Denúncia arquivada. E agora?
Não foi a primeira tentativa de retirada de Temer (e nem será a última — podem aguardar vários “Fora Temer” por vir) mas o que a aprovação do relatório (pelo arquivamento da denúncia) aponta para nós?
Em primeiro lugar que tal qual foi intenso o processo de mudança para saída da ex-presidente Dilma Rousseff a via crucis de Michel Miguel também será, com a diferença do tamanho da base. Explico: diferentemente do cenário prévio à votação que autoriza investigações tanto no caso de ações penais (Temer) quanto de crimes de responsabilidade (Roussef) a base governista se mostrava maior no governo Temer, mesmo com uma menor aprovação popular (ou maior rejeição, se preferir).
É um daqueles casos em que variáveis claramente dependentes na história do país colocam a teoria no saco e levam outra realidade para a prática, como foi com o Plano Real — no plano Real os primeiros anos de governo apresentaram déficits na Balança de Pagamento, aumento dos níveis de desemprego e mesmo assim uma inflação controlada. Estaria a macroeconomia errada? A resposta é não. Esquece o modelo (justamente por se tratar de um modelo) de considerar outras variáveis, como o contexto histórico, a credibilidade da equipe econômica no eixo FHC-Franco (e depois FHC-Fraga) e outros fatores.
Pois bem, divagação à parte, entendo que hoje vivemos um destes estados de exceção. Os representantes do povo divergem do povo em termos de agenda de prioridade e credibilidade dada ao presidente.
Neste sentido, a melhor previsão que posso dar é: calma. A votação que arquivou a denúncia não implica em Carta Branca para reformas, mas podemos esperar uma renovação nos ares que circulam o Palácio do Planalto juntamente com mais vigor para defesa dos amargos remédios que as reformas nos trazem.
Gabriel Azevedo de Sousa é editor da Vinte&Um, recifense, e Cientista Político pela Universidade de Brasília.
