A busca pelo avesso do avesso

Juliana Barreto Tavares
Virada Política
Published in
2 min readApr 25, 2017

São Paulo é uma cidade tão grande que parece não ter fronteiras, seus limites apenas tendem ao infinito. Em um de seus extremos, quando finalmente a curva parece encontrar a reta e o eixo do carro periga avisar que o trajeto já foi muito longo, encontra-se Parelheiros.

Pois, lá nesse bairro, que já teve os índices de vulnerabilidade social mais altos da cidade, existe um projeto que, como ele mesmo advoga, procura resgatar o poder do poético e do imaginário.

A fantasia contida em livros enche de vida a an tiga casa do coveiro. Ao lado do cemitério, é possível respirar vida. Vida que pulsa em uma cidade que, mesmo intensa em toda sua essência, nega seus extremos.

Foi nesse clima de inspiração e vontade de mudança que a Virada Política foi parar lá em um Sábado ensolarado de feriado. Em um dia que parecia ter nascido para ser cinza, fez-se Sol, também na rotina e na tentativa de fuga do óbvio.

O que um grupo de inconformistas e inconformados fazia do outro lado da cidade em um esforço coletivo para o diálogo? Se o objetivo da Virada Política é de virar pelo avesso a noção de política, é no diálogo que esses pontos opostos pelo vértice se encontram?

Bel Santos conta como um Cemitério virou biblioteca aberta, a pedido dos jovens de uma das comunidades mais marginalizadas de São Paulo.

Na fuga do lugar comum, o encontro aconteceu em um espaço mais que incomum: a antiga casa do coveiro (que hoje é biblioteca e nunca esteve tão cheia de vida). Foi preciso ir lá nos cantos de uma cidade com fronteiras fluidas, para encontrar inspirações que fazem frente à atuação quadrada de um centro não tão esférico, como se pretende ser.

Na Biblioteca Caminhos da Leitura, falou-se dos livros e das palavras que transformam e transmutam, do poder da metáfora que enche de cores uma cidade cinza. Mas, acima de tudo de ouviu-se histórias de protagonismos e do direito à palavra, como um mecanismo de pertencimento.

Vulnerabilidade social é só um conceito. Pessoas são mais que dados, elas são acumulados de histórias, vivências e impressões.

Uma biblioteca na casa de um coveiro nos ensinou o que mentes sonhadoras sempre se esforçam por acreditar. A literatura pode dizer mais que a estatística, a arte da vida que extrapola os números.

Como virar o que já está no avesso? Procurando o avesso dele, talvez?

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