. Muitas pessoas contra as políticas de imigração de Angela Merkel também ingressaram no partido, que foi virando um verdadeiro balaio de gato e, consequentemente, perdendo sua unidade ideológica.

A virada do AfD como partido de extrema-direita

No final de 2014 houve o surgimento de um componente que mudou tudo, o PEGIDA. O PEGIDA é um movimento anti-imigração que surgiu no leste alemão, que promovia manifestações contra a política de imigração de refugiados em massa de Angela Merkel. Eles julgavam essas políticas um “ataque contra o povo alemão e o ocidente”. A mídia cobriu esses protestos e descobriu que vários que estavam nessa manifestação simpatizavam com, adivinhem que partido, o AfD.

O partido então foi procurado para se manifestar e houve uma confusão: parte do partido queria abraçar esse movimento e a outra parte, representada pelo fundador Bernd Lucke, o rejeitava.

Em 2015 essa situação chegou ao seu fim: com uma convenção que tirou Bernd Lucke da liderança, colocando Frauke Petry — representando a direita populista do partido — como líder do AfD. Lucke, vendo a direção de seu partido, sai dele e funda outro: o Liberal Conservative Reformers.

O AfD então muda totalmente — apesar de manter algumas bandeiras de sua fundação—focando quase totalmente em imigração, com toques xenofóbicos e populistas.

Voltando à 2017…

O AfD escolheu concorrer nas eleições com dois candidatos, Alexander Gauland seria o provocador e Alice Weidel seria a conciliadora, mirando em dois tipos de eleitores

O AfD caminha para ser o 3° maior partido no parlamento alemão, criando preocupação para alguns, sendo um forte candidato para ser a oposição oficial ao governo Merkel.

Christian Lindner é o candidato do partido liberal e pró-europeu Free Democratic Party

Outra notícia é o quase certo retorno do FDP (Free Democratic Party), um partido de tendência liberal clássica, ao parlamento. O FDP era um partido da coalizão de Merkel até 2013, ano em que não conseguiu a porcentagem suficiente de votos para garantir assentos no parlamento, o que forçou Angela Merkel entrar na atual coalizão com os sociais-democratas(SDP).

Ex-presidente do parlamento europeu, Martin Schulz esperava suceder Angela Merkel, mas o SPD não vai bem nas pesquisas e o tom do candidato baixou

Os sociais-democratas estão perdendo força, frequentemente caindo nas pesquisas e é esperado que continuem na coalizão com Angela Merkel.

Os Verdes estão caindo nas pesquisas, colocando-os em risco, e o Die Linke(A Esquerda) confirma uma tendência populista e estão em crescimento.

Conclusões

É clara a escolha da maioria dos alemães pela estabilidade do governo Merkel, que deve continuar sua coalizão com os sociais-democratas. Merkel nesse mandato tem o desafio de controlar o levante populista e amenizar a insatisfação, que apesar de tudo é legítima, e que pode marcar o fim de sua era na Alemanha.

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Emanuel Serpa
Vinte&Um

Uma pessoa que tem convicções fortes em um número relativamente grande de questões, mas com cabeça aberta para debater e questionar todas.