Dream team ou galácticos?

A história da equipe econômica mais mídia e pouco futebol da história

Samuel Dourado
Vinte&Um
3 min readJul 12, 2021

--

Se o Brasil não surpreender, nós já fizemos isto algumas vezes, é bem provável que Paulo Guedes feche 3 anos como Ministro da Economia. Uma marca que o torna um dos Ministros mais longevos à frente da pasta. Embora esteja longe de ser o mais competente entre eles (este é um consenso entre economistas e sociedade hoje).

À época da eleição, em 2018, todos nós sabíamos que Jair Bolsonaro não tinha a menor condição de se tornar Presidente da República, no entanto, grande parte do seu eleitorado foi iludido pela equipe que Bolsonaro tinha à disposição. Sérgio Moro, o homem que evitaria quaisquer perniciosos vestígios de corrupção. Paulo Guedes, o homem que levaria a nossa economia à estratosfera.

Moro foi embora cedo. Guedes mostrou que está longe de ser excepcional. O fato é que a equipe econômica que começou o governo (e a de hoje) foi ótima em marketing de campanha e de gogó. As promessas que Guedes fez em 2018 e ao longo do governo Bolsonaro faziam os olhos de alguns brilharem: reduzir carga tributária; simplificar e eliminar tributos; reforma ampla da máquina administrativa; reforma da previdência; zerar o déficit primário em 1 ano, privatizações e colocar o Brasil na rota do crescimento.

À exceção da reforma previdenciária, que se tornou um verdadeiro queijo suíço, e algumas discussões sobre privatizações, o grosso do discurso do Guedes não passou de ilusão (ou melhor, enrolação simples e pura). O Ministro se tornou tão desqualificado entre os economistas que virou alvo de piada a expressão “semana que vem”. Expressão que o Ministro usou quase 100 vezes ao ser perguntado sobre as reformas e pautas econômicas que tanto prometeu.

Também se tornou um clássico o círculo do Ministro. Sempre quando o Brasil ia mal (foram semanas assim), Guedes para tranquilizar o mercado falava sobre a agenda de reformas, privatizações, abertura comercial. Mas isto nunca saiu do papel, um verdadeiro andar em círculos para animar o mercado. Quando o mercado de ações entrava em pânico, seja pelo risco fiscal brasileiro, seja pela decepção em relação ao governo Bolsonaro, Paulo Guedes subia no palanque e falava o que todos queriam ouvir. No entanto, ele próprio sabia que era improvável que o discurso se materializasse em ações efetivas

É claro que Paulo Guedes não deve carregar toda a culpa sob seus ombros. Há toda uma equipe econômica formada por diretores, secretários, CEO de Estatais (bancos públicos), etc. Bom, a equipe econômica que começou o governo era formada por nomes excelentes e ruins. Salim Mattar, o liberal mais beneficiado pela jabuticaba tributária, e Marcos Cintra, um incontestável fã da CPMF. Havia também aqueles que já se mostraram excepcionais em outros governos ou no setor privado: Mansueto, Levy, Roberto Campos Neto, etc.

Embora com bons nomes (neste ponto o governo Bolsonaro se parece um pouco com o Lula I de Marcos Lisboa, Levy, Meirelles), a equipe econômica está longe de ser dream team. Como os economistas bem sabem, às vezes as equipes geram sinergia: o todo é maior do que as somas das partes. Às vezes, o todo é igual a soma das partes. No caso da equipe econômica de Guedes, nós vimos que a soma das partes é menor que o todo. Longe de ser dream team, a equipe econômica mais se parece com Real Madrid dos primeiros anos de 2000. Galácticos. Astros que separados foram bons, mas juntos não conseguem sequer levantar um título.

Samuel Dourado é consultor de investimentos e graduando em Economia na Universidade de Brasília

--

--