arte: Leco Rezende

FUMAÇA

Editora Prezinha
VINTE

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Gabriela Reis

acho que nunca fumei tanto quanto nessa quarentena.

ficar muito tempo em casa às vezes faz com que a gente precise ocupar o vazio com alguma coisa. no meu caso, foi com a fumaça. mas não é de hoje que eu uso a nicotina pra preencher um vazio que fica em constância no meu peito. acho que faz mais tempo. eu só achei um jeito de deixar isso mais… poético. e talvez, até triste.

às vezes, eu queria parar de fumar. queria parar de segurar o cigarro com a mão direita e me sujar com as cinzas quando me empolgo com algo e esqueço de bater o cigarro no cinzeiro. acontece muito. mas às vezes me pergunto, o que pode aquecer o meu pulmão e o meu coração sem ser o cigarro?

ok, tenho que admitir, fumar faz bem pra mim. é como me entorpecer e esquecer um pouco dos problemas por alguns minutos. poucos, eu diria.

são vinte cigarros no maço para mil problemas. talvez seja uma fração inteligente. mas eu nunca fui tão boa em matemática, não posso afirmar com convicção que seja isso mesmo.

mas na minha cabeça faz sentido, mesmo que não pareça para o resto do mundo, ou pra você, que está lendo mais essas linhas tortas do que escrevo aqui.

talvez a gente saia dessa quarentena viciado em muitas coisas. ou sem vícios em muitas outras. talvez seja mais fácil lidar com os problemas assim. com as pressões, com as crises.

enquanto alguns desejam sair dessa melhores, eu só desejo sair viva.

espero que eu consiga.

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Editora Prezinha
VINTE

Editora de zines focada em projetos coletivos e experimentação gráfica fazendo a preza pelas amizades que querem publicar