A Virtude dos Idiotas

Virtude não se mostra. Virtude se demonstra.

Paulo Silveira
Vinte&Um
4 min readNov 13, 2018

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Stańczyk por Jan Matejko

Certa vez, Nicholas Taleb, um líbano-americano e profissional do mercado financeiro, conversava com Susan Sontag, escritora e ativista americana. Ao tomar conhecimento da área profissional de Nicholas, ela prontamente virou as costas e o deixou falando sozinho, não sem antes proclamar:

“Sou contra o sistema de mercado!”

Alguns anos depois da morte da ativista, seu obituário foi encontrado por Nicholas. Nele, a imensa ganância de Susan era exposta. Conflitos com editores, por causa de adiantamentos. Sua casa, uma mansão em Nova York, vendida por 28 milhões de dólares. Ela poderia até ser contrária ao sistema de mercado. Porém, não vivia numa comuna rural, não cultivava a própria comida, muito menos fazia escambo. Na verdade, vivia muito bem no sistema de mercado. Contudo, um profissional do mercado financeiro não era digno sequer de sua presença. O ponto é:

Ser contrário ao sistema de mercado e viver nele é imoral. Mostrar-se como alguém virtuoso sem viver as consequências diretas dessa virtude, mais ainda.

Aquilo que você é na vida pública e na vida privada

Esse ponto está muito presente nos dias atuais. Você pode e deve acreditar nas coisas. Contudo, se você não se importa com as implicações daquilo que acredite para o outro porque participa de um “grupinho especial” que te faz virtuoso. Sinto muito, você é imoral. Se você “luta pela causa dos pobres”, mas, não trata as pessoas comuns com respeito, não passa de um imoral. Se fica “papagaiando” sobre o privilégio de ser rico, branco e hétero, por que não paga os estudos de alguém das minorias na sua escola?

Se a sua vida privada e as suas ideias estão em contradição, as ideias é que são inválidas. Se não for capaz de generalizar as suas ações, não deve possuir ideias gerais.

Você não é melhor que ninguém só porque aperta o 1 e o 3 antes do “Confirma”. Fonte.
Não ser corrupto é obrigação. Panfletar isso como virtude é autopropaganda barata. Fonte.

Virtudes rentáveis

Num hotel, não é difícil encontrar uma placa no banheiro com os dizeres “proteja o meio ambiente”. O objetivo disso é fazer você gastar menos, sujar menos toalhas, assim, o hotel economiza um bom montante de dinheiro. Podem até se importar com o meio ambiente, mas, se importam mais com o próprio bolso. A suposta virtude não passa de autopropaganda. Essa reflexão é antiga, está na Bíblia:

Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.
Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;
Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.

Alguns acharão que a reflexão vinda da Bíblia enfraquece o argumento do trecho acima. Créditos na imagem.

As verdadeiras virtudes

Virtude é ser bom com aqueles negligenciados pelos outros, nos casos menos óbvios ou até mesmo impopulares.

É ajudar aqueles esquecidos pelas grandes instituições de caridade.

É abrir um negócio. Talvez ficar rico, gastar seu dinheiro sendo generoso com o outro.

Não fale, faça.

Não admita ganho sem esforço.

Assuma riscos, “coloque o seu na reta.”

Virtude é uma qualidade moral, um atributo positivo de um indivíduo.

Virtude é a disposição de um indivíduo de praticar o bem; e não é apenas uma característica, trata-se de uma verdadeira inclinação, virtudes são todos os hábitos constantes que levam o homem para o caminho do bem.

Há diferentes usos do termo, e existem vários exemplos de virtude, que estão relacionados com a força, paciência, coragem, o poder de agir, a eficácia de um ou a integridade da mente.

Virtude é um conceito que remete para a conduta do ser humano, quando existe uma adaptação perfeita entre os princípios morais e a vontade humana.

A virtude moral, por sua vez, é a ação ou comportamento moral, é o hábito que é considerado bom de acordo com a ética.

Para Aristóteles, não existem virtudes inatas, todas se adquirem pela repetição dos atos, que gera o costume, e esses atos, para gerarem as virtudes, não devem desviar-se nem por falta, nem por excesso, pois a virtude consiste na justa medida, longe dos dois extremos.

Inspirado em The Merchandising of Virtue, texto de Nassim N. Taleb.

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