O Monstro Outsider
Trump conquistou o eleitores do partido republicano, agora está caminhando para engoli-lo
Donald J. Trump, atual presidente do EUA, governou no seu primeiro ano como um presidente republicano normal (tirando suas já conhecidas twittadas), respondendo de forma incisiva à imprensa e sendo alvo de uma investigação sobre a interferência russa nas eleições. Tirou muitas regulamentações e aprovou uma nova lei fiscal, que diminuiu impostos especialmente para o setor produtivo do país — com críticas que a diminuição de impostos pode aumentar ainda mais o enorme déficit fiscal do país, mas ainda assim uma lei normal para o partido republicano. Em 2018 o outsider começou a mostrar suas tendências, digamos, não-ortodoxas e o partido republicano pode não ter poder para pará-lo.
Mais um tiroteio em uma escola nos EUA, mais protestos e pressão para a revisão de leis de armas e Trump fez o impensável para um presidente republicano: disse em rede nacional que os políticos não devem temer o NRA ( National Rifle Association) e que se deve fazer o possível para limitar o acesso de criminosos às armas, falando ainda que: “primeiro peguemos as armas, depois olhamos o processo legal”. Isso chocou os eleitores republicanos. Trump nessa reunião se colocou ao lado de deputados democratas, a quem ele chama repetidamente de traidores da pátria no Twitter e em seus famosos comícios. Um representante do NRA marcou uma reunião com o presidente e Trump amoleceu, mas mostra sua tendência populista e sua audácia de questionar um dos mais preciosos princípios republicanos.
Recentemente, o presidente aumentou tarifas para o aço e alumínio sob o argumento de que é necessário fomentar a indústria de base nacional. Disse também que guerras comerciais são “fáceis de vencer”. Os políticos republicanos criticaram, mas as críticas parecem cada vez mais suaves e o partido parece estar cada vez mais refém de Trump que, mesmo não sendo popular nacionalmente, ainda é aprovado por 85% dos republicanos.
Trump pensa ainda em ir mais longe com o estabelecimento de “taxas reciprocas” ou “taxas espelho”, quebrando o consenso pós-guerra de livre-mercado nos EUA. Os políticos republicanos estão reclamando, mas parecem cada vez mais fracos para pará-lo e sua tendência populista encontra cada vez mais apoio nas bases do próprio partido.
Enigmaticamente, ainda em 2017, Trump falou que estava vivendo a “calma antes da tempestade”. Seria uma nova guerra? Seria uma guerra institucional contra o chamado “deep state”? Seria o avanço de seu plano populista? Essa frase está sendo combustível para as mais variadas teorias da conspiração na internet.
“Vocês vão descobrir”, respondeu ele.
Emanuel Serpa é graduado em sistemas de informação e graduando em ciências econômicas. Se considera um “political junkie” e sempre lê as principais publicações de política e geopolítica.