Cartas anarquistas #4: Conceitos diferentes

Redação Vinte&Um
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2 min readAug 9, 2017
Integralistas (Internet/Reprodução)

Por Lucas Paes

Queríamos mencionar duas coisas aqui: o integralismo brasileiro e o niilismo de Novatore.

O integralismo brasileiro era uma experiência fascista gerada a partir do futurismo de Plínio Salgado, um dos integrantes da semana de arte moderna de 22, que, como vários outros europeus de sua época, viu na alternativa autoritária uma maneira de conseguir tornar a sociedade melhor através da aplicação da violência. O integralismo brasileiro, como quase todos sabem, era muito semelhante ao fascismo italiano e ao alemão, porém tinha alguns aspectos diferentes: ele era fortemente católico, anti-racista em teoria e muito também por valorizar o espiritualismo frente ao materialismo. Interessante o foco dele no espírito como unidade da nação. No entanto, como falado antes, a violência era característica definidora, e a ligação espiritual não seria como numa associação espiritual livre de sujeitos que buscam um fim em comum, e sim uma bota fascista dizendo que você pertence àquela nação, por exemplo. Uma ligação muito parecida com a que uma certa quantidade de católicos deseja fazer, uma ligação à essência — o ser em forma prévia à cognição — e não à existência, que é aquilo que se busca ao crescer subjetivamente. Eles também atacavam a ideia de pensamento próprio e buscavam a integração na comunidade deles. Integração violenta.

Já Renzo Novatore era um gênio, perseguido pelos fascistas e morto pela polícia. Sua visão quanto ao individualismo é interessante, muito stirnerista-nietzscheana. É criticável o aspecto de que ele queria acabar com a propriedade que não ética e espiritual, mas muito interessante. A ideia de a revolução já ter começado, no sentido de uma revolução de atitude do indivíduo, uma revolução às vezes interna e de atitudes próprias[1].

Ele trabalhava a ideia da revolução — revolução subjetiva, mas também social — para superar os problemas do mundo, uma revolução para derrubar as forças que limitam a subjetividade. E por que fazer isso não somente individualmente? Para não ficar no “espere e veja”, para agir. Porque, na verdade, temos a dimensão subjetiva mas também temos as dimensões que os outros interagem sobre nós — afora a dimensão de nossa própria interação com o exterior. Assim, temos de agir para afirmar nossa individualidade também no meio social-exterior, como sociedade, pátria e família. Para ele, exterminar; para mim, demolir para fazer coisa melhor. Nesse sentido, entendo que uma revolução poderia bem ser na prática uma reforma. Questionamentos como esses serão melhor levantados no ponto a seguir.

Notas

  1. Ideia essa que creio seja promovida pelo coletivo CrimethinC também.

Lucas Paes é estudante de Direito na UFRGS.

Este é o quarto de cinco textos da coletânea Cartas anarquistas, escrito por Lucas Paes. As publicações ocorrerão às quarta-feiras.

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