Alunos que não dão a mínima e o poder das exceções

Nayara Peneda Tozei
virei professora… e agora?
2 min readNov 15, 2018

“Os alunos não leem nada, não fazem os exercícios propostos e não estudam”.

Essa reclamação é bastante comum. Muitos alunos não se interessam de fato pela formação que estão recebendo. Quanto menos conteúdo você passar, quanto menos exigente você for, quanto mais parecidas forem suas provas e suas listas, melhor! Eles pedem listas de exercícios, mas só fazem na véspera da prova. Pedem aulas para tirar dúvidas, mas não comparecem. Pedem monitoria, mas não frequentam as monitorias. Reclamam da ausência de livros na biblioteca, mas não estudam por livros alternativos, nem pelas notas de aula disponibilizadas. Só cumprem atividades quando são chantageados por nota. Chegam às aulas com atraso, saem mais cedo, ficam conversando ou usando o celular. Faltam às aulas para estudar para as provas de outras disciplinas ou porque foram a alguma festa na véspera e não conseguiram acordar. Eles querem o diploma e o professor, com sua disciplina e suas exigências, representa uma barreira a ser vencida com o menor esforço possível.

Ter essa sensação, de ser uma barreira, é frustrante. Para onde foi a ideia de professor como facilitador de conhecimento? É claro que os alunos não precisam e não vão considerar o tempo que você leva para preparar cada atividade. Pouco importa se você gastou 6h preparando aquela aula, ou 4h organizando e digitando exercícios e gabaritos. Mas como tempo é um recurso escasso, a frustração reduz a motivação para continuar. No ambiente acadêmico do ensino superior, você é mais valorizado pelas pesquisas que produz do que pelos alunos que forma, tornando difícil se dedicar às aulas se você precisa constantemente criar esquemas para os alunos corresponderem (sugestões aqui , aqui, aqui, aqui e aqui). Precisamos nos agarrar às exceções, pois elas nos motivam inclusive a tentar tirar os alunos desinteressados da apatia.

Em relação à leitura, talvez seja mais fácil aceitar que os alunos não vão ler a maior parte do que indicarmos mesmo. Muitos professores também não leem nada além do nicho específico de suas disciplinas e os exemplos que a gente dá importam. Quando eu estava na graduação, muitos professores indicavam livros além dos didáticos. Muitos excertos usados nas disciplinas me chamaram a atenção e eu tive vontade de ler um dia. Depois de formada, fui aos poucos comprando e lendo esses livros extras, e trocando xerox por livro. Parte da minha estante de economia e áreas afins foi moldada pelas indicações laterais que recebi dos professores.

Minha esperança é que, um dia, alguns livros que eu indico em sala ocupem também as prateleiras de alguns alunos. Que eles sejam lidos e estudados, não porque é necessário para vencer uma barreira até o diploma, mas porque houve interesse genuíno pelo assunto. Sem pressa, sem nota. Por gosto e curiosidade.

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