O avanço liberal na Espanha

Candido Bugarin
Vinte&Um
Published in
3 min readJul 13, 2017
Albert Rivera, líder do Ciudadanos — El Pais/Reprodução

Pense na seguinte frase: um partido, para compor um governo de coalisão, faz uma lista com 100 itens, dentre eles a isenção de imposto de renda aos que ganham mais de 4.000 reais mensais. Naturalmente, é possível que de boas intenções o inferno esteja lotado, isso se você crê num céu e num inferno. De forma mais racional, se tratando de políticos, pode ser considerada somente mais uma promessa, porém não foi bem isso que aconteceu semana passada na Espanha. Vou voltar um pouco no tempo para mostrar como uma promessa difícil tornou-se uma realidade num país de alta taxa tributária e ainda imerso numa situação econômica complicada.

No dia 20 de Dezembro de 2015, houve eleições gerais na Espanha, e quatro partidos dividiam os votos: PP de direita, PSOE de esquerda, Podemos de extrema esquerda e Ciudadanos (C’s) liberal. Nenhum desses partidos tem uma maioria, então devem, de forma lógica, partir para um governo de coalizão.

O Podemos e o Ciudadanos não haviam disputado eleições na sua história recente. O Podemos foi fundado em 2014 e o Ciudadanos foi fundado em 2006, mas não eram partidos políticos presentes em toda a Espanha antes do pleito de 2015, e mesmo assim, conseguiram respectivamente 12.69% e 13.94% dos votos. Desta forma, nenhuma coalizão obteve maioria no congresso espanhol para formar governo, e novas eleições são convocadas.

Desta vez, o PP chamou o Ciudadanos para formar um governo e este elaborou uma lista com 150 itens referentes a diversos pontos importantes que, na visão liberal do partido, precisariam ser reformados na Espanha. Além disso, o partido declara ao PP que a adesão a essas propostas é o preço pelo apoio e este aceita; os dois formam, dessa maneira, um governo.

Em uma semana de governo, itens dessa mesma lista começaram a ser aprovados no parlamento espanhol, culminando numa grande reforma para os trabalhadores autônomos. Ainda que o Ciudadanos seja, em teoria, integrante do governo, não deixa de fazer oposição quando a matéria a ser votada não vai de encontro a sua ideologia, como na nomeação, pelo PP, de um deputado que já havia cometido crimes de corrupção para um cargo estratégico do governo espanhol.

Chegou-se, então, ao ponto culminante: a queda no imposto de renda espanhol para quem ganha até 14.000 euros por ano e redução para quem ganha entre 14 e 17 mil euros anualmente (O cálculo de 4 mil reais por mês foi utilizando um câmbio a 3.77 reais).

No Brasil, segundo a tabela do último imposto de renda, de quem ganha o mesmo valor deve ser descontado 22,5% do seu salário, num país onde imposto é doação, pois os serviços devolvidos pelo governo são quase nulos.

Não pense que a Espanha está longe da realidade brasileira, pois o país passa por uma recessão que deixou 1/4 da sua população economicamente ativa desempregada; e tem problemas de corrupção tão evidentes como no Brasil (em menor escala de valores, mas crônicos). Pensando num governo menor, melhor empregado, diminuindo a carga tributária e continuando as reformas propostas pelo Ciudadanos, é bem provável que, daqui a pouco tempo, a Espanha desponte novamente como nação no cenário global.

Existem outras forma de se fazer política, novas mentes e novas pessoas. Pessoas sem os velhos conceitos e chavões desgastados, pessoas que pensam para frente sem deixar de pensar nos outros e dentre outras. O movimento liberal não é egoísta como grande maioria pensa — é justamente coletivo, pois dá para todos as mesmas oportunidades e as mesmas bases para se fazerem capazes.

Como diz o lema do partido, “O liberalismo progressista é o instrumento mais potente para derrotar o populismo”. Se Albert Rivera, líder do Ciudadanos, está conseguindo diminuir impostos, arma mais letal dos populistas, é sinal de que temos razões para acreditar que logo chegará a vez do Brasil.

Revisado por Luiza Ferreira, com edições feitas por Bruno De Blasi, da Redação Vinte&Um.

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