Sexo em números: como a juventude transa

Uma breve investigação acerca dos hábitos sexuais dos meus seguidores no Instagram.

Matheus Leone
Vinte&Um
Published in
10 min readNov 23, 2017

--

Prólogo

Este que vos escreve acredita, piamente, que o mundo é movido por poder, sexo e dinheiro. Esses três são os fatores primordiais para ação humana e não é sem motivo que geralmente caminham juntos. O sexo é um dos mais fortes motores individuais e, como tal, ajudou a moldar a sociedade. Todos os códigos morais trataram — de uma forma ou de outra — da questão sexual. Até hoje estamos discutindo, enquanto humanidade, quem pode transar com quem.

O fato é que o sexo cumpre mais do que uma função biológica de reprodução. Essa, creio eu, assumiu posição secundária ao longo da história da humanidade. É difícil dizer, hoje em dia, que o motivo principal das pessoas fazerem sexo é a reprodução.

As pessoas transam. O sexo é um dos assuntos mais investigados no mundo, com todos querendo entender de que forma as pessoas se relacionam com a prática sexual.

Eu, particularmente, compartilho dessa curiosidade, juntamente com meus leitores. Aqueles que me seguem no Instagram, e contribuem com a feitura desses textos respondendo às enquetes naquela rede social, decidiram que gostariam de ler sobre as práticas sexuais das pessoas antes de lerem sobre hábitos de masturbação, que deve ser o próximo tópico tratado.

Nesse sentido, conduzi as enquetes para ter uma luz sobre os hábitos sexuais dos meus seguidores no Instagram. Esse é o foco deste texto, que se apresenta como desdobramento dos dois primeiros da minha série sobre sexualidade. Os dois primeiros podem ser lidos aqui na Vinte&Um:

No primeiro texto busquei compreender a relação das pessoas com o envio e recebimento de Nudes. As respostas lá obtidas me permitiram pensar que o Nude é uma prática em muito relacionada com a formação de uma autoimagem erotizada, não tendo necessariamente um caráter de atração entre aqueles que enviam e recebem. O frexting, envio de Nudes para amigos, é uma das práticas que fogem do escopo das abordagens mais tradicionais sobre o envio de fotos nuas em aplicativos.

Já o segundo texto teve como enfoque a pornografia. O que as pessoas vêem, como vêem, se compartilham com amigos, com que frequência acessam conteúdo pornográfico, com quem acessam etc. Todas essas foram indagações feitas.

Chego, desta feita, a este terceiro texto e, sem mais delongas, passo aos resultados obtidos.

Sexo em números

Primeiramente temos que determinar quem respondeu às enquetes. 131 pessoas participaram, sendo que dessas 63% são homens e 37% mulheres. A imensa maioria (90%) tem menos de 30 anos e 56% são solteiros. No que tange a orientação sexual, 69% declararam-se heterossexuais; 11% são gays ou lésbicas; e 20% bissexuais.

Isso nos dá um panorama geral. A maioria dos que responderam são homens, heterossexuais, com menos de 30 anos e solteiros. Esse é o perfil dos entrevistados, que é fundamental para que vejamos os resultados à luz de quem respondeu.

Esclarecido o perfil dos entrevistados, passemos para a análise dos dados da frequência sexual:

A esmagadora maioria (94%) dos entrevistados responderam que já fizeram sexo, o que poderia ser considerado um dado irrelevante diante do fato da busca de compreensão dos hábitos sexuais das pessoas. No entanto, essa questão foi inserida por pedido de alguns, até mesmo para esclarecimento de uma questão que se apresentará lá na frente.

A frequência sexual me impressionou particularmente. A maioria das pessoas (51%) afirmou que tem relações sexuais mais de uma vez por semana, o que na opinião desse autor é um número razoavelmente elevado. Isso significa dizer que 49% dos que responderam transam menos de uma vez por semana. No outro extremo, apenas 7% afirmaram fazer sexo menos de uma vez por ano.

Obviamente, esses números poderiam variar caso o público fosse maior e possivelmente mais velho. No entanto, isso se apresenta apenas como uma hipótese sem respaldo empírico do autor. O fato é que aqueles que responderam afirmam que transam bastante.

Isso, com certeza, não resolve todas as dúvidas sobre o tema, e se apresenta apenas como a ponta do iceberg. Vejamos, por exemplo, com quem as pessoas fazem sexo:

Com quem as pessoas fazem sexo é tão ou mais importante do que com que frequência fazem sexo. E nesse sentido temos alguns dados interessantes. Uma razoável maioria (58%) afirmou já ter transado com alguém que conheceram no dia. Isso poderia ser caracterizado como o mais casual dos sexos. Ou seja, a maioria das pessoas não entendem como necessário conhecer uma pessoa mais intensamente antes de se envolver em uma relação sexual.

Isso muda um pouco quando perguntamos se as pessoas já tiveram relações sexuais com pessoas que conheceram em aplicativos. Esse dado chamou minha atenção, principalmente em tempos de extensa difusão de aplicativos que têm como intuito conectar pessoas para fins de relações (sexuais ou não). Nesse sentido, 49% dos que responderam afirmaram nunca terem feito sexo com alguém que conheceram nessas plataformas. Esse é um dado digno de alguma reflexão. Esses aplicativos impõem uma impessoalidade que ainda limita o sexo para muitos?

Uma minoria (39%) alegou já ter feito sexo com mais de uma pessoa, individualmente, em um mesmo dia. Esse número, apesar de minoritário, não é pequeno, hemos de concordar. Quase dois quintos dos que responderam alegaram já ter transado com duas pessoas diferentes em um mesmo dia.

Cabe, ainda, ressaltar o número bastante elevado de pessoas que já transaram com amigos. 66% disseram já terem o feito, e isso demonstra que muitos consideram que os laços de amizade podem, eventualmente, envolver laços sexuais. Investigações mais profundas poderiam nos dizer os efeitos dessa relação sexual na amizade entre as pessoas. Foi possível manter? Culminou em um relacionamento mais sério? Foi prejudicada? Pessoas deixaram de ser amigas por decorrência de uma relação sexual? Todas essas questões se apresentam como relevantes, e podem ser objeto de investigações futuras.

É possível alguém ter uma relação sexual com pessoa do mesmo sexo e não ser gay, lésbica ou bissexual? Para 3% dos que responderam às enquetes sim. Digo isso pelo fato de 69% deles terem afirmado serem heterossexuais enquanto 66% alegaram nunca terem feito sexo com pessoas do mesmo sexo. Colocando da forma inversa: 31% são gays, lésbicas ou bissexuais enquanto 34% disseram já terem transado com pessoa do mesmo sexo.

Sabendo que a enquete tem baixo valor estatístico, procurei olhar a lista dos que votaram em ambas as enquetes. O número foi o mesmo (131) e a composição de quem respondeu também. Logo, temos que há um número de pessoas que já transaram com alguém do mesmo sexo e, ainda assim, consideram-se heterossexuais.

Eu creio ser possível, mas deixo para os leitores formarem juízo acerca desse dado.

Agora é que a coisa começa a esquentar! Disse no último texto que tenho uma convicção de que todas as pessoas têm algum tipo de fetiche. Alguns mais confessáveis que outros, mas ainda assim os desejos se apresentam frequentes. Nos deparamos com isso quando analisamos que tipo de material pornográfico as pessoas acessam. Vimos naquele texto que a maioria das pessoas (52%) afirmou que, ao buscar pornografia, o faz buscando algo específico (um fetiche).

O que veremos agora é de que forma alguns desses fetiches se manifestam nas práticas sexuais das pessoas.

A maioria afirmou já ter transado em locais menos convencionais. 82% já fizeram sexo em carros, 65% já transaram em motéis e 70% afirmaram já ter transado em um local público. Devo dizer que creio que isso tenha a ver principalmente com o caráter mais jovem do público que respondeu às enquetes. Pessoas jovens na maioria das vezes moram com seus pais, o que pode inviabilizar um pouco as coisas e forçar com as relações sexuais se deem fora de casa, o que pode explicar a ida a um motel. Isso, todavia, não explicaria tudo. O número elevado dos que já transaram em um local público nos mostra que o fetiche parece existir em um número razoável de pessoas.

Transar em locais públicos está, muitas vezes, também associado a um famoso fetiche das pessoas: ser assistido. O montante de pessoas que afirmaram já terem feito sexo enquanto alguém assistia ficou em 24%. A grande maioria disse nunca ter sido assistida.

Isso nos leva ao voyeurismo, um antigo fetiche de muitos. 31% já assistiram pessoas fazendo sexo, e quase metade (47%) gostariam de assistir.

Diante desses dados, cabe analisar o número de pessoas envolvidas na prática sexual. Ménage à trois, swing e orgias parecem, para muitos, algo digno apenas de filmes pornográficos e razoavelmente distante da realidade cotidiana. No entanto, obtivemos alguns número peculiares nesse sentido. Principalmente no que concerne os que já fizeram e os que gostariam de fazer.

Vamos tratar, primeiramente, do ménage. 38% dos entrevistados disseram já ter participado de um sexo á três. Desses, 17% disseram já ter participado em ocasião em que apenas uma das três pessoas era de sexo oposto, enquanto 21% já o fizeram quando ambas as pessoas eram do sexo oposto. 40% disseram que participariam de um ménage do primeiro tipo, enquanto 64% disseram que participariam do segundo. Essa diferença pode ter a ver com o fetiche masculino de transar com duas mulheres ao mesmo tempo. O fato de mais homens terem respondido às enquetes provavelmente traz peso para essa questão.

Isso fica mais claro quando os homens heterossexuais são questionados se, juntamente com um amigo, transariam com uma mulher. Colocando de forma mais coloquial, se transaria com uma mina junto com um brother. A maioria (54%) disse que sim.

Quando as mulheres foram questionadas sobre se fariam, junto com uma amiga, sexo com um homem, esse número caiu para 43%. Ou seja, a maioria das mulheres heterossexuais que responderam às enquetes não estão dispostas a esse tipo de ménage.

O sexo à três é com certeza a modalidade mais famosa e talvez mais sonhada da maioria das pessoas (pelo menos da maioria dos homens), mas não é a única que envolve um número maior de pessoas envolvidas na relação sexual. Esse é o caso do Swing e o do sexo em grupo (orgia, suruba ou como queiram chamar).

No caso do Swing (troca de casais) o número dos que já fizeram foi baixo. 8% disseram já terem praticado. No entanto, 30% disseram que o fariam.

O surpreendente, pelo menos para mim, foi que o número de pessoas que já participaram de sexo em grupo ficou acima dos que já praticaram Swing. 17% já participaram de algum tipo de sexo em grupo, e o número dos que participariam também é maior (44%) do que os que topariam um Swing (30%).

E o que falar daquelas coisas do 50 Tons de Cinza? Pois é, o BDSM (sadomasoquismo) também é um dos fetiches mais antigos e conhecidos do mundo, sem nenhuma dúvida popularizado pelos livros e filmes da saga “50 tons…”. Nesse sentido, 30% afirmaram já terem praticado algum tipo de BDSM, o que mostra que o fetiche não está morto.

O último dado desse segmento merece um alerta: a maioria (54%) afirmou que nem sempre usa camisinha no sexo. Isso obviamente está trazendo quem está em um relacionamento sério, quem aposta em outros tipos de métodos contraceptivos e por aí vai. Isso não deixa de exigir uma atenção especial.

O número de jovens no Brasil que utiliza camisinha vem caindo. E não é de surpreender que os casos de DSTs como a Aids e a sífilis aumentaram nos últimos anos, conforme nos mostra reportagem de VEJA. Em 2012 o número de adolescentes que disseram usar camisinha era de 75%. Em 2015 esse número caiu para 66%.

Não é possível discutir sexo sem falar dos conceitos morais que o envolvem. Nesse sentido, duas perguntas considero bastante pertinentes. A primeira, se as pessoas acreditam que uma pessoa pode ser julgada por seus hábitos sexuais. No que tange essa questão, 24% disseram que esse julgamento é possível. Isso mostra que os que responderam às enquetes se abstêm de formular juízos sobre as pessoas tomando como base seus hábitos sexuais.

Outra questão importante é se as pessoas consideram o sexo antes do casamento algo errado. Isso se relaciona, em grande parte, com códigos morais de cunho religioso que relacionam o sexo ao casamento. 15% disseram que consideram o sexo antes do casamento algo errado. Lá atrás eu disse que a pergunta sobre as pessoas já terem ou não feito sexo seria relevante mais para frente. E é! 6% disseram nunca ter feito sexo e 15% consideram o sexo antes do casamento algo errado. Isso nos dá um número de 9% de entrevistados que já fizeram sexo e ao mesmo tempo consideram o sexo antes do casamento algo errado. Ou seja: um número maior de pessoas que já fez sexo considera o sexo pré-matrimônio errado (9%) do que o número de pessoas que não fizeram sexo (6%).

Comentários finais

Essa foi uma pequena investigação que se apresenta como desdobramento de investigações prévias. Nesse texto busquei entender os hábitos sexuais dos meus seguidores no Instagram, a quem agradeço imensamente pela grande colaboração.

A abertura das pessoas para tratar do assunto e contribuir para que eu possa formular esses textos é muito bem vinda, e mostra que o sexo está perdendo grande parte do seu tabu.

Para os interessados em participar das próximas enquetes, eis o link do meu Instagram.

No mais, fiquem de olho para o próximo texto, que abordará os hábitos de masturbação das pessoas.

Matheus Leone é cientista político e editor da Vinte&Um

--

--

Matheus Leone
Vinte&Um

Brasília | Cientista Político | 🏳️‍🌈