Masturbação. Mas-tur-ba-ção. MASTURBAÇÃO.

A masturbação não é muito diferente de uma coceirinha nas costas. A gente pode até pedir para alguém coçar, mas talvez essa pessoa nunca ache o lugar certo.

Larissa Bispo
Vinte&Um
3 min readMar 23, 2018

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Masturbation wood print by Sierk Van Meeuwen

Taí uma palavrinha que, em caixa-alta, é quase um ruído agudo e inconstante. No dicionário, “estimulação manual dos órgãos genitais que leva ao orgasmo”. Na prática, nada tão natural assim. Para grande parte das mulheres cis, quase um incômodo.

Outro dia conversava despretensiosamente sobre o que foi meu tema da monografia, a pornografia. Como não em tão raras vezes, me perguntaram como eu havia chegado à escolha desse assunto. A resposta já é quase decorada: “para mim, identidade e autoconhecimento estão diretamente atrelados à descoberta do corpo, educação sexual e prazer”.

Eu me masturbo desde os 11 anos. Isso choca as pessoas. A descoberta de zonas de prazer por meninas ainda choca as pessoas. Enquanto isso, estimulamos os meninos eroticamente de diferentes formas desde a infância. Isso acontece por um motivo compreensível: a masturbação não pertence as mulheres e não é direcionada a elas. A vagina, como fonte de prazer, permitiria à mulher autonomia de seu próprio corpo e as relações de gênero precisariam ser ressignificadas.

A masturbação está diretamente relacionada a uma postura política e ideológica que mantem a mulher longe da descoberta do prazer feminino.

Há alguns anos, comecei a perguntar para as mulheres da minha vida quando elas haviam começado a se masturbar. Posso dizer que a grande maioria só tinha começado depois da primeira relação sexual e nunca regularmente. A masturbação não é nada além da descoberta de uma parte erógena de um corpo; o entendimento de movimentos que estimulam uma área. O problema de a masturbação vir depois do sexo é o de conhecer a si mesma depois de conhecer o outro (e uma série de desconhecimentos atrelados a esse processo). A masturbação pode vir aos 6, 15 ou 30 anos e tá tudo bem porque ela não precisa ser erotizada, ela não precisa ser sexual e ela não está diretamente associada a uma segunda pessoa.

Vejo muitas amigas inseguras ou com dificuldades de chegar ao orgasmo com seu ou sua parceirx por um motivo muito simples: elas não se conhecem. E a masturbação não precisa ser superestimada, mas precisa, urgentemente, ser natural e não autoritária para as mulheres. Não há razão para negligenciar uma parte do seu corpo dessa forma e ninguém tem o direito de nos negar isso (e aqui tomo cuidado em direcionar esse texto àquelas que não sofreram nenhum tipo de trauma sexual ou corporal). A masturbação não é muito diferente de uma coceirinha nas costas. A gente pode até pedir para alguém coçar, mas talvez essa pessoa nunca ache o lugar certo. E você pode até tentar esquecer do incômodo, mas uma hora vai querer tentar chegar no lugar onde realmente está coçando, mesmo que seja difícil alcançar.

A MASTURBAÇÃO vem em caixa alta porque não é necessário que haja problema ou vergonha em falar sobre isso e porque precisamos nos conhecer para que o sexo não seja uma via de mão única para o prazer sexual do outro. Mas, principalmente, porque somos cada vez mais donas do nosso próprio corpo e descoberta dele deve ser autorizada a nós mesmas.

Não há nada mais libertador do que o autoconhecimento.
O gozo é livre, fodam-(se).

Larissa Bispo é apaixonada pelas entrelinhas da vida, pelos mistérios no óbvio e pelas complexidades que abrigam as coisas mais simples.

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