Tranquility Base Hotel + Casino: O epílogo da popularidade do Arctic Monkeys?

Caio Túlio Ortiga
Vinte&Um
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4 min readMay 14, 2018
Foto: MOJO Magazine n° 295

Por Caio Túlio Ortiga, Luis Felipe e Gustavo Santo*

A banda britânica Arctic Monkeys lançou, na última sexta-feira, 11/05, “Tranquility Base Hotel + Casino”, um dos álbuns mais aguardados de 2018, encerrando um hiato de cinco anos desde o lançamento do álbum com maior notoriedade e alcance da banda, o “AM”. De certa forma, o até então último álbum os consolidou como uma das maiores bandas do cenário indie rock atual, mas o sucesso do Arctic Monkeys não é recente. Desde seu primeiro álbum, os garotos de meia idade de Sheffield vêm acumulando fãs e emplacando excelentes trabalhos. Mas como reagir à nova obra de uma das bandas mais influentes da atualidade?

Antes de falar do álbum, precisamos falar de Alex Turner. A maior dúvida dos fãs, que acompanham a banda desde seus primórdios, tratava-se de qual estilo o compositor, vocalista e guitarrista desenvolveria neste novo projeto. É válido destacar que uma das características marcantes do frontman sempre foi ser um verdadeiro camaleão em seus projetos com o Arctic Monkeys e com o The Last Shadow Puppets, seu duo com Miles Kane, mudando sempre o estilo de um projeto para o outro, como um mestre. Alex Turner, suas letras, estilo e atitude traduzem o momento em que a banda está. Sempre foi assim e agora não foi diferente.

“Tranquility Base Hotel + Casino” é um álbum mais de Alex Turner do que propriamente da banda. Ele traduz e cria seu próprio universo em um álbum, que teve como novidade o processo criativo partindo do piano em vez da guitarra, trazendo uma atmosfera distinta, se compararmos com os últimos projetos da banda. Um destaque neste disco são as linhas de baixo impecáveis de Nick O’Malley, que se sobressaem durante todas as músicas. Outro aspecto para se pontuar são os poucos riffs verdadeiramente cativantes e um Jamie Cook imperceptível, como de costume.

O álbum segue uma linha constante e regular em suas 11 faixas, mas vale destacar Batphone”, Tranquility Base Hotel + Casino” e Four Out Of Five” como o clímax desta nova peça no quebra cabeças em construção que é a carreira do Arctic Monkeys. Outras faixas, como “She Looks Like Fun” e “Science Fiction”, ainda que em sintonia com a nova sonoridade do álbum, possuem letras não tão complexas como as demais faixas, estruturas que se repetem e a presença mais intensa da guitarra e baixo, que remete ao Arctic Monkeys da época de “Humbug” e “Suck It and See”. São as únicas faixas em que a bateria também se torna mais perceptível, com viradas e fills bem colocados e executados por Helders.

A faixa final, “The Ultracheese” é um pouco mais familiar àqueles que conhecem Alex Turner. Pode ser classificada enquanto uma balada, pois é leve e gentil aos ouvidos. Embora seja executada no piano, não perde o tom e pegada característicos do Alex que encontramos em sua fase solo, “Submarine”, e em The Last Shadow Puppets. Infelizmente, o álbum não tem só acertos. Faixas como “American Sports” e “The World’s First Ever Monster Truck Front Flip”, apesar de serem bem produzidas e em consonância com o estilo do álbum, não são tão marcantes quanto as demais.

Não seria exagero enxergar “Tranquility Base Hotel + Casino” como uma obra conceitual. Por dois motivos: por abordar temas como religião, adventos tecnológicos, ficção científica e referências culturais, que são recorrentes por todos os 40 minutos; e por criar um mundo quase palpável ao imaginário apenas a partir do som. Não é um álbum palatável de primeira e nem é para qualquer ouvinte. Trata-se de um divisor de águas para banda e para os fãs. Não traga saudosismo dos últimos hits e nem espere músicas de baladas indie. É uma trilha sonora para uma jornada de ida e volta para Marte. Muitos teclados e sintetizadores, poucos solos de guitarra e quase nenhum backing vocal memorável, marca registrada do baterista Matt Helders. Uma experiência que recompensa quem é persistente e interessado o suficiente para apreciar uma nova etapa da banda. No fim das contas, Alex mostra mais uma vez o porquê de ser um dos grandes nomes de sua geração, pois não se acomoda. Explora sempre novas melodias e musicalidades, sem repetir tendências, mostrando toda sua versatilidade e talento que esperamos de um músico do seu nível.

*Caio Túlio Ortiga é Cientista Político e baterista. Gustavo Santo é Administrador, estudante de música e guitarrista. Luis Felipe Borges é estudante de cinema, cantor e filho do seu carlos.

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