O recomeço do sobrevivente designado tupiniquim.

Gabriel Azevedo de Sousa
Vinte&Um
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3 min readJun 19, 2017

Como o governo Temer recomeça após o julgamento político da chapa Dilma-Temer pelo TSE e o que podemos esperar.

Diferentemente da ficção com Kiefer Sutherland (esq.) o governo Temer recomeçará, não por uma explosão no Congresso Nacional, mas sim, justamente, pelas bombas que deixam de surgir.

O governo Temer enfrentou (E enfrenta ainda) duras críticas e uma crise política “nunca antes vista na história desse país”. Delações, membros do governo (incluído o próprio presidente) citados, provas de que empresas doaram via caixa 2 para a campanha presidencial, impopularidade, entrevistas de delatores a revistas a apontar Michel Temer como “chefe da maior e mais perigosa organização criminosa” do Brasil, um caos.

(Acerca da entrevista, diga-se de passagem, tem algo muito errado acerca dessas declarações do dono da J&F. Como pode o cara dizer tudo o que diz e sair “sem pena” — apenas com uma multa? — e algo de estranho não cheira nada bem neste sentido.

E como pode estar prestes a recomeçar?

Como destacado anteriormente aqui, a situação continua a pior possível, mas mesmo assim, Renúncia, Julgamentos (Impeachment no Senado ou Ação Penal no STF), a Cassação pelo TSE ou Eleições Diretas continuam não sendo uma opção para a saída da crise. A análise é a mesma: não renuncia, a base diminui pouco (suficiente para não aceitação da denúncia), TSE já mostrou-se uma corte política e absolveu a chapa e eleições diretas só seriam possíveis na vacância do Cargo (ou nova Constituinte… mas isso falamos outro dia, mais pra frente)

E o que muda para que este governo recomece? A conjuntura atual manter-se-á inalterada, até setembro. Em setembro há a troca do Procurador-geral da República, sendo a possível indicada de Michel Temer para o cargo, a subprocuradora Raquel Dodge. E como isso muda? Amigos, tudo é política. O atual PGR pouco ou nada fez durante o mandato da presidente da República por denunciar a titular do cargo. Com o vice, contudo, a postura vem sendo outra, vem sendo a postura que deveria ter ocorrido desde o início, para começo de conversa, mas isso é discricionário do Exmo. Dr. Janot.

O fato é: dado o ativismo que hoje assume o douto senhor procurador, podemos esperar algumas denúncias mais até setembro, numa tentativa de escrever seu nome nas páginas da história da Operação Lava Jato (ou realmente uma mudança em seus conceitos de moralidade e um combate a estes corruptos que aparentemente surgiram de agosto de 2016 para cá), denúncias estas que, em virtude da investigação de vários dos membros da base do governo no Poder Legislativo no âmbito das Operações da PF, melhor será (para eles mesmos) “deixar quieto”, abafar e seguir o rumo do governo da Ponte para o Futuro.

Então para setembro, com a mudança, podemos esperar um reinício do governo, dado por um alívio da tensão entre MPF e Poder Executivo e um maior foco do poder executivo em retomar as reformas. Eu particularmente acredito que a saída de Janot não é fato relevante o suficiente para trazer de volta parte da base e garantir a aprovação das reformas, mas, como disse, é um recomeço do governo. Reduzir seguramente a base não irá.

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Gabriel Azevedo de Sousa
Vinte&Um

Cientista político (UnB), Tomador de Mate e Pernambucano praticante, é torcedor do Náutico e do Boca.