Clickers, flipped learning e testes no Google Formulário

Nayara Peneda Tozei
virei professora… e agora?
6 min readApr 28, 2017

Em cursos online, como aqueles oferecidos no Coursera, as aulas (em vídeos curtos) são geralmente interrompidas em algum ponto por alguma pergunta a ser respondida pelo aluno. Logo após a resposta, o aluno recebe um feedback, com a resposta correta e algum texto explicativo. Essas perguntas são bastante interessantes, pois permitem que o aluno avalie se está entendendo o conteúdo até aquele ponto ou não. Assim, ele pode revisar algum ponto que não ficou claro até ali ou ter certeza de que realmente entendeu o tópico.

O equivalente, em aulas presenciais, seriam os chamados clickers. O procedimento é simples: durante as aulas, são feitas perguntas que os alunos respondem (com seus smartphones, por exemplo) e recebem respostas imediatas. As vantagens são inúmeras. Os alunos percebem se estão entendendo. O professor consegue ver o entendimento geral da turma, ao ver a distribuição das respostas (todos os alunos respondem e não apenas os mais participativos). Surge a oportunidade de corrigir qualquer dificuldade imediatamente. Enfim, associando a outras práticas pedagógicas, parece uma ótima ferramente para auxiliar o ensino. A proposta é ótima, mas fica difícil implantar se nem todos os alunos tiverem como baixar o aplicativo para usar em sala.

Se quiser uma sugestão de como fazer isso, a Roseli Silva usa a ferramenta Socrative.

Há um movimento (?) entre alguns professores, especialmente de cursos de exatas, para adotar o chamado flipped learning ou inverted classroom. Tipicamente, os alunos se reunem em salas de aula, para ver o conteúdo sendo exposto e explicado por algum professor. Os alunos tomam notas e, fora da sala de aula, praticam os assuntos em listas de exercícios, projetos e outras atividades.

Com o flipped learning, ocorre uma inversão. Os alunos vêem os conteúdos por meio de vídeo-aulas previamente gravados pelos professores. Assim, alunos podem assistir aos vídeos antes e a sala de aula dá lugar às atividades práticas. Isso tem suas vantagens. Os alunos podem pausar os vídeos quando encontrarem alguma dificuldade, refletir sobre a matéria em seu próprio ritmo, rever as aulas quantas vezes quiserem, etc. E terão um tempo dedicado a resolver os exercícios, com possibilidade de tirar dúvidas imediatamente com os professores. Algo que seria muito difícil de outra forma, por disponibilidade de tempo. Além disso, incentiva-se muito que os alunos se ajudem, um explicando para o outro.

As salas de aula invertidas permitem que dúvidas de raciocínio sejam sanadas imediatamente e de modo individualizado. Naturalmente, uma grande dificuldade de implementação é ter a infraestrutura e o tempo adequados para planejar e gravar as aulas. Entre outras críticas que já vi está também a possibilidade de que os alunos fiquem muito dependentes dos vídeos, deixando de ler os livros indicados.

Nos últimos anos, tenho visto também alguns professores falarem sobre o aprendizado auto-regulado. A ideia é que os alunos tomem as rédeas do próprio estudo, tendo mais autonomia para planejar suas atividades e monitorar o próprio aprendizado. Sei pouco sobre como implantar isso, mas a ideia em si me parece razoável.

Como professora, desejo que meus alunos aprendam o conteúdo e tenho minhas ideias de qual seria a melhor forma de fazê-lo. Entretanto, cada aluno estuda de uma forma e tem suas preferências em relação à alocação de tempo, tanto entre disciplinas como entre as atividades de uma disciplina específica. É perfeitamente razoável que o aluno não goste muito da minha matéria (que ele é obrigado a cursar para obter o diploma) e prefira dedicar seu tempo a outra. Também é possível que uns prefiram ler/estudar a matéria antes da aula, enquanto outros prefiram ler/estudar depois de ter visto minha explicação.

Nesse sentido, eu sempre fico em dúvida quanto à melhor forma de abordar as listas de exercícios. As disciplinas que leciono dificilmente são aprendidas se o aluno não aplicar o conteúdo de forma ativa. Posso passar listas com muitos exercícios, para o aluno avançar progressivamente, entender melhor a matéria e aumentar as chances de uma boa nota nas avaliações. Ou posso fazer listas curtas, com poucos exercícios, um de cada tópico principal.

Devo pedir que as listas sejam entregues? Devo pontuar as listas simplesmente porque os alunos a entregaram? O risco é que os alunos copiem as listas uns dos outros apenas para entregar e ganhar nota, sem refletir sobre o que fizeram. Devo corrigi-las? Corrigir todas as listas demandaria muito tempo e seria impraticável. Devo selecionar alguns exercícios aleatoriamente para corrigir, apenas para ter certeza de que alunos entenderam e não copiaram uns dos outros? Se não pontuar as listas, devo ao menos definir que uma questão da prova será retirada delas, para incentivá-los a resolvê-las?

Vi no Twitter um professor que elaborou um relatório em que os alunos reportavam em quais exercícios trabalharam durante aquele período. E então os alunos poderiam mostrar o desenvolvimento de algum exercício em que ficaram com dúvida, ou algum que julgaram ter feito corretamente. Um assistente corrige esses exercícios e dá feedback sobre o processo de solução. É uma proposta interessante, mas ainda tomaria muito tempo (e não tenho um assistente).

Essas questões ainda não estão resolvidas, para mim. Mas acredito cada vez mais que o aluno deve ficar livre para escolher quais exercícios da lista resolver. Assim ele pode dedicar seu tempo aos exercícios que ainda não domina, por exemplo. A correção e avaliação desse processo ainda é uma incógnita. Talvez a melhor saída seja não pontuar essas listas.

Existem ferramentas online que permitem a construção de exercícios corrigidos automaticamente e com mensagens de feedback após a correção. Estou testando, neste semestre, o Google Formulários, que tem uma opção “criar teste”. Com os formulários, também consigo implantar algumas ideias que comentei acima.

Estou chamando os questionários de Relatório. Toda segunda-feira há um relatório novo e os alunos têm até a terça-feira da semana seguinte para me responder. Em cada relatório, coloquei algumas perguntas abertas sobre “o que eles leram” e “quais exercícios resolveram”. Em seguida, perguntei o que os levou a selecionar aqueles textos ou aqueles exercícios, com algumas opções de resposta e uma opção “outro” para eles completarem se preferirem. Como eles responderão isso toda semana, poderão acompanhar o próprio processo de estudo.

Além dessas questões de progresso, incluirei de uma a três perguntas sobre o conteúdo. Não quero que sejam perguntas complexas e que demandem muito tempo para serem respondidas. Elas serão bastante relacionadas à matéria vista naquela semana ou na próxima e devem ser feitas de forma a incentivar os alunos a lerem a matéria. Estou adaptando a ideia do “clicker” numa versão pós-aula.

O Google Formulários me dá algumas opções de perguntas: com respostas curtas, respostas longas, respostas numéricas e múltipla escolha, por exemplo. Para as numéricas e de múltipla escolha eu posso fazer um gabarito e escrever uma resposta padrão de feedback caso o aluno acerte e caso o aluno erre. Posso escolher se o aluno verá a correção assim que entregar o relatório ou depois que eu revisar as respostas. Essa última opção é bastante interessante, em parte por impedir a “cola” entre os alunos e em parte por me permitir inserir feedbacks individuais. No formato testes, eu posso inserir comentários individualizados em cada resposta que o aluno der e, ao liberar o gabarito, os alunos recebem um email com a nota da atividade e acesso a essas mensagens de feedback. Dá um pouco mais de trabalho do que adotar o feedback padrão, naturalmente, porque preciso ir de questionário a questionário: escrever o feedback, salvar e passar para o próximo.

Mas essa foi a alternativa mais rápida e de fácil aplicação que encontrei, no momento, para verificar se os alunos estão entendendo o conteúdo e, ao mesmo tempo, estimulá-los a estudar aos poucos. Eu revisarei os relatórios respondidos a cada semana, assim espero detectar algum problema de entendimento comum entre os alunos a tempo de retomar o assunto na aula seguinte, para tornar mais claro.

Se tiver outras sugestões sobre uso de tecnologia para facilitar o aprendizado ou qualquer comentário ou correção sobre algo que falei acima, me escreva!

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