Imposto é roubo?!

Reflexões de um quase-ex-ancap. Ou: como a cegueira ideológica é tão ruim quanto o simples e puro estatismo

Emanuel Serpa
Vinte&Um
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3 min readJun 13, 2017

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O mercado é lindo, imposto é roubo, a ordem espontânea vai governar tudo e todos viveremos felizes para sempre.

Imposto é roubo?! Talvez. Mas qual a solução?

Em 1848, Karl Marx publicava seu histórico panfleto, “O Manifesto Comunista”, ele definiu — com base em seus próprios (e dúbios) estudos — que o trabalho assalariado era roubo, onde o patrão se beneficiava de um trabalho a mais que o empregado fazia (a famosa mais-valia), que seria seu próprio lucro. A solução seria que os trabalhadores, o proletariado, tomassem de forma violenta os meios de produção, implantando a ditadura do proletariado.

Mais tarde, as ideias de Karl Marx entraram em descrédito: que louco seria se o lucro do empresário virasse pó em uma crise e ele, sendo mais louco ainda, apostasse em uma recuperação da economia continuando a pagar seus funcionários? Se ele estivesse certo, estaria em vantagem competitiva e ganharia uma bolada, se estivesse errado, estaria lascado. É a ideia que o empreendedor, além de ser patrão, ser um portador de um maior risco que o empregado. O empreendedor pode perder tudo, o empregado perderia o emprego e ficaria livre para procurar outro emprego.

Mas mesmo com a ciência econômica desmentindo o marxismo, o marxismo ganhou asas e trouxe miséria para seus habitantes às custas de uma falsa premissa moral.

Aí entramos no imposto, os anarcocapitalistas dizem que é roubo e que, moralmente, o estado não deveria existir porque é fruto de roubo e não seria melhor que uma gangue de ladrões. Pregam um arranjo privado onde o estado deixa de existir e entidades privadas tomam de conta de todos os serviços e instituições. Se formos ver no papel, talvez funcione e quem sabe podemos viver em uma sociedade mais justa, sem roubos e distorções do mercado, uma verdadeira utopia — mas a realidade pode não ser bem assim.

Seja por qualquer modo, transformações radicais na sociedade tem muito mais chances de darem extremamente errado do que darem certo. Murray Rothbard, o grande criador do anarcocapitalismo, em um escrito, viu a grande invenção de Marx: o marxismo não era somente uma ideologia, mas sim uma religião e ela era nociva, porém, o anarcocapitalismo era bom e que se poderia então copiar o cerne da propaganda marxista. Isso teve um impacto na literatura anarcocapitalista, onde ele é tratado mais como uma verdade absoluta do que apenas uma possibilidade de sociedade mais justa.

A cegueira ideológica quando levada ao extremo pode levar à muitos danos, e é difícil falar nisso na sociedade que vivemos hoje, com tantos escândalos e estado que não funciona. Somos seres imperfeitos e limitados, nunca existirá uma solução perfeita ou quase perfeita, mas somos seres que aprendem e com a marcha da história talvez as coisas melhorem na base da tentativa e erro, pequenos erros — não revoluções sangrentas.

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Emanuel Serpa
Vinte&Um

Uma pessoa que tem convicções fortes em um número relativamente grande de questões, mas com cabeça aberta para debater e questionar todas.